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Entrevista

O PAC e a Embrapa Suínos e Aves

<p>Em entrevista ao site, o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Dirceu Talamini, fala sobre como o dinheiro do PAC da Embrapa vem sendo investido na unidade.</p>

Anunciado com pompa pelo governo federal no ano passado, o PAC da Embrapa gerou uma grande e positiva expectativa no setor de pesquisa nacional e nos diversos segmentos que compõem o agronegócio brasileiro.

Primeiro porque verbas para o desenvolvimento de pesquisas no Brasil são sempre escassas. E os R$ 914 milhões previstos para serem investidos na Embrapa não são nada desprezíveis. 

Segundo porque a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tornou-se, desde a sua criação, em 1973, o maior centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o agronegócio. Não é exagero afirmar que o setor agropecuário nacional não seria o que é sem o auxílio da Embrapa.    

Mas o PAC da Embrapa está saindo do papel? De que forma o programa está auxiliando na modernização da estrutura da Embrapa Suínos e Aves, que tantos serviços prestados tem para o desenvolvimento das duas atividades no Brasil? 

Para obter essas respostas, Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial enviaram um repórter para Concórdia, no Oeste catarinense, para uma conversa com Dirceu João Duarte Talamini, chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves.

O bate-papo rendeu. Talamini falou não só sobre o PAC da Embrapa  e sobre como o dinheiro do PAC vem sendo aplicado na unidade, mas também sobre as principais linhas de pesquisa que a Embrapa Suínos e Aves vem desenvolvendo, sobre a internacionalização da empresa e sobre os desafios para mantê-la atuante no desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de aves e suínos. 

Os melhores trechos da entrevista você confere a seguir.

AI/SI – O governo federal lançou no ano passado o PAC da Embrapa, que prevê a liberação de R$ 1 bilhão para a empresa até o final de 2010. Qual o valor do investimento do programa na unidade de Suínos e Aves até aqui e que como esses recursos foram aplicados?

Dirceu Talamini – A unidade tem se beneficiado muito dos investimentos do PAC. Neste primeiro momento, entre 2008 e 2009, nós investimos cerca de R$ 2 milhões. Grande parte desse recurso foi usada na recuperação e modernização dos nossos laboratórios. Construímos, junto com o Ministério da Agricultura, o Laboratório de Biossegurança Nível 3 (NB3), ou seja, um laboratório de nível de segurança três. Isso significa que teremos melhores condições de trabalhar com as doenças de impacto econômico na suinocultura e avicultura. Esse laboratório vai nos permitir isso.
Também usamos o dinheiro para modernizar a estrutura do Laboratório de Análises Físico-químicas, que desenvolve trabalhos na área de nutrição, meio ambiente. E estamos implementando um laboratório que apóia o trabalho de qualidade de carcaça e carnes.
Investimos também na melhoria da estrutura geral da unidade. Recuperamos algumas estradas internas, recuperamos alguns prédios que apóiam a parte experimental e a parte de produção animal. Foram realizados investimentos que nos permitiram modernizar equipamentos e que têm dado grande contribuição aos trabalhos da unidade. 

AI/SI – A Embrapa Suínos e Aves passa por um processo de renovação de quadro. Muitos técnicos estão se aposentando, outros indo para outras unidades. De que forma o PAC da Embrapa vai auxiliar na revitalização da capacidade intelectual da unidade?

DT – Felizmente, a nossa unidade ainda é uma das mais jovens da Embrapa, na medida em que outras unidades já vieram do Ministério da Agricultura. A Embrapa Suínos e Aves tem 34 anos e está começando agora a ter uma demanda por aposentadorias. A unidade também conta com um programa de demissão incentivada, mas que vai desligar um pequeno número de pesquisadores. Teremos no total um desligamento de quatro pesquisadores por demissão incentivada.
E o que ocorre em nossa unidade, ou melhor, ocorria, já que tem diminuído, é a transferência ou desligamento para mudanças de domicílio de emprego. Isto é, pesquisadores que passaram a atuar em universidades ou em outras unidades da Embrapa.
Posto isso, é importante destacar que, nos últimos tempos, também está havendo um interesse muito grande por desenvolver atividades aqui. E nós temos a previsão de contratar, em 2008 e 2009, perto de 20 novos pesquisadores e analistas, que seriam profissionais que atuam diretamente na área intelectual e de pesquisa da Embrapa. O PAC deve permitir um crescimento de 10% no número de funcionários da Embrapa Suínos e Aves. Estamos selecionando pessoas de concursos já existentes e a Embrapa deve, ainda este ano, lançar um edital para um concurso amplo e que permita identificar pessoas que estejam interessadas em trabalhar com suinocultura e avicultura nas mais diversas áreas do conhecimento.     

AI/SI – O PAC da Embrapa vai liberar mais recursos para a unidade neste e no próximo ano? Como será usado esse dinheiro?

DT – Essa liberação é definida em função de projetos de prioridades e de demandas. Então existe uma dificuldade muito grande de concluir projetos, concluir memoriais descritivos, fazer as licitações. Isso impede um planejamento muito claro do que conseguiremos.
Mas as demandas que temos, entre equipamentos, obras, manutenção e modernização de estrutura, passam de R$ 20 milhões. Então esse é o valor que estaremos procurando obter, mas que dificilmente, com esses volumes de recursos alocados pelo PAC, serão atendidos. A Embrapa tem 42 unidades e está reservando recursos para construir mais três novos centros de pesquisa. Um deles, em Sinop, no Mato Grosso, já está bem avançado e deve entrar em operação no final deste ano ou no início de 2010.

