Rio Grande do Sul
Devido à qualidade de seu plantel e de seu status sanitário, a avicultura gaúcha responde por mais de das exportações brasileiras, mostrado-se altamente qualificada para o atendimento do mercado internacional.
O Rio Grande do Sul ocupa hoje posição privilegiada no contexto da avicultura brasileira. Terceiro maior produtor de carne de frango do País, o Estado obteve um faturamento de R$ 1,2 bilhão com a atividade avícola em 2001. Com um plantel de 60 milhões de pintos de corte e 25 milhões de poedeiras comerciais, a avicultura gaúcha registrou uma produção de 900 mil toneladas de carne de aves e 3,3 milhões de caixas (de 30 dúzias) de ovos comerciais no último ano. Em 2001, o estado assinalou um alojamento de 587,4 milhões de pintos de corte e foi responsável pelo abate de 559 milhões de aves. O consumo per capta de carne de frango é de 31,8 quilos anuais, um dos maiores do País.
Devido à qualidade de seu plantel e de seu status sanitário, a avicultura gaúcha responde por mais de das exportações brasileiras, mostrado-se altamente qualificada para o atendimento do mercado internacional. Durante o ano passado, o Rio Grande do Sul enviou para o mercado externo 347 mil toneladas de carne de frango, tendo como principais importadores os países da União Européia, Oriente Médio e Mercosul. As vendas externas renderam ao Estado US$ 365,8 milhões.
Composta predominantemente por pequenas e médias propriedades, a avicultura gaúcha é de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do estado. “A avicultura gaúcha é responsável pela atividade e estabilidade de oito mil famílias de produtores integrados de frango de corte e 180 mini e pequenos produtores de ovos comerciais”, afirma Paulo D””””Arrigo Vellinho, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). O setor avícola é responsável ainda pela geração de 820 mil empregos diretos e indiretos. Uma das principais atividades pecuárias do estado, a avicultura participa com cerca de 5% PIB agrícola gaúcho.
Complexo industrial – O Rio Grande do Sul possui atualmente 16 frigoríficos com inspeção federal e seis pequenos e médios frigoríficos com inspeção estadual, reconhecidos e habilitados para o abate tanto para o mercado nacional quanto para o internacional. Do volume total de carne de aves produzidas no Estado, aproximadamente 60% são industrializadas e 40% in natura. O Rio Grande do Sul também é sede de sete das principais agroindústrias do País (Perdigão, Avipal, Miniano, Doux Frangosul, Pena Branca, Frigorífico Nicolini, Frinal). Essas agoindústrias desempenham papel fundamental na região, pois garantem aos produtores locais o escoamento de sua produção. Além dessas companhias, o Estado conta também com a atuação de três grandes cooperativas (Cotrefal, Languiru, e Cotrel) que têm na atividade avícola uma importante forma de diversificação e agregação de valor à sua produção agrícola. Por possuir um parque agroindustrial sedimentado e uma atividade avícola amplamente desenvolvida, todas as empresas fornecedoras que fazem parte do negócio avicultura, em seus mais variados segmentos, estão instaladas ou possuem representação no Estado. Para Vellinho a presença dessas empresas são importantes porque contribuem para “o beneficiamento logístico e econômico e consequentemente para a valorização do complexo avícola estadual”.
A avicultura gaúcha tem no sistema de integração uma de suas maiores características. O Estado foi um dos pioneiros na implantação do sistema no Brasil e possui hoje oito mil integrados, instalados em mini e pequenas propriedades que têm em média 10 hectares. No segmento de postura, apenas a Companhia Minuano e a Cooperativa Languiru produzem ovos no sistema de integração. Segundo Vellinho, o sistema de integração configura-se como a melhor opção para os avicultores gaúchos. “O sistema de integração garante a renda do produtor o que significa estabilidade, segurança e condições de vida”, afirma o presidente da Asgav. Fatores como o fornecimento de assistência técnica, abastecimento de ração, garantia de pagamento e atualização nos métodos de manejo e produção também são citados por Vellinho como outras vantagens do sistema de integração. Para ele, a principal dificuldade do sistema reside nos atuais custos dos insumos, principalmente milho e soja, que elevam os custos de produção da atividade e consequentemente reduzem os ganhos do produtor. Não é para menos. A avicultura gaúcha consome anualmente 2,2 milhões de toneladas de milho, 750 mil toneladas de farelo de soja e 250 mil toneladas de sorgo. Em sua opinião, a criação de linhas de crédito especiais para a modernização das propriedades avícolas e a adequação do preço dos insumos à realidade econômica do setor poderiam aprimorar o sistema de integração na produção avícola.
