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Os desafios da suinocultura gaúcha

<p>Em entrevista à Suinocultura Industrial, Valdecir Folador, reeleito presidente da Acsurs, faz um balanço de seu primeiro mandato, fala sobre as prioridades e metas da entidade nos próximos anos e sobre a atual situação da suinocultura gaúcha.</p>

Redação SI (27/03/07) – Em assembléia geral ordinária, realizada no dia 09 de março, na cidade de Estrela, Valdecir Luis Folador foi reconduzido à presidência da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs).

À frente da presidência nos próximos dois anos, Folador tem grandes desafios pela frente. O maior deles, segundo o próprio, será devolver a rentabilidade e a esperança ao suinocultor gaúcho. “É imprescindível que o suinocultor volte a ter uma renda à altura de sua importância para o processo produtivo suinícola”, diz. "Nesses próximos dois anos temos como objetivo criar uma ferramenta que nos assegure uma distribuição de renda mais justa dentro da cadeia produtiva suinícola". 

Natural de Barão de Cotegipe, Folador tem 36 anos de idade e desde 1985 dedica-se a atividade suinícola. Filho de suinocultores, atualmente possui uma granja de ciclo completo, em sua cidade natal, com 450 matrizes.

Em entrevista ao site de Suinocultura Industrial, Folador faz um balanço de seu primeiro mandato, comenta sua reeleição, fala sobre as prioridades e metas da Acsurs para os próximos anos e sobre a atual situação da suinocultura gaúcha.

Suinocultura Industrial (SI) – Que balanço o senhor faz de seu primeiro mandato?

Valdecir Folador – Nosso primeiro mandato foi marcado por muitos desafios, principalmente para mim. Quando fui indicado para concorrer à presidência da Acsurs eu tinha pouca experiência administrativa. Conhecia muito bem da porteira da granja para dentro, mas nas questões que tangem a suinocultura como um todo, na parte que envolve o papel da associação e sua responsabilidade de trabalhar pelo benefício da classe de suinocultores, não era muito experiente. Ciente disso sabia que só com muito trabalho, esforço e dedicação conseguiria vencer esse desafio. Hoje vejo que nossa equipe conseguiu realizar um trabalho importante. Conseguimos reforçar o papel da Acsurs na luta pelo direito dos suinocultores e realçar sua visibilidade aqui no Estado como uma entidade representativa do setor produtivo. Apesar das conquistas, temos muito a avançar.

SI – Qual o significado dessa reeleição para o senhor?

VF – Essa reeleição tem um significado muito importante para mim. Afinal não deixa de ser uma resposta ao trabalho que eu e toda a diretoria da Acsurs desenvolvemos nos últimos dois anos. A prioridade do 1º mandato foi reaproximar a Acsurs dos suinocultores gaúchos. Percorremos todo o Estado, foram mais de 20 reuniões ao longo desses dois anos e deu para conhecer de perto os problemas e as dificuldades dos suinocultores do Rio Grande do Sul.

SI – Quais são as principais prioridades e metas da diretoria da Acsurs nesse segundo mandato?

VF – Nesses próximos dois anos temos como objetivo criar uma ferramenta dentro do setor produtivo que nos assegure uma distribuição de renda mais justa dentro da cadeia produtiva suinícola. Essa ferramenta é o Conselho Paritário da Suinocultura, que nada mais é do que reunir, numa mesma mesa, representantes dos suinocultores e das indústrias que fazem parte da cadeia produtiva suinícola para identificar quais os principais problemas que atividade enfrenta hoje, desde a criação até o varejo.

Nas reuniões do conselho será possível também levantar quais as despesas e receitas que cada integrante da cadeia suinícola tem no processo produtivo para, a partir daí, tentar estabelecer uma divisão mais justa. É imprescindível que o suinocultor volte a ter uma renda à altura de sua importância para o processo produtivo suinícola. Infelizmente nos últimos anos o produtor teve uma queda vertiginosa em seus rendimentos, fato que lhe impôs uma série de dificuldades.

