Redação (30/03/07) – Mas, entre uma conversa e outra, já começa a pensar nas bases de sua gestão sob a pressão de um bloqueio de 44,5% do orçamento aprovado pelo Congresso para 2007.
Em entrevista ontem (dia 29) ao Valor, o novo ministro afirmou não ver incompatibilidades entre agronegócio e agricultura familiar, mas deixou claro que encara de forma bastante distinta as funções de cada vertente. "Todos são importantes. O agronegócio pela função de desenvolvimento rural, exportação, geração de divisas e dos grandes avanços que tem trazido. E a pequena propriedade por sua capacidade de produção de alimentos e a função social", analisou.
Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Economia Rural (Sober), Stephanes acredita que as fronteiras agrícolas estão "no limite" e pregou a necessidade de incorporar áreas já degradadas como forma de frear o desmatamento. "Em termos de fronteiras, já chegamos mais ou menos no limite onde devíamos chegar. Aí entra a tecnologia de recuperação de áreas. É nesta linha que temos que trabalhar", afirmou. "A soja entrou para ficar. A cana se expandiu e também vai ficar. Temos que ter uma preocupação de crescer em produtividade, de que este crescimento se faça principalmente à base da recuperação de áreas já degradadas e evitar de todas as formas prosseguir na derrubada de florestas".
Do contrário, prevê o ministro, o álcool, a soja e as carnes brasileiras vão sofrer cada vez mais restrições comerciais no exterior, provocadas sobretudo por movimentos de consumidores. "O consumidor vai cobrar. Daqui a pouco vamos ter restrições à compra do álcool se não estivermos produzindo dentro das condições ambientais corretas. Vai ter restrição à soja, para vender a carne bovina, o frango. Porque o consumidor passa a ter um grande papel no controle do meio ambiente", avaliou. Segundo ele, os produtores "já têm uma consciência muito forte", mas que precisa ser reforçada "tanto [com] pequenos como grandes".
Sintonizado com as recomendações do plano de governo do segundo mandato de Lula, Reinhold Stephanes acredita que o foco do governo deve estar na chamada classe média rural – produtores com renda anual entre R$ 80 mil e R$ 240 mil e donos de áreas entre 20 e 300 hectares. "Temos que reforçar as ações naqueles que precisam ascender a uma posição de melhor produção, de melhor capacidade de produção. Talvez quem esteja numa área de maior dificuldade seja o médio produtor. Hoje, não há políticas de apoio para os médios", afirmou. E disse: "Mas os grandes não vão ficar à margem. Até porque eles já têm políticas de apoio. E o pequeno produtor também está tendo". A classe média rural responde por 20% do PIB do campo e da área total das propriedades. O plano prevê crédito mais farto, juros mais baixos, seguro rural mais amplo e prêmios mais subsidiados para garantir proteção de renda.
Em defesa da agregação de valor às matérias-primas agrícolas, o ministro defende uma nova linha de crédito para "motivar" a permanência das indústrias no país, a desoneração fiscal e investimentos em infra-estrutura. "A idéia é procurar linhas de financiamento que possam motivar uma industrialização mais forte dentro dessa área. A rigor, não temos linhas específicas para isso, principalmente no BNDES, para motivar que essas indústrias permaneçam [no país]", diagnosticou. "E também pensar a questão fiscal, tributária. E ter uma infra-estrutura boa, uma capacidade de transporte, portos em condições adequadas, questões relacionadas à cabotagem, em que há uma certa cartelização, um monopólio".
Sobre a resistência da bancada ruralista à sua indicação, o ministro saiu pela tangente diplomática. "Não considero nada disso pessoal. Jamais absorvo como questão pessoal. É uma função pública e são pessoas que por várias razões tem pensamentos discordantes. Às vezes, até com razão. E às vezes, com interesses", insistiu. "Desde que seja feito dentro de um nível republicano, de civilidade, não vejo problema. Faz parte do jogo". E declarou-se entusiasmado com a nova função: "É quase como um retorno às origens. Como sempre fui um gestor público, achei que podia realizar um bom trabalho".
Reinhold Stephanes lembrou sua ligação pessoal com o tema. "Sou um filho de agricultores que viveu sua primeira infância nisso e depois freqüentou a casa dos pais e dos avós. Os primeiros dez anos de vida profissional foram no Ministério da Agricultura. E foram mais quatro na agricultura do Estado", disse. "No fim, o ministério não produz nada. Às vezes, faz um grande negócio quando não atrapalha aqueles que produzem".