Em entrevista ao site SI, o novo presidente da ABCS, Irineu Wessler, prega uma maior união entre os membros da cadeia produtiva suinícola e fala sobre as metas e prioridades da entidade nos próximos dois anos.
Para o paranaense Irineu Wessler em time que está ganhando não se mexe. A mesma coisa vale para a estratégia. Se o escrete vem crescendo no certame a tática tem que ser mantida.
Segundo Wessler, a ABCS desenvolveu um trabalho importante nos últimos quatro anos e conseguiu avanços importantes. “Nesses quatro últimos anos a ABCS centrou esforços nas questões de comercialização da carne suína, de logística, promoveu uma campanha de marketing sofisticada, e trabalhou com sucesso pelo aumento da representatividade política da associação”, enfatiza. “Meu objetivo é dar sequência ao trabalho que vem sendo realizado”, afirma.
Em entrevista ao site Suinocultura Industrial Wessler fala sobre as metas e prioridades da ABCS nos próximos dois anos, sobre as mudanças no estatuto da entidade e sobre a satisfação de chegar à presidência da associação.
Confira a íntegra do bate-papo.
Suinocultura Industrial – A atual diretoria acaba de encerrar um ciclo de 4 anos à frente da ABCS. Que avaliação o senhor faz do trabalho da entidade nesse período?
Irineu Wessler – A ABCS desenvolveu um trabalho extremamente importante nos últimos quatro anos. Nesse período a entidade mudou o foco de suas ações. Até então a ABCS tinha um trabalho desenvolvido da porteira para dentro. As ações eram voltadas ao melhoramento da genética, da nutrição, e essa foi uma etapa vencida com excelentes resultados. Tanto que hoje temos uma atividade suinícola que compete com qualquer suinocultura do mundo.
Nos últimos dois mandatos a ABCS deu um passo adiante. Focou sua atuação em questões da porteira para fora, que é onde estão os maiores desafios da atividade. Nesses quatro últimos anos centrou esforços nas questões de comercialização da carne suína, de logística, promoveu uma campanha de marketing sofisticada, e trabalhou com sucesso pelo aumento da representatividade política da associação. Conseguimos dar passos importantes nesse período. Porque até então existiam ações isoladas, sobretudo na área de marketing. Hoje temos um projeto definido que é a campanha “Um novo olhar sobre a carne suína”.
SI – O senhor é o primeiro paranaense a comandar a ABCS. Qual o significado desta eleição para o senhor?
IW – Essa eleição tem um significado muito importante para mim. Acredito que o objetivo de todos ou da grande maioria dos presidentes das associações estaduais é um dia chegar à presidência da ABCS. É muito gratificante receber o apoio das lideranças do setor e dos presidentes das afiliadas.
Entretanto, a satisfação é proporcional à responsabilidade. Conduzir a ABCS não é uma tarefa fácil. Muito embora as mudanças estatutárias realizadas dividam as responsabilidades entre os conselheiros tornando o trabalho mais coletivo.
SI – O que muda na ABCS sob sua gestão?
IW – Nosso objetivo é dar sequência ao trabalho que já vem sendo realizado. Não há nenhuma mudança prevista. Preciso primeiro conhecer melhor a estrutura da entidade.
Queremos estar bem próximos do produtor. Os três Estados do Sul estão passando por muitas dificuldades. E neste segundo semestre se não houver lucratividade, principalmente dos suinocultores autônomos, a tendência é que muitos produtores fiquem pelo caminho. E mesmo os suinocultores integrados, de estrutura familiar, estão passando por dificuldades. Aos poucos vamos conhecendo a estrutura para promover algumas discussões mais amplas e desenvolver algumas ações para que todos possam se manter produzindo e na atividade.
Na esfera política temos condições de avançar. Tenho experiência nessa área e costumo ouvir bastante. Essa é uma prática que quero adotar e procurarei ouvir bastante os presidentes das associações estaduais procurando agregá-los em torno da ABCS. A união entre todas as afiliadas é muito importante para o trabalho da ABCS. Somos poucos. Temos poucas lideranças nacionais. Portanto temos que trabalhar unidos e bem afinados.
