A avicultura brasileira está alicerçada em 4 grandes pilares que sustentam a produtividade e consequentemente resulta no sucesso da produção e exportação que os números mundiais mostram.
Os quatros pilares da avicultura são: Genética, Nutrição, Ambiência e Mão de obra. Esta ordem representa a sequência da evolução que se deu a cada uma delas. A genética (1º pilar) foi o que puxou a evolução, depois a nutrição (2º pilar) cresceu em paralelo, e na última década, a ambiência (3º pilar) vem evoluindo rapidamente e com grandes resultados para a avicultura juntando-se com as duas primeiras. Portanto a mão de obra (4º pilar) de base precisa evoluir mais rapidamente para acompanhar esta fantástica evolução dos três primeiros pilares.
Sabemos que a avicultura é formada, na maioria dos casos, por parcerias entre agroindústrias e produtores nos segmentos de criação de frangos de corte e matrizes. Vamos abordar neste artigo sobre a mão de obra dos tratadores ou cuidadores destes animais, famílias que vivem desta atividade e que residem nas granjas sob forma de assalariados/comissionados ou por trabalho de parcerias na produtividade como meeiros. São eles responsáveis pelo manejo geral da criação, são eles que executam as técnicas implantadas pelas agroindústrias e pelas recomendações dos proprietários. Mais de 80% da avicultura brasileira está nas mãos destas pessoas e o restante está nas mãos dos próprios proprietários dos aviários.
Salientamos em alguns tópicos, que aos nossos olhos, precisamos fomentar a evolução desta mão de obra de tratadores moradores nas granjas:
1º – A necessidade de evoluir – Agroindústrias, Proprietários e Tratadores. Juntos, estes três parceiros precisam encontrar uma melhor forma de fazer com que a mão de obra seja mais produtiva, pois nas experiências vistas, a avicultura pode ganhar mais uma boa fatia em produtividade, podendo fazer a grande diferença nesta atividade muito competitiva e que está olhando para os mínimos detalhes da produção. Se dermos uma virada neste item, certamente terremos em média 10 pontos ou mais nos resultados zootécnicos de fator de produção em média a nível de Brasil. Em muitos casos a diferença pode chegar a 30 pontos. Mão de obra é a bola da vez na avicultura. Melhoramos muitas outras coisas até então, mas agora precisamos focar nos cuidadores das nonas aves.
2º – O compromisso da evolução deste segmento – Para cada segmento vejo alguns compromissos que são fundamentais a serem executados:
– As agroindústrias – devem diferenciar pagamentos para as granjas com menores problemas como: índices zootécnicos, estrutura, limpeza e organização. As agroindústrias devem treinar melhor seus profissionais, nas habilidades de lidar com pessoas e assumir um compromisso de ser orientador e não tão somente cobrador.
– Os proprietários – devem investir em estrutura para os seus tratadores como: moradia, ferramentas, peças de reposição, praticidade nas atividades e conforto no trabalho.
– Os tratadores – devem se comprometer com suas atividades, desempenhando-as da melhor forma que propicie evolução dos resultados e ganhos diferenciados quando a produtividade é melhor.
3º – As formas de remuneração – Salários mais comissões de produtividade e ou como meeiros com nota de produtor rural parceiro. Estas duas formas propiciam sempre em maiores ganhos com maiores produtividades.
4º – As estruturas disponíveis – Cada granja de frangos ou matrizes tem suas características estruturais e de todas temos que tirar o máximo possível de produtividade dentro da estrutura que temos desde que tenhamos a manutenção adequada para a atividade. Vemos muitas granjas desmazeladas estruturalmente, tudo por falta de manutenção adequada e que na maioria das vezes o custo destes ajustes é pequeno e tão somente com mão de obra adequada elas ficam adequadas e operacionais. As granjas são feitas para uso em 30 anos. Isso é possível se sempre tivermos manutenção constante, não deixando para amanhã o que temos que arrumar hoje. A mão de obra comprometida e bem paga faz isso automaticamente, por isso quando se contrata um tratador deve-se acordar que a manutenção é parte da atividade. Não é possível se ter um tratador e um mantenedor, a não ser para as atividades de risco e ou atividades especificas de não conhecimento do granjeiro como é o caso de problemas com energia ou eletrônicos.
Os aviários devem ser construídos de forma que seja operacionalmente fácil para o granjeiro de modo que ele execute suas atividades andando o menos possível, assim suas tarefas diárias são executadas mais rapidamente.
5º – As condições de morada – Em meu ponto de vista o primeiro item que devemos nos preocupar com relação ao sucesso de um granjeiro é o local onde ele vai morar com sua família. Tudo começa pelo bom exemplo que os proprietários de granjas dão com relação a conforto, organização, higiene e importância da família que vai tomar conta da sua propriedade. Quando a família do granjeiro está bem instalada, as probabilidades de dar certo em bons resultados são muito maiores.
Morar bem para o granjeiro é sinônimo de que ele é importante para a propriedade e isso motiva para trabalhar mais em qualquer hora de acordo com a necessidade, e sua programação, pois sabemos que avicultura não tem hora, tem atividades que precisam ser feitas. Morar bem, dá conforto, e conforto gera entusiasmo, capricho, limpeza e organização.
6º – A disponibilidade de produzir seus bens de consumo básicos – É muito importante que na propriedade tenha a disposição um local para cultivo das principais hortaliças de consumo da família, bem como se possível o cultivo de um pomar. Isso ameniza os custos de alimentação e evita a necessidade de sair da propriedade para comprar com frequência.
