Redação SI 28/11/2002 – O pesadelo vivido pela agroindústria de suínos e aves a cada dia prolonga a insônia dos criadores e empresários e agrava ainda mais a crise enfrenta pelos dois setores. O tormento se prolonga diante das notícias nada boas em torno da projeção de menor safra de milho em 2003. No Paraná, maior estado produtor, levantamento de intenção de plantio indica redução de 6% na área da cultura frente ao ano anterior. Os paranaenses pretendem cultivar 1,4 milhão de hectares, a menor área plantada dos últimos 20 anos. A tendência é a mesma para os outros estados, o que pode levar à menor área plantada no país da história recente.
Em cada região, o tom da estimativa é o mesmo: encolhimento da lavoura de milho. No Triângulo Mineiro, por exemplo, os agricultores decidiram reduzir a área em 5%. O motivo, idem: parte das terras que começam a ser plantadas no final de outubro será utilizada para as lavouras de soja, cujo mercado se mantém mais atrativo do que nunca. Nem mesmo a valorização no preço da saca do milho, 50% superior ao valor médio praticado no ano passado, deve estimular os produtores a plantar milho.
As más notícias também têm origem nos Estados Unidos, onde empresas pecuaristas enfrentam aperto nos lucros porque o custo para alimentar bovinos, suínos e frangos tem subido e o valor dos animais, declinado. As baixas despesas com rações ajudaram a amortecer o choque até o começo de agosto, quando uma estiagem no Meio-Oeste ameaçou as safras das culturas de verão, elevando os preços e piorando as perspectivas para alguns criadores. Assim como aqui, lá o produtor médio de suínos não tem qualquer probabilidade de ser rentável.
A crise atinge em cheio a agroindústria gaúcha, que ainda sofre penalizações com as distorções das altas cargas de tributos em relação aos criadores de suínos do Paraná e de Santa Catarina. O momento exige o envolvimento de todos os setores da iniciativa pública e privada para encontrar solução conjunta que permita a retomada de mecanismos para a manutenção da atividade. A mesa de debates precisa incluir bom senso, racionalidade e espírito coletivo em torno do único objetivo, que é dar respaldo ao plantio de milho e incentivar os criadores a manterem seus plantéis. Do contrário, a perda de mercado doméstico multiplicará ainda mais as noites de insônia.