Na loja de produtos populares Tic-Tac em Santa Cecília, centro da capital paulista, elas estão penduradas próximo ao caixa, sem proteção, dividindo espaço com canetas, espelhos, cachecóis e porta-batons. As máscaras cirúrgicas, feitas de um material branco chamado “não-tecido”, semelhante ao usado em absorventes higiênicos, passariam despercebidas se não fosse o cartaz em letras garrafais, dentro do estabelecimento: “Temos máscara para gripe suína”. Embora esteja longe de ser o item mais vendido (uma ou duas unidades ao dia desde quinta-feira, 16, quando começou a ser oferecida), a presença da máscara em um ambiente inusitado serve como termômetro do poder da influenza A sobre as vendas quando se busca prevenção.
O maior sintoma provocado pelo medo da gripe A (H1N1) é a procura por gel antisséptico para as mãos, produto em falta em muitas farmácias de São Paulo. “O que chega vende imediatamente”, diz Carlos Marques, superintendente comercial da Drogaria Onofre, dona de 34 lojas no país. Alguns pontos de venda, segundo ele, ficam sem o gel por um ou dois dias porque não há estoque – os próprios fabricantes têm dificuldades de suprir a demanda. “Antes da gripe, vendíamos no máximo 400 unidades ao mês. Em julho vamos superar 3 mil unidades na rede”, diz Marques. Os pequenos frascos, em geral com 60 ml, servem como opção prática à dupla água e sabão para lavar as mãos, hábito exaustivamente recomendado pelo Ministério da Saúde como medida preventiva.
Ponto para a Bulle de Savon, fabricante da marca Doctor Clean, que afirma ter inaugurado a categoria de gel antisséptico no país em 1995. “Começamos oferecendo o produto à classe médica, em especial aos dentistas, e só em 2001 conseguimos abrir espaço nas farmácias”, diz a diretora da Bulle de Savon, Fabiana Tichauer, que também é a engenheira química responsável pelo produto. “A gripe está dando um impulso fantástico para o desenvolvimento da cultura do uso do gel no Brasil, onde isso não era comum”, diz ela, que trouxe a ideia dos Estados Unidos. O plano é dobrar a produção do gel até o fim de agosto. Hoje, está próxima do limite, de 15 mil unidades/dia. Enquanto a expansão não estiver concluída, a empresa estuda terceirizar parte da produção.
O gel antisséptico Nexcare, da americana 3M, também está com vendas em ascensão: alta de 266% no segundo trimestre do ano, sobre o mesmo período de 2008. “Vamos triplicar a venda do gel este ano, em comparação ao ano passado”, diz Paula Abreu, gerente de marketing e vendas da divisão de cuidados pessoais da 3M. O produto significava 13% das vendas da divisão há um ano, e hoje representa 28%. A executiva confirma que está difícil atender a demanda do varejo. “Também começaram a surgir pedidos de alta quantidade, como o de uma multinacional que queria o equivalente a três meses de produção do gel para abastecer suas filiais na América Latina”, diz.
Na próxima segunda, a 3M inaugura uma linha de produção de máscaras que a empresa chama de “respiradores”, capazes de oferecer uma proteção maior que as máscaras comuns e também com preço superior (R$ 4,50 contra R$ 1,50). Com investimentos de US$ 1,1 milhão para dobrar a atual produção, e trabalhando em três turnos na fábrica de Itapetininga (SP), a empresa visa atender não só a demanda do Brasil, mas de outros países da América Latina. “Desde abril, desenvolvemos uma embalagem especial do respirador hospitalar para o varejo”, diz Renato Alahmar, diretor de negócios de saúde ocupacional da 3M.
A Onofre começou a oferecer caixas com 50 máscaras cirúrgicas em maio e hoje a venda está em torno de 600 caixas por mês. Na rede Panvel, dona de 240 farmácias no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a venda de máscaras quintuplicou nos últimos meses, para 20 mil unidades por mês. O mesmo salto foi visto no gel antisséptico, cuja venda média mensal está em 15 mil unidades. “A maior procura está em cidades do interior gaúcho e nas regiões que fazem fronteira com outros países, onde é maior a preocupação com o contágio da gripe”, diz Luiz Antônio D’Amado dos Santos, diretor da Panvel.