Redação SI (28/06/06)- Teve início, ontem, no auditório do SEBRAE-DF, em Brasília, um Seminário sobre Produção Integrada na Agropecuária, promovido pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento e a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). A iniciativa já é um gesto concreto no sentido de formalizar a criação de um Programa Integrado da Suinocultura, seguindo os passos de outros produtos agrícolas hoje já certificados e credenciados a operar junto aos mais exigentes compradores do mercado internacional.
Na abertura dos trabalhos, o Coordenador Geral de Sistemas de Produção e Rastreabilidade do Ministério, José Rozalvo Andriguetto, disse que a principal vantagem do programa é a chancela que confere ao setor no atendimento às exigências dos distribuidores. Dentre elas destacou a certificação, autenticada por empresas de renome internacional, para procedimentos que considerem o respeito ao meio ambiente, ao homem, que garanta alimentos seguros e que possam promover a identificação dos produtos no mercado. Os trabalhos consideram os dispositivos da lei 178/2002 da Comunidade Econômica Européia e da lei do bio-terrorismo, dos EUA.
O Presidente da ABCS, Rubens Valentini, durante a abertura agradeceu o apoio que a entidade tem recebido do Ministério da Agricultura e do Ministério da Indústria e do Desenvolvimento, especialmente neste momento de crise, no qual temos especial obrigação de nos aprofundarmos nas soluções de caráter estrutural para o setor.
A Gerente de Agronegócios do Ministério da Indústria e do Desenvolvimento, Rita de Cássia Milagres, ressaltou a contribuição para esse processo que pode ser oferecida pelo Fórum de Competitividade da Indústria de Carnes. Esse órgão reúne representantes do governo, do da iniciativa privada, do parlamento, da academia e dos trabalhadores. O assessor técnico da ABCS, Fabiano Coser, que participa ativamente das reuniões do Fórum, acredita que a união dos esforços entre o MIDIC, o Ministério da Agricultura e o SEBRAE vão contribuir decisivamente para a construção de um programa de excelência para produção e comercialização da carne suína brasileira.
FRUTAS: UM CASO DE SUCESSO
Até o ano 2000, uma pequena propriedade do Vale do Rio São Francisco, de apenas 6,3 hectares, dos quais 4,2 voltados para a produção de uva irrigada, trabalhava normalmente, sobrevivendo da venda da produção junto a empresas que depois comercializavam o produto no mercado externo. Ou seja, o produtor Marcelo Almeida Giesta dependia do preço formado basicamente pela indústria que adquiria o produto e mal conseguia repor seus custos de produção.
Desde 2004, operando os mesmos 4,3 hectares de uva, Giesta comercializa suas frutas para os mercados mais exigentes do planeta, como Estados Unidos e Inglaterra, esta conhecida pelo rigor com que seleciona os produtos alimentícios que importa. Para chegar neste ponto, Marcelo Giesta passou três anos trabalhando sob os auspícios do Programa Integrado de Frutas, através do qual o Ministério da Agricultura e a Embrapa injetaram tecnologia de produção e modelos de administração da pequena propriedade antes só disponíveis para grandes empresas.
As grandes não me deixavam nem entrar para conhecer um determinado procedimento, recorda-se Marcelo, que não deixa de assinalar que sua propriedade é visitada quase que diariamente por produtores de todos os portes querendo conhecer sua experiência de certificação de produto. Um número que realmente qualifica o sucesso da experiência de Marcelo: 67 produtores de frutas já obtiveram o diploma de certificação de produto, chancelado por uma empresa internacional especializada.
Giesta contou que os ganhos econômicos extrapolaram, e muito, a área de comercialização. O processo de certificação exige o controle absoluto de todos os procedimentos realizados na fazenda. Assim, ordens de serviço são arquivadas indicando o responsável e o tipo de tarefa determinado para um trabalhador. No bojo dessas providências, no lugar de pulverizar inseticidas seguindo a receita dos fabricantes, a fazenda de Marcelo passou primeiro a identificar o nível de incidência das pragas para depois determinar a quantidade de produtos químicos necessários para combatê-las. O resultado: redução de 30 por cento dos custos somente neste item do sistema de produção.
A produção integrada baseia-se no conceito de sustentabilidade, envolvendo: monitoramento; substituição de insumos poluentes; higiene e alimentação segura; preservação ambiental; racionalização do uso de agroquímicos; e respeito aos limites máximos de resíduos. Esses requisitos foram atendidos no prazo de três anos, a partir de treinamento, capacitação e assistência técnica, no caso proporcionada diretamente pela Embrapa.
Hoje, depois de algumas obras civis, a fazenda de Marcelo tem central de manipulação de agroquímicos, depósito de fertilizantes muito bem organizados e manuais desenvolvidos especificamente sobre boas práticas agrícolas. Marcelo Giesta se diz extremamente feliz e recompensado pela experiência: seu produto passou a ter um valor agregado considerável depois que entrou em mercados como o dos EUA, que exigem certificação de origem, mas também estão dispostos a pagar preços compatíveis com a qualidade dos produtos.