AI/SI – A excelência da atuação da Embrapa a transformou em um instrumento de política externa brasileira. Em praticamente todas as viagens internacionais do presidente Lula, seus anfitriões demonstram interesse pelo trabalho da estatal. O senhor poderia explicar melhor como a unidade de Suínos e Aves está participando desse processo de internacionalização da Embrapa?

DT – Além da Venezuela e do Afeganistão, que já realizaram visitas em nossa unidade, existem vários países da África interessados em estabelecer intercâmbio conosco. No que se refere à Venezuela, já faz mais de um ano que se conversa sobre a cooperação. Missões de nossa unidade já foram até a Venezuela e missões da Venezuela já estiveram em nossa unidade. O objetivo dos venezuelanos é criar e modernizar sua criação de frangos e ovos. Eles querem expandir sua produção avícola. A Embrapa Suínos e Aves tem colaborado com tecnologia para que se possa implementar esse tipo de avicultura na Venezuela.
No caso do Afeganistão o contato é bem inicial. Eles já estiveram aqui na unidade para conhecer a estrutura que possuímos e já manifestaram o interesse em contar com o apoio da Embrapa Suínos e Aves no treinamento e na transferência de tecnologias que permitam a produção de frangos no Afeganistão. O primeiro passo será promover o treinamento dos técnicos afegãos aqui na unidade.        
  
AI/SI – Os convênios de cooperação técnica da Embrapa Suínos e Aves também são feitos com países desenvolvidos. Um exemplo disso é a participação de pesquisadores da unidade no Labex-EUA. Poderia falar sobre essas parcerias? Além do Labex-EUA, a unidade de Suínos e Aves mantém alguma outra parceria? 

DT – A nossa unidade está mantendo a pesquisadora Janice Zanella no Labex-EUA. Trata-se do único pesquisador da unidade que está nessa estrutura de laboratórios virtuais no exterior. No caso, a pesquisadora desenvolve duas funções. A primeira é prospectar e verificar o que se faz nos EUA e que interessa a pesquisa da Embrapa aqui no Brasil. A Janice desenvolve também um projeto de pesquisa que está muito vinculado à gripe A (H1N1). Ela participa dos trabalhos experimentais e laboratoriais com relação a esse assunto. A outra função é que esse tipo de convênio promove o intercâmbio de pesquisadores brasileiros e norte-americanos, não só de suínos e aves como também de bovinos e sanidade animal. O objetivo é aproveitar as boas condições existentes nos EUA, as condições mais avançadas de pesquisa, e a possibilidade de cooperação entre os pesquisadores.
Nós temos tido a oportunidade para a participação em outras áreas, em outrso convênios, mas não temos, no momento, condição de enviar pesquisadores. Um exemplo é o Labex da Coreia que está em fase de implantação e que tem uma demanda forte na sanidade animal, mas que, no momento, ainda não pode contar com pesquisadores de nossa unidade.

AI/SI – A Embrapa Suínos e Aves tem uma tradição muito grande no desenvolvimento de tecnologias para a criação de aves e suínos. Quais as principais linhas de pesquisa que a unidade vem trabalhando atualmente? Em que tecnologias os pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves estão focados?

DT – Nossa unidade trabalha com todas as áreas especializadas para a produção de suínos e aves, com ênfase na produção, no meio rural. Nosso forte ainda não está no processamento, na indústria. Nosso foco está na produção do animal e na entrega desse animal em boas condições na plataforma da indústria.
Então, apesar de ter esse enfoque multidisciplinar, nosso plano diretor, que estabelece as prioridades de pesquisa, mostra claramente que a área de saúde animal é muito privilegiada. A área de meio ambiente é outra que também tem tido um bom desenvolvimento e, mais recentemente, a área de bem-estar animal e a de novos produtos, até de origem vegetal, para o controle de problemas sanitários na produção, têm recebido bastante atenção dos pesquisadores.
Enfim, procuramos manter a inteligência e a capacidade de trabalho em todas as áreas, priorizando aquelas cuja demanda é mais forte no momento.         
 
AI/SI – A transferência de tecnologia é outra forte característica da Embrapa Suínos e Aves. Até pouco tempo atrás, a produção era centralizada no sul do Brasil. Hoje, no entanto, regiões como o centro-oeste e mesmo o nordeste contam com grandes investimentos. Essa nova realidade não dificulta a transferência de tecnologia? O que vem sendo feito para resolver esse problema?

DT – Realmente esse é um ponto muito importante. Sempre a unidade usou muito intensamente a internet e os eventos nacionais e internacionais para apresentar palestras, oferecer cursos, para mostrar as tecnologias desenvolvidas pela unidade. Um exemplo desse esforço é a própria parceria que a Embrapa Suínos e Aves desenvolve com a Gessulli Agribusiness na elaboração dos seminários técnicos da AveSui.
Mas, além disso, estamos com um pesquisador locado em Recife para fazer essa transferência de tecnologia no Nordeste. Estamos também implantando unidades de observação em várias regiões do Brasil para promover esse maior acompanhamento e também facilitar a transferência de tecnologia.
E o novo centro da Embrapa em Sinop, no Mato Grosso, tem um novo arranjo e deverá ter uma equipe de pesquisadores dedicados à suinocultura e avicultura.
A ideia, nesta nova unidade, é congregar vários grupos de pesquisadores de várias áreas como, por exemplo, de milho, soja, pecuária, floresta. Enfim, uma unidade multidisciplinar. Esses grupos se relacionarão com os centros nacionais e farão parte dessa rede de atendimento. Tudo indica que os centros de Tocantins e do Maranhão, que serão construídos, também terão esse perfil.