Após o fechamento de quatro dos principais frigoríficos de São Luís (MA), o abastecimento de carne nos mercados e açougues da capital continua comprometido. Quatro dias após a interdição no Distrito Industrial, realizada pelo Ministério Público Estadual e pela Secretaria Municipal de Agricultura Pesca e Abastecimento (Semapa), os proprietários dos abatedouros que estavam sem condições sanitárias de funcionamento, entre outros problemas, começaram a se readequar à legislação e podem ter os estabelecimentos totalmente liberados para o abate de bovinos, bubalinos e suínos ainda hoje, 19.
De acordo com o secretário da Semapa, Júlio França, o fechamento dos abatedouros não foi por questões documentais, uma vez que a Prefeitura protelou prazos e baixou portarias para que eles pudessem se readequar a legislação. Ele explicou que estava na hora de fazer valer a lei, pois o consumidor e o feirante não podem ser lesados no final de todo o processo. “Não estamos falando de pequenos empresários, mas de ‘grandes’ comerciantes que são responsáveis por 60% do abastecimento de carne da capital e tínhamos consciência que após aplicar essas medidas poderíamos sofrer com a falta do produto. A Agrolusa trabalha com carne suína e já foi totalmente liberada para exercer as suas atividades. O Frigo Souza e o D. A. Vital, que trabalham com carne bovina, foram liberados parcialmente apenas para realizar o abate, mas o JB Frigorífico ainda estava em processo de inspeção, a fim de obter também sua liberação”, declarou.
Segundo Júlio França, a Secretaria trabalhou no intuito de mostrar que a inspeção deve ser vista como um serviço essencial, já que o consumidor precisa ter a certeza de que a carne que está levando para casa se encontra pronta para o consumo e sem majoração de preço. O secretário explicou que há aproximadamente 15 dias o resfriamento adequado das carnes, que precisavam sair dos frigoríficos com uma temperatura máxima de 7º C, como determina lei federal nº 8.078, de setembro de 1990, já estavam sendo transportados em caminhões frigoríficos adequados. “60% do abastecimento de São Luís são oriundos destes quatro frigoríficos. Atualmente, existem 16 matadouros funcionando clandestinamente na capital, que abastecem 10% da cidade, e os outros 30% da carne vem de fora de São Luís”, disse.
Boxes fechados fazem parte do cenário das feiras e mercados de São Luís devido à falta de carne
Açougueiros, feirantes e consumidores reclamam não só da falta de carne bovina e suína nos mercados e feiras, mas dos preços elevados que começam a ser exibidos em algumas prateleiras. O açougueiro Paulo César Gomes, 45 anos, que trabalha na feira do João Paulo, afirmou que tem comprado carne na Fribal e na Frisama, mas que estes frigoríficos estão selecionando a parte do boi que pode ser vendida e com o acréscimo de mais de R$ 1 em cada quilo. “Hoje no meu boxe só tinha posta gorda, que antes vendia a R$ 8 e hoje tive que vender por R$ 9, além do acém que antes era R$ 6,50 e agora estou repassando a R$ 7,50. Quando as vendas caem, todo mundo perde, pois o consumidor não vai vir aqui para levar apenas a verdura; ele já procura um lugar onde possa comprar tudo o que necessita”, alegou.
No Mercado Central, a situação não era diferente; boxes fechados e pouco movimento foram os cenários retratados. O açougueiro Davi Reis, que trabalha no local há mais de 20 anos, explicou que ontem só tinha carne suína, resumida em algumas partes do porco, pois até o animal inteiro estava difícil de comprar. Ele disse que os frigoríficos estavam fornecendo apenas carne de segunda e com o preço bem elevado, além de ‘regrar’ na venda. Pedaços como alcatra, filé, patinho e chã de dentro não estavam sendo fornecidos. A dona de casa Maria do Rosário Mendes lamentou a situação, uma vez que com a falta do alimento o preço tendia a subir, mas disse que apoiava a atitude da Semapa, que se mostra preocupada com o alimento que vai para a mesa do consumidor.
Já a comerciante Rosa Martins disse que achou tardia a ação da Secretaria, e que muitas pessoas podem ter adoecido por estarem consumindo carne imprópria. Ela explicou que o consumidor não tem mais em quem confiar e que já não sabe mais o que comer, pois se não bastassem as verduras e legumes com agrotóxicos, tinha a água que era de péssima qualidade e agora a carne que não tinha condições sanitárias de ser abatida, muito menos comercializada.