Redação AI (15/05/06)- Os criadores de aves quebram um recorde atrás do outro no Brasil. O tempo que um frango precisa para chegar à panela foi reduzido pela metade. Em 35 dias, pintinhos transformam-se em aves com coxas e peitos reforçados, a ponto de seus ossos, ainda frágeis, mal suportarem tanto peso. Para isso, tudo precisa ser controlado, até dentro da casca do ovo. Essa preocupação dá uma nova vantagem ao maior exportador de aves do mundo, que vendeu 2,8 milhões de toneladas em 2005: a segurança contra a gripe aviária.
O vírus da gripe aviária tem poucas chances de entrar nos aviários, afirma a zootecnista Maria Marta Loddi, pesquisadora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O risco de os animais criados para abate entrarem em contato com aves migratórias é praticamente nulo, avalia. Até mesmo as pessoas que trabalham nas granjas têm pouco ou nenhum contato com os animais.
O controle sobre o crescimento do frango, a ave mais consumida no Brasil, começa antes de o bicho bicar a casca. Substâncias inseridas no ovo com agulhas podem, por exemplo, ampliar sua capacidade de absorção dos alimentos, conta Marta, que se dedica a pesquisas nessa área. Os resultados aparecem já no primeiro dia de vida do pintinho, conta a pesquisadora.
Segundo ela, é possível imunizar os frangos contra a gripe aviária ainda dentro da casca. Hoje, no entanto, não é permitida a aplicação de vacinas no Brasil, uma vez que a doença ainda não foi detectada no país. Por outro lado, as vacinas em teste podem não ser eficientes para animais expostos ao contágio, como aves aquáticas que mantêm contato com espécies migratórias.
A segurança dos criadores de carne de aves em relação à gripe aviária permite que as pesquisas sigam outra direção. Segundo Marta, as pesquisas genéticas ganham maior atenção, uma vez que podem solucionar problemas como a fragilidade dos ossos dos frangos pela aceleração do crescimento. Ela diz ter verificado essa tendência no 22. Simpósio da Indústria da Alimentação realizado nos Estados Unidos há duas semanas.
Os consumidores, no entanto, não fazem essa distinção. A queda no consumo de carne de aves reduziu em 85% o lucro da Perdigão no primeiro trimestre desse ano (de R$ 71 milhões para R$ 10 milhões), conforme relatório divulgado pela empresa sexta-feira. Sua principal concorrente, a Sadia, teve queda de 33% nos lucros no mesmo período. O rendimento caiu para R$ 67 milhões em relação ao primeiro trimestre do ano passado.