Também continuaremos trabalhando junto aos órgãos públicos para assegurar um serviço de vigilância sanitária condizente com a importância do setor suinícola. Para que possamos manter o status sanitário da suinocultura gaúcha. Também não mediremos esforços para fortalecer nossa relação com a Secretaria de Agricultura para que eles possam atender nossas demandas e solicitações. Acredito que esse seja um trabalho fundamental para que tenhamos uma suinocultura cada vez mais pujante, cada vez mais produtiva, em constante crescimento e, sobretudo, para que o suinocultor possa produzir e tenha comercialização e renda garantida.

SI – Esse novo mandato à frente da Acsurs o afasta de uma eventual candidatura à presidência da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS)?

VF – Tenho uma opinião muito bem formada sobre isso. Acredito que a ABCS está em boas mãos. O Rubens [Valentini, presidente da ABCS] tem desenvolvido um grande trabalho nesses dois anos. A campanha “Um novo olhar sobre a carne suína” é um projeto muito bem elaborado e que já apresenta resultados surpreendentes. Se depender do Folador e do Rio Grande do Sul, o Rubens vai ficar lá por mais dois anos. Temos muito trabalho pela frente e hoje com a ABCS estabelecida em Brasília, com os conhecimentos que o Rubens tem do cenário político de Brasília, os suinocultores só têm a ganhar.

SI – Qual a atual situação da suinocultura no Rio Grande do Sul atualmente?

VF – A suinocultura gaúcha em 2005 também foi prejudicada pela ocorrência de febre aftosa no Mato Grosso e no Paraná. Em abril do ano passado tivemos a abertura do mercado russo para as carnes produzidas no Rio Grande do Sul, fato que gerou uma grande expectativa no suinocultor diante da oportunidade que se abria para a suinocultura gaúcha.

Mas a retomada da comercialização com a Rússia não significou maior lucratividade para os produtores. A maioria dos suinocultores gaúchos fechou 2006 com problemas de caixa. A rentabilidade não chegou a 2% para o suinocultor, devido, principalmente, a concorrência de outros Estados produtores que colocavam suínos a preços muito baixos no Rio Grande do Sul.

Nossa luta foi muito intensa junto ao Governo do Estado e Secretaria de Agricultura para que buscássemos um equilíbrio que garantisse rentabilidade mínima aos nossos produtores. Infelizmente não obtivemos o êxito que esperávamos e 2006 foi um ano bastante complicado para o suinocultor gaúcho.

SI – Mas as exportações gaúchas de carne suína aumentaram em 2006…

VF – Para a suinocultura, falando da porteira para fora, foi um ano ótimo. As exportações de carne suína gaúcha foram extremamente positivas. O Rio Grande do Sul participou com 271 mil toneladas de carne suína das 530 mil toneladas exportadas pelo Brasil no ano passado. E os valores alcançados com essas exportações foram também bastante significativos, trazendo uma boa remuneração para o setor industrial. Mas infelizmente isso não foi distribuído dentro da cadeia produtiva e o produtor ficou no prejuízo em 2006.

SI – Quais as perspectivas para a suinocultura gaúcha em 2007 sob o ponto de vista do produtor?

VF – Em 2007 vivemos uma expectativa grande até o momento. Estamos aguardando um melhora no mercado interno, que hoje se encontra bastante conturbado no que se refere a comercialização. No mercado internacional, nos primeiros dois meses, as exportações da suinocultura gaúcha foram boas.

Em janeiro foram exportadas mais de 20 mil toneladas e em fevereiro mais de 16 mil toneladas. E números preliminares indicam que o mês de março registrará bons resultados para as exportações suinícolas gaúchas.

Mesmo assim o suinocultor continua trabalhando numa situação de prejuízo. Hoje o produtor consegue comercializar o quilo do suíno vivo, no máximo, a R$ 1,65 e nossos custos de produção estão estacionados em R$ 1,90. Então o produtor vive uma expectativa muito grande, uma preocupação muito intensa. Esperamos que a definição das cotas por parte do governo russo referente à importação de carne suína do Brasil venha a trazer algum alento ao setor suinícola gaúcho. E também alguma possibilidade de aumento na renda do suinocultor do Rio Grande do Sul. Esperamos que 2007 seja um ano melhor para o suinocultor gaúcho e brasileiro.