Redação SI (12/06/07) – O trabalho na granja consome a maior parte do tempo do criador Anselmo Boger. Ele tem matrizes que dão quase três crias por ano.
O produtor vende os leitões 30 dias depois da desmama. Entrega cem animais por semana que vão para a engorda noutras granjas.
Mesmo sendo especializado, Anselmo diz que o preço baixo o obriga a trabalhar no vermelho. “Para mim está difícil permanecer na atividade. A situação já vem há bastante tempo, estamos com quase dois anos de crise na suinocultura e é muito complicado”, comenta.
A crise começou em 2005 com o surgimento de focos de febre aftosa no Paraná e em Mato Grosso do Sul. Os frigoríficos pararam de exportar e o preço despencou.
Para aliviar a situação dos suinocultores, o governo anunciou a liberação de linhas de crédito especiais com juros menores para a aquisição de matrizes, compra de milho e até para as indústrias estocarem carne.
Uma cooperativa de Medianeira abate em média 50 mil porcos por mês e industrializa 60% da carne. A direção acredita que o pacote não vai ter o efeito que o setor esperava. “São medidas paliativas que vão dar uma alternância para o produtor continuar na atividade, mas não vai resolver o problema. Estocar carne é diferente de estocar soja ou milho. A carne vai ser estocada em câmaras frias e tem um custo significativo, tanto que tem uma vida útil limitada”, comenta o diretor da cooperativa Valter Vanzella.
Para o criador Ivo Shonorrenberger, a decisão do governo chegou tarde. Ele já está vendendo os animais. Algumas fêmeas que custaram mais de R$ 2 mil serão vendidas por menos de R$ 200,00. Parte da estrutura ficará vazia; outra será usada numa nova atividade: vai ajudar o filho na produção de leite. “A gente está muito endividado e não vai dar para pagar a dívida mais”, diz.
A criação de suínos é tradição para muitas famílias do oeste do Estado. O criador Roberto Campagnolo herdou o gosto pela atividade com o pai, melhorou a estrutura da fazenda, investiu em animais de raça, mas há dois anos não consegue equilibrar os custos. Para pagar dívidas mandou para o abate 50 fêmeas usadas para a reprodução, vendeu uma caminhonete e o caminhão foi penhorado.
Na opinião de Roberto e de outros produtores, as medidas neste momento ajudam. Dá para acertar algumas dívidas que tenham juros maiores, tirar a corda do pescoço, mas por outro lado, fazer um empréstimo nesse momento significa empurrar o problema lá para frente se o preço não melhorar.
Globo Rural: Por quanto tempo essas medidas aliviam as dificuldades dos produtores?
Roberto: São medidas paliativas para seis, oito ou 12 meses, no máximo. Se não houver neste período uma melhora do preço do suíno, talvez possa até ficar pior do que está.
Representantes dos criadores de suíno dos três Estados da região Sul participam nesta terça-feira de uma reunião, em Curitiba, com técnicos do ministério da fazenda e da Conab. Eles vão discutir novas medidas de apoio ao setor.