Redação (15/12/2008)- Nem mesmo o apelo do mês de dezembro ajudou a segurar os preços das carnes no mercado interno, que tiveram forte queda na última semana. O quilo da suína (carcaça comum no atacado de São Paulo) foi negociado na última semana a valores 9,48% menores que os dos sete dias anteriores, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). A carne de frango teve preços retraídos em 6% no mesmo período, e a bovina, em 2%. A pressão de baixa já chega aos criadores, sobretudo aos avicultores e suinocultores, até então, imunes às retrações de preço na cadeia.
As carnes bovina e suína há dois meses consecutivos, pelo menos, registram queda de embarques ao mercado externo. Em outubro, as exportações (em volume) da bovina caíram 7,3% e a da suína, 9,7%. No mês seguinte, a retração foi bem mais acentuada, de 34% e 53,6%, respectivamente, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mas a falta de crédito no exterior e o pânico nos mercados atingiu em novembro também os embarques de carne de frango, que até outubro eram os que ainda ostentavam altas, embora tímidas, de 3,5%. A queda em novembro para este grupo foi de 20,7% em volume e 10,3% em receita. O resultado é que o quilo do frango resfriado no atacado de São Paulo caiu de R$ 2,67 no dia 5 de dezembro para R$ 2,51 na última sexta-feira, segundo o Cepea. O diretor da União Brasileira de Avicultura (Uba), Erico Pozzer, diz que na última semana houve também recuo do preço pago ao produtor que, até então, estava estável em R$ 1,65, e caiu 3% para R$ 1,60.
Ele afirma que a expectativa do setor é de recuperar preços a partir de janeiro de 2009, quando se espera que o número de pintos alojados caia para 400 milhões, ante os 496 milhões de outubro. "Em algumas regiões do País, como em São Paulo, o preço de R$ 1,60 já significa fechar no vermelho", alerta Pozzer.
Os preços do quilo da carne bovina (carcaça casada) saíram de R$ 5,28 no dia 4 de dezembro para R$ 5,17 sete dias depois, queda de 2%, de acordo com Cepea. Mas a queda no valor da arroba vem ocorrendo desde novembro, sobretudo com o recuo no nível de abate dos frigoríficos brasileiros que, desde o começo do ano, amargam queda nas exportações por conta do embargo da União Européia. De janeiro a novembro, as exportações de carne bovina caíram 20,5%, com a receita sendo mantida em alta de 22,3%. No entanto, há dois meses consecutivos as estatísticas mostram também queda na receita – de 13% em novembro e 7% em outubro.
De acordo com a Scot Consultoria, os preços da arroba do boi caíram 5,9% no mercado de São Paulo (Barretos) nos últimos sete dias, contados a partir de sexta-feira passada. De R$ 84, a arroba caiu para R$ 79. Como efeito da baixa do boi gordo, os preços do bezerro também recuaram na última semana 6,4% para R$ 720 (bezerro de 7 arrobas em Mato Grosso do Sul). "Tivemos dois leilões de bezerro nos últimos sete dias em Goiás e, em ambos, não houve nenhum negócio, o que é muito incomum. Os compradores querem pressionar os preços mais para baixo", explica Mozart Carvalho Assim, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
A expectativa de crescimento do rebanho bovino brasileiro foi frustrado por essa crise internacional, na avaliação de Sebastião Guedes, presidente da Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC). A projeção da entidade é que o rebanho em 2009 fique entre 193 milhões e 194 milhões de animais, exatamente o mesmo deste ano.
Outros produtos
O Índice RC, da RC Consultores e que mede o comportamento dos preços agrícolas no atacado, também teve queda de 1,4% na segunda semana deste mês na comparação com a semana anterior. A laranja (-21,1%), a batata (- 5,6%), a carne bovina (- 4,3%) e o leite tipo B (- 1,5%) foram os alimentos que mais pesaram na queda do indicador, que também registrou preços menores para a carne suína (- 1,4%), o algodão (- 1,2%), o leite tipo C (- 1,1%), o café (- 1,0%) e a soja (- 0,6%). No acumulado do mês de dezembro, o Índice RC de Preços Agrícolas mostra recuo de 2,6% em relação ao patamar médio de novembro. Em comparação com dezembro de 2007, a queda é de 5,2%.