Da Redação 16/12/2002 – A alta dos preços do milho e do farelo de soja e a desvalorização do real este ano precipitaram um ajuste nos setores de aves e suínos. O aumento dos custos de produção agravou a situação de indústrias que já vinham em dificuldade e começa a gerar mudanças que apontam para uma maior concentração nas empresas e também na produção.
Um exemplo é a Minuano Alimentos, que pediu concordata no mês passado, e fechou sua unidade de Passo Fundo (RS). Com o fechamento do frigorífico, a Doux Frangosul herdou 60 integrados de aves da Minuano.
Além disso, a empresa concordatária fez um acordo com a Avipal, pelo qual irá abater 120 mil aves por dia para a concorrente. Também vai fornecer pintos de um dia para a Avipal e arrendou sua fábrica de rações.O diretor-presidente da Doux Frangosul, José Augusto Lima de Sá, reconhece que ao absorver os integrados da Minuano, a empresa amplia sua participação no mercado. Para ele, o setor passa por uma “acomodação” devido ao aumento dos custos.
De acordo com o Cepea/USP, na região de Passo Fundo, a saca de milho subiu 110,04% desde o início do ano. No mesmo período, o real se desvalorizou 38,86%. A desvalorização cambial pressionou os custos, uma vez que vários insumos são dolarizados.
Para Nildemar Secches, presidente da Perdigão, a alta dos custos de produção só reforçou uma tendência que já existia no setor.
Os 86 ex-integrados da paulista Osato Alimentos, que pediu concordata no início do mês, também negociam contratos com outros abatedouros, de acordo com o diretor Fernando Cayuella. A empresa, a única de São Paulo a exportar para a União Européia, viu sua situação se agravar no segundo semestre de 2002. Além da alta dos insumos, a Osato sofreu também com a escassez de linhas de crédito, depois da saída do sócio japonês Ajinomoto há um ano. Sem recursos, a empresa teve de eliminar seu plantel de aves e reduziu o abate de 65 mil cabeças diárias para 20 mil. Também demitiu cerca de 430 funcionários.
Para o consultor, José Carlos Teixeira, se não houver uma política de preços compatíveis com os novos custos do setor, outras empresas terão dificuldades. “Antes era possível vender frango a preços baixos porque os custos eram menores”, justifica.
Na suinocultura, o efeito da alta dos custos se dá mais na etapa de produção. Pressionados pelos custos maiores, suinocultores integrados estão abrindo mão de maiores lucros e preferem se tornar “parceiros” das agroindústrias. A Aurora e o Frigorífico Pamplona, de Santa Catarina, que tradicionalmente trabalham com criadores de ciclo completo, estão verticalizando sua produção. Nos últimos dois meses, a Aurora elevou o percentual de parceiros de 12% para 50%, enquanto no Pamplona a alta foi de 30% para 60%. “Essa não é a vocação da cooperativa. Mas é necessário manter o suinocultor na atividade”, diz José Zeferino Pedrozo, presidente da Aurora.
Segundo Jacir Pamplona, diretor da área de suprimentos do Pamplona, ao ampliar a parceria, a empresa quer garantir o próprio abastecimento e evitar a falta de animais no futuro.
No sistema integrado, o produtor de ciclo completo engorda o animal por conta própria e vende à agroindústria. Já o parceiro recebe a ração do frigorífico. “Em épocas de boa lucratividade, o criador independente e o de ciclo completo ganham mais. Mas são os que mais perdem na crise”, diz Jonas dos Santos Filho, da Embrapa.