Redação SI 12/11/2003 – 06h00 – O agricultor Otaviano Pivetta é um dos maiores produtores brasileiros de soja e de algodão e agora caminha para se tornar também um gigante da suinocultura. “Estou realizando um sonho da minha juventude. Sou um sojicultor com coração de suinocultor”, diz Pivetta, que investiu R$ 15 milhões na construção de uma das mais modernas granjas de suínos do Brasil no município de Nova Mutum, a 300 quilômetros de Cuiabá.
Nova Mutum, ao lado de Diamantino e Lucas do Rio Verde, são considerados a capital da suinocultura no Brasil. “É uma área nova e certamente uma das que mais cresce na criação de suínos no País”, diz José Adão Braun, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS). A região é responsável por cerca de 65% da produção de suínos do estado, estimada em 907 mil cabeças em 2003.
Aproveitando o perfil agrícola da região, Pivetta – um dos maiores produtores brasileiros, que vai plantar em 2003/04 uma área de 75 mil hectares entre soja, milho e algodão – escolheu Nova Mutum para montar a Ideal Porc, uma granja de suínos com 6 mil matrizes importadas do Canadá e produção de 150 mil animais por ano. “A meta é chegar a 40 mil matrizes até 2008. Até lá, estaremos produzindo 1 milhão de suínos por ano para abate”, diz Pedro Roberto Tissiani, diretor da Ideal Porc.
A granja é considerada um dos mais modernos e bem acabados projetos de suinocultura do País. “É um empreendimento arrojado, diferenciado em relação aos já existentes”, diz Braun. No Brasil, a maioria das granjas é montada num único módulo, onde as matrizes que amamentam convivem próximas aos animais que vão para engorda. A proximidade aumenta os riscos de contaminação em caso de doença.
Na Ideal Porc, cada módulo (bercário, creche e seleção) é separado por distâncias que vão de 1,3 a 2,3 quilômetros. “As distâncias isolam as unidades. Assim, nem mesmo os vírus conseguem vencer o percurso pelo ar”, diz Tissiani.
O acesso às áreas é rigidamente controlado. Os funcionários não podem usar alianças de casamento e nem mesmo a roupa íntima com que chegam ao trabalho. “Os funcionários tomam banho nos vestiários para evitar a entrada de vírus ou bactérias que podem simplesmente dizimar um rebanho inteiro”, diz o diretor. “Eu, que sou o proprietário, só estive no berçário uma única vez, e só após passar por todos controles de biosseguridade”, diz Pivetta.
Toda a produção da granja é abatida numa espécie de de “mãe” das cooperativas, a Integração das Cooperativas do Médio Norte de Mato Grosso (Intercoop), com capacidade de abate de 1,3 mil animais por dia. Em julho deste ano, os 30 produtores de suínos associados – entre eles Pivetta – realizaram a primeira exportação de carne suína da região: 40 toneladas para Hong Cong. Hoje as exportação são de cerca de 150 toneladas mensais. No final do mês, será feito o primeiro embarque para a Rússia. “Uma missão da Rússia esteve aqui e aprovou todos nossos controles sanitários”, diz Tissiani. O volume a ser embarcado ainda não foi fechado.
Para dar conta do crescimento, a Intercoop ampliou sua capacidade de armazenagem refrigerada de 600 toneladas para 1 mil toneladas. Hoje as vendas ao exterior representam menos de 1% do abate do frigorífico. “Nossa meta é exportar de 20% a 30% da nossa produção nos próximos três a quatro anos”, diz Carlos Sérgio Tomazi, gerente comercial da Intercoop.
Pivetta resolveu investir na suinocultura em plena crise do setor, que durou os 18 meses compreendidos entre o ano de 2002 e o primeiro semestre de 2003. Foi a pior crise da suinocultura brasileira, em que 360 mil matrizes foram abatidas para enxugar a produção. “Foi a maior queima de material genético da história”, diz Braun, da ABCS. Os preços do suíno reagiram só na segunda metade deste ano. “Hoje o quilo custa R$ 2 – a R$ 1,50 já estamos no lucro”, diz Tissiani.