Um dos grandes trunfos da avicultura gaúcha é sua atual condição sanitária. O Estado desenvolve um trabalho de monitoramento efetivo que garante a segurança de seu plantel. Segundo a Asgav, pelo estado ser um dos principais exportadores e produtores de carne de frango e ovos do País os cuidados com a questão sanitária são rigorosos e permanentes. “Contamos com o apoio do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Secretaria da Agricultura do estado além da atuação da divisão de sanidade avícola da própria Asgav”.
São Paulo
Para enfrentar as dificuldades do setor, os produtores de ovos de Bastos (SP) formam parceira com o Sebrae para investir em capacitação empresarial e na qualidade de seu produto.
Tsunehiro Nakanishi já passou por inúmeras crises desde que assumiu a granja de postura de seu pai em 1969. Em todas elas, segurou as rédeas de seu negócio e atravessou o momento de turbulência com otimismo, mas nesta está preocupado. Na ponta do lápis ele vê seu custo de produção chegar a R$ 32 por caixa de 30 dúzias do ovo tipo extra (segunda quinzena de setembro), enquanto o mercado paga por esta mesma caixa somente R$ 26,50. Como ele, os outros produtores de ovos da região de Bastos, cerca de 500 quilômetros de São Paulo, enfrentam a mesma situação. “Não sei se é a idade que vai deixando a gente mais pessimista, mas nunca senti tanta dificuldade”, revela Nakanishi, hoje com 55 anos.
Um dos responsáveis pela crise é a alta do milho e soja, principais matérias-primas para a fabricação de rações. Com seus valores baseados em dólar, eles oneram a produção, cuja comercialização é feita em reais. “Estes produtos viraram um commodity internacional para o Brasil”, aponta Alfredo Onoie, diretor executivo do setor de ovos da União Brasileira de Avicultura (UBA). “Como o País precisa de dólares para equilibrar sua balança comercial, está incentivando a exportação de milho, que não é suficiente nem para o mercado interno”, critica.
Embora seja mais visível, e sentido diretamente no bolso, este não chega a ser o único fator responsável pela turbulência na atividade. O setor tem carecido de infra-estrutura e de adequação às novas exigências do mercado, algo que depende da ação direta dos produtores, o que parece estar começando a acontecer. Se toda crise tem realmente um lado bom, o desta parece ser o de estar aproximando os avicultores para discutirem a atividade. Nacionalmente vem ganhando força a idéia de se formar uma associação que defenda os interesses do setor. O presidente da Associação dos Produtores de Ovos do Estado de São Paulo (Apoesp), Edmir Donine, acredita que a nova entidade ajudaria na elaboração de estratégias de marketing, contribuindo para o aumento do consumo e equilíbrio do mercado.
Enquanto nacionalmente se discute esta nova associação, os avicultores de Bastos estão iniciando um movimento rumo a uma capacitação empresarial, ligada à qualificação do produto ovo, e que deverá resultar numa forma de união entre os produtores.
Um passo à frente do que está sendo feito no Brasil, graças ao apoio do Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), Estação Regional de Marília, que abraçou a causa avícola no município. A parceria teve início no final de 2000, quando o Sindicato Rural de Bastos procurou a entidade para encontrar uma forma de combater a inadimplência, que estava prejudicando os avicultores. O diretor executivo do sindicato, Yasuhiko Yamanaka, relembra que inicialmente a intenção era de um trabalho específico de no máximo seis meses. “Achávamos que até a porteira sabíamos como resolver e que nosso problema era da porteira para frente, mas o Sebrae achou que era necessário analisar todo o caminho da produção”.
A mudança de rumos se mostrou certeira. Marcos Aurélio, gestor de ações do Sebrae em Bastos, explica que o calote era apenas a ponta do iceberg, sendo necessário buscar as causas disto. Um estudo realizado em 64 granjas mostrou uma realidade na qual o produtor praticamente abdicou da comercialização. “Descobrimos que 73% da produção local estava sendo escoada para atravessadores e atacadistas”, afirma Aurélio.
Parceria com o Sebrae – Com o enfoque apenas na produção, o avicultor se distanciou do consumidor e dos pontos de venda. Sem comercializar bem seu produto, o resultado era a inadimplência. Para começar a reverter esta situação, o Sebrae, juntamente com os produtores, resolveram implantar um novo modelo de gestão. A Granja Koda foi escolhida como piloto, recebendo um consultor para criar uma estrutura administrativa, a qual já começou a ser repassada em outubro às outras 29 granjas que integram o projeto.
Márcio Gohara é um dos conselheiros de gestão da granja piloto. Produtor há sete anos, ele é um dos responsáveis por avalizar as idéias que estão sendo implantadas na Granja Koda. “Aceitar o desafio de um consultor foi uma das coisas principais, pois os produtores não aceitavam sugestões externas”, diz ele, relembrando as dificuldades iniciais enfrentadas pelo Sebrae, que hoje tem o apoio de grande parte dos produtores.
