Redação (18/04/07) – No Brasil, fontes do setor de carnes afirmam que o governo russo é que pode decidir pela retirada dos veterinários que atuam no porto de Itajaí (SC) na liberação de carnes brasileiras destinadas ao mercado da Rússia.
Segundo essas fontes, o visto de permanência dos veterinários no Brasil, renovado a cada três meses, expira no dia 25 de abril próximo, mas o governo russo não estaria disposto a renová-lo.
Um trader foi comunicado, semana passada, por um escritório de despachos que a vistoria das cargas não seria mais feita no Brasil e que a partir de agora as mercadorias seriam inspecionadas apenas nos portos russos.
O diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Nelmon Oliveira, disse que o ministério pediu à Rússia a renovação da permanência dos veterinários no Brasil, um procedimento que ocorre a cada três meses. Até agora os russos não responderam à solicitação. "Estamos no aguardo. A expectativa é de uma resposta positiva", afirmou Oliveira.
Questionado sobre o que o governo fará se a Rússia não renovar a permanência dos veterinários, Oliveira disse o Brasil irá "negociar" com os russos.
Duas empresas atuam no suporte aos veterinários que fiscalizam as exportações de carnes para para a Rússia. Na Vetrus, com sede em Itajaí, a informação de saída dos veterinários não foi confirmada, nem o vencimento de vistos.
Uma eventual retirada dos veterinários do Brasil preocupa os exportadores que temem que os russos causem problemas no desembarque das cargas de carnes brasileiras nos portos da Rússia, até impedindo o desembarque.
A verdade é que a presença de veterinários de Moscou nos países de onde importa carnes sempre alimentou suspeitas de corrupção e falta de transparência. No Brasil, cada tonelada de carne liberada para exportação à Rússia custa US$ 14,50.
Na UE, o próprio bloco decidiu mandar os veterinários russos para casa. "Julgamos que não havia mais necessidade nem justificativa de ter inspetores russos em nossos estados-membros", disse ao Valor o porta-voz da área sanitária da UE, Philip Tod. "Nossos padrões de controle para consumo doméstico e para exportação já são bastante elevados". Uma das alegações dos russos para manter veterinários no Brasil seria a suposta deficiência no sistema de sanidade brasileiro.
O fato é que UE fez pressão para os russos irem embora, alegando que a futura adesão de Moscou à Organização Mundial de Comércio (OMC) muda tudo. Com a adesão, o governo russo terá de respeitar o certificado sanitário dado pelos próprios países exportadores, ao invés de cobrar no porto de origem para liberar a carga. "A UE não estava satisfeita com isso [os inspetores russos em seu território]", disse o porta-voz.
O sistema russo também gerou suspeitas de que a exportação do Brasil para a Rússia era facilitada através de um esquema de pagamento adicional de milhões de dólares por ano, incluindo as aprovações a cada estabelecimento no país. Atualmente, a Rússia não segue o protocolo sanitário assinado com o Brasil e tampouco as regras da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Por conta de casos de aftosa em outubro de 2005, no Mato Grosso do Sul e no Paraná, a Rússia só importa carne suína do Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Santa Catarina, prestes a ser reconhecido livre de febre aftosa sem vacinação, continua sem poder exportar. A Rússia também mantém embargo à carne bovina do Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Para Hamilton Farias, presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), caso a Rússia venha a retirar de vez os veterinários do Brasil, o benefício seria uma economia "porque pagamos a estadia deles aqui", disse referindo-se à certificação russa, obrigatoriamente paga pelos exportadores brasileiros.