O proprietário da granja deve disponibilizar os materiais básicos para que isso possa ser possível e inclusive incentivar que isso seja feito. Esta prática traz benefício para ambos e ajuda a manter a propriedade limpa.
Os custos com os materiais, ferramentas, mudas, sementes são supérfluos se compararmos com os benefícios destas práticas, sem contar que esta metodologia ajuda a fidelizar a família na propriedade.
7º A proximidade entre a residência e o trabalho – Vemos muitas propriedades que alocam a casa de seus parceiros ou funcionários longes dos aviários. Isso não é produtivo no quesito deslocamento, atenção nas anormalidades e no tempo desperdiçado. Temos que ter em mente que precisamos construir um projeto onde a mão de obra seja otimizada, desde os deslocamentos até a execução das diversas atividades.
E importante que tenhamos o cuidado de alocar a casa perto de todo o fluxo da granja, perto das principais atividades da granja e principalmente numa posição onde a casa não seja incomodada pela ação dos equipamentos. A casa de preferência deve estar perto do gerador, da caixa de água, do poço artesiano, da entrada de caminhões de ração e frangos e principalmente dos controladores de ambiência da granja.
8º – A aproximação do proprietário da granja com a família do tratador – A partir do momento que se submetemos a alojar uma família dentro de nossa propriedade, devemos conviver com ela harmonicamente e com respeito mútuo entre ambas. Por isso que é importante saber quem estamos alojando destro de nossas propriedades, pois hoje em dia precisamos ter muitos cuidados na seleção desta família.
A convivência entre as pessoas das duas famílias deve ser a mais próxima possível para que não haja surpresas desagradáveis e quando elas surgirem que sejam administradas com conhecimento de causa, com fatos comprovados e com muita conversa. Essa metodologia evita mentiras ou fatos escondidos sem solução. Tudo isso deve ser tratado com profissionalismo, sem adentrar nas particularidades pessoais de cada indivíduo.
O relacionamento entre proprietário e empregado/parceiro é sempre uma caixinha de surpresa e a maioria das vezes por falta de confiança e conversa. A confiança se adquire não se impõe, isso vale para todos os segmentos, mas devemos saber o limite da liberdade que cada um tem.
Uma boa metodologia de produtividade e confiança é acordar metas de produção juntos, fazer análise dos resultados lote a lote, os possíveis erros e acertos e comemorar juntos o sucesso de uma meta alcançada. Isso fortalece a confiança e ambos percebem que o trabalho é em conjunto. Nenhum dos dois tem sucesso sozinho, um depende do outro. Fazer refeições na casa do tratador e convidar a família do tratador para refeições na casa do proprietário, faz com que o relacionamento profissional e comprometimento aumentem e por consequência vem a satisfação nos resultados.
9º – A cultura de organização e limpeza – Este item precisa ser trabalhado muito nas granjas de frangos do Brasil, pois vemos uma preocupação quase que centrada no interior dos galpões, quando sabemos que a qualidade da produção começa pelo lado de fora. Descarte, arrumação, limpeza, saúde e disciplina são as 5 ferramentas do programa 5s que muito precisamos trabalhar nas granjas brasileiras.
Para isso os três segmentos precisam estar querendo fazer (agroindústria, proprietário e tratador). Existem os custos disso, mas os resultados são notórios e rápidos. A maior dificuldade disso e conscientização das pessoas em querer fazer, depois disso tudo acontece. Uma granja que tem os princípios do 5s aplicados, é diferenciada em todos os sentidos como beleza, bem estar, ânimo, entusiasmo e acima de tudo gratidão por estar neste local. Com isso os resultados zootécnicos despontam diferencialmente.
10º – A disponibilidade de materiais e ferramentas – É indispensável que tenhamos em nossas granjas uma ferramentaria e/ou almoxarifado e que neste local esteja a disposição todas as peças que costumeiramente desgastem com frequência assim com um conjunto de ferramentas para qualquer eventual necessidade, bem como para executar suas atividades. A necessidade de boas ferramentas é primordial, desta forma, as atividades são executadas com mais rapidez, qualidade e segurança. EPIs também são importantes para evitar acidentes.
A partir do momento que se tem um local adequado e todas as ferramentas necessárias, devemos manter este ambiente organizado para evitar desperdício de tempo para localizar e perdas de peças.
11º Contrato moral entre ambos – Contrato moral não é um documento escrito, mas sim, compromissos firmados pessoalmente entre duas famílias que querem ganhar dinheiro. Este contrato deve ser de ideias claras e que principalmente os contratantes conheçam um do outro: a filosofia de trabalho, princípios de vida, expectativa e resultados almejados. Assim fica fácil a discussão de possíveis adversidades durante o dia a dia.
Durante esta conversa é importante que todos da família estejam presentes, para evitar que um ou outro não entenda os objetivos propostos.
12º – A colheita dos bons resultados – Quando os resultados vêm, devem ser comemorados coletivamente por isso, devemos fazer análise dos dados juntamente, onde todos sabem o que está acontecendo e que as metas conseguidas devem ser comemoradas com alguma atividade recreativa, por mais simples que seja.
Considerações finais: O 4º pilar da avicultura foi proposto em virtude de que necessitamos a partir desta fase, dar a ele mais atenção, assim como foi feito com os outros no passado. Se não elevarmos o nível desta mão de obra, certamente estaremos perdendo potencial de lucratividade que os outros 3 pilares poderiam nos proporcionar.
Para elevarmos o nível do nosso 4º pilar precisamos essencialmente investir nas pessoas, com qualidade de vida, condições de trabalho, seleção, remuneração e muito treinamento.