Temos que estar juntos com os produtores de genética, isso é muito importante. Se não tivermos um suinocultor forte, que consiga permanecer no mercado, a produção de genética não se justifica. Temos certeza de que eles podem nos ajudar.
Da mesma forma a indústria. Buscaremos trabalhar com a Abipecs [Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Suínos]. Temos plena convicção de que temos que desenvolver um trabalho de marketing conjunto, bem definido. A associação dos exportadores tem que estar junto conosco. Esse trabalho de aproximação já foi iniciado, precisamos apenas consolidá-lo.
A idéia é reunir todos os que fazem parte da cadeia produtiva – produtores, fornecedores, indústria, varejo – para encontrar soluções conjuntas. Não vamos tomar nenhuma decisão precipitada. Temos inclusive um Conselho Administrativo que vai discutir todas as ações a serem tomadas.
SI – Em sua opinião quais serão seus principais desafios neste mandato?
IW – Serão muitos. Mas talvez um dos mais importantes, até pela cobrança dos produtores, é o estabelecimento de um preço mínimo de um preço de referência para o suínos. Muitos me perguntam: mas estabelecer um preço de referência para comercializar o animal pelo preço mínimo? Não, queremos criar um preço de referência para dar ao governo um instrumento para que ele possa operacionalizar algum tipo de programa de garantia de renda. A exemplo do que é feito no segmento de grãos, peixes, etc.
A definição de um preço mínimo de referência pode viabilizar a implementação de um PEP [Programa de Escoamento da Produção]. Com isso é possível tirar o excedente, por exemplo, da região produtora e levar para a região consumidora com o prêmio do frete.
É bom lembrar que ainda estamos sofrendo por conta de um excedente de 60 mil toneladas gerado pelo recuo das exportações em novembro/dezembro do ano passado. Se o governo tivesse algum instrumento para absorver esse excedente não estaríamos enfrentando essa crise.
SI – Quais serão as principais prioridades e metas da diretoria da ABCS nos próximos dois anos?
IW – Uma de nossas metas é ampliar o consumo de carne suína no mercado doméstico. Temos a meta de aumentar em dois quilos o consumo de carne suína no Brasil nos próximo três anos. Para isso continuaremos com nossa campanha “Um novo olhar sobre a carne suína”. Consideramos o consumo per capita de carne suína no Brasil, hoje por volta dos 14 quilos, muito pequeno.
Temos também que seguir trabalhando para mostrar a qualidade e segurança do nosso produto. Mostrando que os animais são criados em granjas de acesso restrito, com nutrição de alta qualidade. Que os abates são fiscalizados e são realizados sob rigorosas regras sanitárias e de bem-estar animal. Enfim, a carne suína é um produto saudável, nutritivo e seguro.
Outro desafio é promover uma união entre todos os representantes da cadeia produtiva suinícola para o desenvolvimento de um trabalho conjunto. Quando estivermos todos unidos, falando a mesma língua, o trabalho vai fluir rapidamente e o setor estará muito mais fortalecido.
E, por fim, vamos trabalhar em todas as instâncias governamentais para que seja aprimorado e intensificado o sistema de controle sanitário na suinocultura. Precisamos estabelecer uma grande parceria com o Ministério da Agricultura para aprimorarmos o controle sanitário do nosso rebanho. Aumentar a proteção de nosso rebanho quanto a entrada de doenças, erradicar a febre aftosa, implementar sistemas de rastreabilidade. Essas são algumas medidas que são fundamentais para que o setor continue avançando.
SI – A ABCS deseja manter as ações de mercado desenvolvidas pela instituição, voltadas para a ampliação do consumo de carne suína no Brasil. E em particular, aprofundar a Campanha Um Novo Olhar Sobre a Carne Suína. O que significa exatamente “aprofundar a campanha um novo olhar sobre a carne suína”? Quais as ações previstas para isso?
IW – A campanha “Um novo olhar sobre a carne suína” nos deu uma direção, um direcionamento. Mas precisamos avançar. Implementá-la promocionalmente nos supermercados apenas não basta. Precisamos trabalhar as agroindústrias para que elas forneçam os cortes de maneira regular. Intensificar a promoção nos postos de venda. Esse será um trabalho árduo. Precisamos identificar as agroindústrias que queiram ser parceiras do projeto para dar sustentabilidade à campanha. Garantir a regularidade no fornecimento dos cortes. Esse é um grande desafio para a campanha “Um novo olhar sobre a carne suína”.