Tsunehiro Nakanishi, relutante no início, é hoje um dos que mais apoiam o plano de capacitação e modernização que está sendo implantado nesta parceria Sebrae-avicultores. Tanto que não se imaginava mais retornando ao aprendizado, coisa que voltou a fazer ao participar do Empretec, curso de capacitação empresarial oferecido pela entidade. Seus dois filhos, James e Alfredo Nakanishi, foram seus grandes incentivadores. Atuantes no novo rumo que a avicultura vem tomando na cidade, James é um dos conselheiros de gestão da granja piloto e Alfredo está trabalhando na implantação do programa de APPCC (Análise de Perigos em Pontos Críticos de Controle) na propriedade de seu pai e em outras duas, um trabalho inédito em granjas avícolas.
A implantação do programa APPCC é uma parceria do Sindicato Rural de Bastos, Sebrae, Embrapa e Senai. As três granjas escolhidas para a implantação inicial fornecerão as informações usadas como base para a elaboração de um Manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF), que depois será repassado as outras integrantes do projeto.
Bastos em números Foram catalogadas 84 granjas pelo Sebrae em 2001. Juntas elas possuem um plantel aproximado de 12,5 milhões de aves e representam cerca de 80% da receita do município. Destas: -> 45% possuem até 45 mil poedeiras |
Avicultura de corte
São Paulo possui hoje cerca de 4 mil granjas que geram mais de 400 mil empregos diretos e indiretos, de acordo com dados da Associação Paulista de Avicultura (APA). No Estado concentra-se boa parte das empresas avozeiras do País, chegando a produzir entre 40% e 45% das matrizes nacionais, além de ser o maior produtor de ovos, com 43% de tudo o que é produzido no Brasil.
O Estado responde por 2,3% das exportações do frango brasileiro (Abef/2001). Mas enfrenta problemas com o milho. A avicultura paulista consome perto de 3 milhões de toneladas, sendo que produz somente 3,6 milhões e isto não é destinado apenas para a atividade avícola, que é obrigada a comprar boa parte do que consome da região Centro Oeste.
Paraná
Produtores de ovos estão deixando a atividade por não terem subsídios nem incentivos do governo.
A avicultura do Paraná vem crescendo de forma espetacular nos últimos anos. Em 2001, o Estado abateu 671.998.690 cabeças de frangos, configurando-se como o primeiro maior produtor de carne de frango daquele ano. O mesmo não ocorre com a avicultura de postura. De acordo com a Associação Paranaense de Avicultura (Apavi), que respondeu apenas sobre a avicultura de postura, a atividade já foi significativa, na década de 90 chegou a ser a segunda maior na produção de ovos comerciais do Brasil, atrás somente do Estado de São Paulo. “Nossa posição hoje está aquém de classificação, a cada dia estamos com menos produtores, as granjas estão fechando”, diz João Carlos Danielli, da Apavi. Segundo ele, em todo o Estado existem cerca de 90 granjas de postura.
O plantel de aves de postura do Paraná é de aproximadamente cinco milhões de aves. A média de produção anual, com a melhora da genética e o aprimoramento do manejo, gira em torno de 80%. “As granjas de postura do Paraná não trabalharam marcas específicas, divulgam o nome da granja nas embalagens de ovos”, revela Danielli. Em termos sanitários, a avicultura de postura do Estado é bastante rigorosa. “Os produtores seguem as normas ao pé da letra.
Um dos principais problemas, apontados por Danielli na produção de ovos, é a injustiça de que cerca de 85% dos ingredientes para formulação do balanceado (ração) sejam cotados em U$ (dólar) e o resultado (ovo) seja comercializado em real. “É uma equação mortal, o Governo Federal deveria olhar para isto, pois o ovo in natura é quase que 100% consumido no Brasil e teria que haver um tipo de subsídio para quem não exporta seu produto final”, desabafa. “Caso contrário, no Estado do Paraná não restará muita granja para poder contar história, são produtores que há mais de 35 anos estão na atividade e hoje estão dispondo de bens adquiridos ao longo do tempo para tapar o rombo deixado entre o preço de produção e o preço de venda”. Segundo ele, os preços médios de venda hoje praticados no Estado para caixa com 30 dúzias de ovos tipo extra estão em torno de R$ 24,00. “Subtraindo a embalagem (que atualizou os preços 80%) sobram apenas R$ 21,00”, ressalta. E para produzir a mesma caixa, hoje o avicultor paranaense desembolsa cerca de R$ 29,00.