Redação AI (Edição 1129/2004) – O Produto Interno Bruto (PIB) da atividade agrope-cuária apresentou crescimento de apenas 3% em 2004, frente a uma expansão estimada de 4,5% para o conjunto da economia. Esses percentuais mostram que a atividade rural brasileira enfrentou dificuldades este ano, revertendo a tendência de crescimento superior à média geral da economia verificada em anos anteriores. Em 2003, por exemplo, o PIB da agropecuária cresceu 6,54%, conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP), enquanto o PIB total apresentou incremento de apenas 0,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento mais lento do PIB da agropecuária se deve a fatores como a quebra da safra de grãos, com perdas de dez milhões de toneladas, e forte aumento dos preços dos insumos.
O cenário para 2005 também se mostra pouco animador. O aumento mundial da produção, aliado à presença de grandes estoques, está derrubando os preços das commodities, em tendência que deve se manter durante o próximo ano. Mesmo assim, o setor continua contribuindo decisivamente para os bons resultados da economia, identificados no balanço anual da CNA. Apesar das dificuldades, o setor agropecuário garantiu uma balança comercial positiva, empregou mais e a comida ficou mais barata para o consumidor, afirma o presidente da CNA, Antônio Ernesto de Salvo.
O preço da alimentação, conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (IPC-Fipe), caiu 1,78%, entre janeiro e novembro, em termos reais. Na área externa, a previsão é de que o agronegócio obtenha superávit comercial de US$ 33 bilhões, fruto de US$ 38 bilhões de exportações e US$ 5 bilhões em exportações. Em 2003, o agronegócio registrou superávit de US$ 24,8 bilhões. As boas notícias envolveram também a geração de oportunidades de trabalho. Há estimativa de que o resultado acumulado do ano registre entre 90 mil e 100 mil novos empregos rurais, frente 58 mil novos empregos, em 2003. Mas isso não vai se repetir em 2005, advertiu Antônio Ernesto.
Carnes
O segmento de carnes foi destaque em 2004 e deve repetir a dose em 2005. Entre janeiro e novembro de 2004, o setor enviou 1,684 milhão de toneladas, com faturamento de US$ 2,25 bilhões. O total de exportações de carne bovina deve atingir 1,8 milhão de toneladas, dentro do conceito de equivalente-carcaça, gerando divisas de US$ 2,4 bilhões. Ao contrário do que ocorre no mercado de grãos, o cenário para o segmento de carnes é de estabilidade em 2005, pois não há tendência de queda substancial de preços. Para as commodities agrícolas, entretanto, o anúncio da super-safra nos Estados Unidos já começou a derrubar preços no final deste ano. Nem mesmo o aumento da próxima safra brasileira deverá compensar a queda dos preços das commodities, implicando em queda de renda para o produtor. Devido a esses fatores negativos, a CNA/Cepea-USP projetam que o PIB da atividade primária da agropecuária crescerá apenas 2,2% no próximo ano, ou seja, ainda menos que os 3% de 2003.
Um dos principais problemas enfrentados no campo, em 2004, foi a alta dos preços dos insumos, cuja tendência foi movida, pelo menos em parte, pela alta dos preços do petróleo. Entre janeiro e julho, os fertilizantes ficaram 17% mais caros, em média, enquanto o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu 8%. Os fungicidas utilizados para combater a ferrugem asiática nas lavouras de soja, além da oferta insuficiente para atender à demanda, apresentaram altas de 50% a 90% em julho, em comparação aos preços cobrados em janeiro. Os insumos subiram de preço e esqueceram de voltar, diz o presidente da CNA.
Prudência em 2005
Para 2005, a palavra de ordem é prudência, alerta o presidente da CNA. Os estoques mundiais são grandes, o crescimento brasileiro é pequeno e os preços dos nossos insumos subiram demais. Vamos fazer contas, olhar com cuidado. Não vamos parar de crescer, nem parar de produzir. Vamos até aumentar, mas vamos fazer isso com muito cuidado, alerta Antônio Ernesto de Salvo.
Um dos indicadores das dificuldades a serem enfrentadas é a estimativa de exportações de soja, que devem render divisas de US$ 9 bilhões, em 2005, frente aos US$ 10 bilhões deste ano. A previsão de queda no faturamento se deve à redução dos preços médios pagos pelo grão e não pela queda da produção. A produção nacional de soja, aliás, deverá subir de 49,7 milhões de toneladas, na safra 2003/2004, para no mínimo 59,5 milhões de toneladas, em 2004/2005. A produção aumenta porque produtores de culturas como milho receberam preços tão baixos este ano que deverão migrar para a soja, preferindo optar por uma lavoura que, apesar da queda de preço, tem liquidez e valores sustentados internacionalmente.
*Assessoria de Imprensa da CNA