SI – A ABCS já declarou que não se opõe à fusão da Sadia e da Perdigão, até pelos benefícios que essa união pode trazer à competitividade da Brasil Foods no mercado internacional. A ABCS afirma, porém, que a discussão sobre como essa fusão se dará é questão prioritária para a entidade. A ABCS entende que essa é “uma oportunidade histórica para reformular as relações contratuais entre suinocultores e integradoras e para negociar mecanismos de formação de preços pagos por todas as indústrias do setor”. Como a ABCS pretende fazer esse trabalho?
IW – Hoje temos basicamente dois tipos de suinocultura no Brasil. Temos os três Estados do Sul onde prevalece o sistema de integração formado por pequenas propriedades e por suinocultores com estrutura familiar e os grandes projetos do Centro-Oeste. Em ambos os casos os produtores são integrados, mas os contratos são diferentes. Acreditamos que a fusão entre Perdigão e Sadia é uma boa oportunidade para discutir a relação contratual entre os produtores e a indústria. Talvez tentar estabelecer um contrato unificado, que seja bom para as duas partes. É interessante para a integradora ter um parceiro forte. Mas isso exige uma contrapartida por parte da indústria.
SI – O senhor poderia falar sobre as mudanças que foram feitas no estatuto da ABCS? Com a criação do cargo de diretor-executivo o que muda na ABCS sob o ponto de vista administrativo?
IW – As mudanças efetuadas foram no sentido de descentralizar o poder na ABCS. No modelo anterior as decisões ficavam concentradas nas mãos de uma única pessoa, o presidente no caso. Isso limitava a atuação da entidade. O presidente ficava sobrecarregado e não dava conta de tocar todas as demandas da entidade.
Essa situação nos levou a revisar o estatuto com o objetivo de possibilitar um trabalho mais conjunto na ABCS. Houve uma distribuição de atribuições, cada conselheiro tem uma responsabilidade específica e isso vai otimizar o nosso trabalho.
Está prevista a contratação de um diretor-executivo. Isso ocorrerá num segundo momento. Precisamos primeiro definir um nome para ocupar esse cargo. Acredito que atuando dessa forma podemos fazer um grande trabalho.
SI – A ABCS tem atualmente duas sedes: uma administrativa em Estrela e outra em Brasília. Com sua eleição o que muda nesse sentido?
IW – As sedes de Estrela (RS) e Brasília (DF) serão mantidas. A primeira é histórica, foi lá que tudo começou. E a segunda é estratégica, pois está próxima do centro político brasileiro.
Não há necessidade de criarmos mais uma sede. Os recursos da ABCS são limitados. Sempre fui muito austero com o uso de dinheiro. Quando fui presidente da Câmara de Vereadores de Francisco Beltrão (PR) tinha atenção especial com essa área. A lei orgânica do município nos dava o direito de gastar até 8% do orçamento. Na minha gestão a Câmara gastou 1.55%. Tenho fama de “mão fechada”. Sei da dificuldade de se obter recursos. Então temos que aplicá-los da melhor forma.
SI – A chapa que compõe a atual diretoria da ABCS não conta com a participação da ACCS e da APCS. Como será o relacionamento da ABCS com essas entidades nos próximos dois anos?
IW – O melhor possível. Santa Catarina enfrenta os mesmos problemas que a suinocultura do Paraná, do Rio Grande do Sul, que a suinocultura do Brasil enfim. As suinoculturas dos três Estados do Sul são idênticas. E vamos estar junto com o Wolmir [Wolmir de Souza, presidente da ACCS], junto com o Losivânio [vice-presidente da ACCS], e ao lado de todas as lideranças da suinocultura catarinense desenvolvendo um bom trabalho. Tenho total confiança nesse trabalho conjunto, muito embora eles não façam parte do Conselho Diretor da ABCS. Da mesma forma se dará nossa relação com São Paulo. O Ferreira [Valdomiro Ferreira Junior, presidente da APCS], o Olinto [Olinto Arruda, vice-presidente da APCS], são nossos amigos e vão estar trabalhando conosco. O caminho é o da união.