Prestes a inaugurar sua sede própria, no próximo dia 25 de março, às 9 horas, a Cooperativa Agropecuária Mista de Benevides (Coopaben) assinou, no último dia 16, com a Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Benevides, mais um contrato de fornecimento de produtos para a merenda escolar. A negociação teve o apoio do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).
Desde a homologação da Lei Federal no. 11.947, do ano passado, pela qual o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) estabeleceu a obrigatoriedade de pelo menos 30% de toda merenda escolar advirem de produtos da agricultura familiar municipal, a Coopaben é a primeira cooperativa da Região Metropolitana de Belém (RMB) a oficializar a parceria com as escolas públicas não só de Benevides, mas também do município vizinho de Santa Bárbara do Pará.
A partir de 2010, o grupo passou a abastecer as instituições educacionais com farinha de tapioca, ovo de galinha caipira, cheiro-verde e jambu, entre outros. Este ano, o maxixe e quiabo foram incluídos. São mais de cinco toneladas de alimentos por mês, compondo as refeições de 20 mil alunos de 24 escolas. O preço pago via contrato à cooperativa é considerado “bom, acima da média – representando, para o produtor, um lucro de até 40%”, explica o chefe da Emater em Benevides, Edowardo Shimpo. O valor total ultrapassa R$ 200 mil.
Comunidades – A Coopaben, criada em 2008, reúne 21 agricultores, cujas principais atividades são horticultura, fruticultura e criação de galinha caipira. Indiretamente, são beneficiadas outras 400 famílias de 13 comunidades de Benevides e municípios vizinhos, cuja produção é comprada pela cooperativa. “O único apoio real que sempre tivemos foi o da Emater, e isso desde o começo, quando éramos apenas um grupo de agricultores avulsos batalhando para compor uma cooperativa”, lembra o presidente da Coopaben, Moacir Miranda.
A iniciativa de cooperativismo começou estimulada pela Emater, à medida que os próprios agricultores começaram a identificar que a problemática da comercialização perpassava pela necessidade de se profissionalizarem cada vez mais e, principalmente, de divulgarem seu trabalho e seus produtos – sendo que, unidos, a capacidade de negociação, a gestão de negócios e a credibilidade dos serviços, entre outras conquistas, aumentam consideravelmente.
“Aconteceu de eu, digamos, querer comprar jerimum, e, mesmo sendo agricultor, não saber se algum vizinho meu cultivava e vendia. Acho que a Cooperativa funciona como uma rede de serviços, de contatos, de lutas, de real agronegócio. Agora não produzimos isolados, nem invisíveis para os governos e para o mercado”, comemora o produtor Vicente Aguiller.
A Coopaben também tem feito frente para a criação da Secretaria de Agricultura, do Conselho Rural e do Sistema de Inspeção Municipal (SIM) em Benevides. “A ausência dessas entidades do município prejudica até a validação dos nossos serviços e produtos. Se tivéssemos SIM, por exemplo, poderíamos fornecer polpa de fruta para a merenda escolar, que é um beneficiamento nosso que chega a sobrar”, lamenta Miranda.
Indústria – A idéia, aliás, é que a abertura de mercado auxilie no processo de inserção tecnológica dos cooperados: “Pretendemos instalar uma agroindústria de processamento de hortifrutis e outra de polpa de frutas, coisas que hoje em dia ou pagamos pra fazerem ou fazemos artesanalmente”, acrescenta.
Outro desafio a ser enfrentado será a certificação dos produtos orgânicos. “O Pnae já dá preferência a alimentos orgânicos; ano que vem, porém, provavelmente seremos obrigados a oferecer uma porcentagem certificada, que tenha selo credenciado pelo Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento]. Esse processo de certificação, com bem sabemos, é caro e burocrático”, antecipa Moacir Miranda.
Ele aproveita para contar da dificuldade do pequeno produtor em instituir uma cooperativa: “É difícil, muito difícil, por muitas vezes contamos até dez para não desistir. É muito papel, é muita despesa, é muita dor-de-cabeça. Sem a disposição e disponibilidade de alguns de nós para terceirizar a mão-de-obra nas próprias propriedades e assim ter tempo para a burocracia do processo, e principalmente sem a retaguarda da Emater, não teria sido possível”, detalha.
A cerimônia da inauguração da sede da Coopaben será com um café-da-manhã baseado em produtos agrícolas da cooperativa. Os convidados poderão conhecer a história da Coopaben, seu trabalho atual e as possibilidades de parceria.
Segundo Shimpoo, o exemplo da Coopaben pode servir de referência para vários grupos da RMB, na qual municípios com grande potencial agrícola e comunidades repletas de experiência rural acabam funcionando como meras cidades-dormitórios – por falta de incentivos, de mercado estruturado e de organização dos agricultores. Para esses casos, diz ele, “planejamento, apoio governamental, profissionalização e acesso a políticas públicas significam verdadeira oportunidade para o agricultor familiar”.