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Setor vive momento dicotômico

Indústria festeja aumento na produção, mas integrados acumulam prejuízos.

Redação AI 26/08/2003 – A avicultura na região vive dois momentos distintos. De um lado as indústrias comemoram o crescimento da produção e a possibilidade de abertura de novos mercados no exterior. Mas na base do setor, avicultores que atuam em regime de integração dividem suas preocupações entre o aumento nos custos – que continua subindo mesmo após o recuo na cotação do milho – e o congelamento nos preços pagos pelas empresas. Para este ano, a União Brasileira de Avicultura (UBA) prevê um crescimento de 7% na produção de aves em todo o País. O abate deve superar oito milhões de toneladas, puxado principalmente pelo crescimento das exportações – que podem ultrapassar 1,7 milhão de toneladas em 2003. Resultado, se confirmado, 10% maior que no ano passado.

Já no campo, para equilibrar as contas, avicultores que trabalham em regime de integração com as indústrias cobram reajuste no preço recebido por ave. Há pelo menos dois anos, por animal vivo e pronto para abate, o produtor no Triângulo Mineiro recebe entre R$ 0,14 e R$ 0,19. Para garantir a remuneração e permitir reinvestimentos no aviário, o preço ideal seria de R$ 0,30 por unidade, avalia o presidente da Associação dos Avicultores do Triângulo Mineiro, (Avitrin), Clarindo Irineu de Miranda.

As negociações com as indústrias começaram na última semana. Mais de 200 produtores integrados se reuniram em Uberaba. Pelas contas da associação, mesmo após o recuo nos preços do milho – que responde por 70% dos custo de alimentação das aves – o setor vem, nos últimos anos, acumulando prejuízos. O aumento nos chamados preços controlados, como tarifas de energia e do gás GLP – usado para aquecer os galpões – reduziu a rentabilidade do setor. Se não houver alteração nesse quadro, a avicultura na região pode inclusive inverter a tendência de crescimento prevista para este ano, afirma Clarindo Miranda.

Por conta da queda nos rendimentos, muitos avicultores, analisa Miranda, deixaram de investir nos aviários. O corte de gastos nos galpões pode inclusive interferir na produtividade. Para produzir 2,5 quilos de carne, o avicultor no Triângulo usa em média 4,75 quilos de ração. Mas para se adequar à realidade de custo, o produtor, explica Miranda, costuma reduzir o uso dos sistemas de aquecimento ou de ventilação dos galpões. Como a condição não é a ideal para produzir 2,5 quilos de carne, há um aumento no consumo de ração que passa a ser de 5,15 quilos, o que representa um aumento no consumo próximo a 8% por animal.

Na opinião do representante da Avitrin, há margem para que os demais setores produtivos ampliem a remuneração dos produtores, sem que seja necessário repassar o reajuste ao consumidor, que está com poder de compra reduzido. Ele lembra que enquanto o preço por animal permaneceu estável para os integrados, as indústrias aumentaram os preços para venda do frango inteiro, que passou de R$ 0,75/kg para R$ 1,25/kg. Um reajuste de quase 70%. “Precisa ficar claro que, melhor remunerado, o produtor tem condição de ser mais eficiente e com isso todo o setor ganha. Agora, apenas a indústria e o varejo ficam com o lucro”, diz.

No mercado há mais de 10 anos, o produtor rural Marco Aurélio Luís da Costa foi obrigado a cortar gastos no aviário para manter a rentabilidade. Na propriedade em que ele engorda 40 mil aves, a cada 42 dias são utilizados mais de 80 botijões de 13 quilos de GLP.

O custo, apenas com o gás, chega a R$ 1,6 mil. Valor que praticamente dobrou nos últimos cinco anos, período em que o preço pago por ave permaneceu congelado em R$ 0,17. Com um custo próximo a R$ 0,14, ele tem buscado alternativas para amenizar as perdas. Uma das medidas foi o prolongamento do uso das camas de frango – cobertura do aviário. Antes a troca era realizada a cada novo lote. Hoje, a troca se dá a cada dois ou três lotes. A substituição das cortinas, que fazem a proteção do galpão também não é feita no prazo ideal. Marco Aurélio conta que gostaria de substituir a proteção em intervalos menores que três anos, o que não é possível. Pelas contas do produtor, para criar as aves no padrão ideal, o custo por unidade hoje ultrapassa R$ 0,19, o que torna a atividade inviável. “É preciso rever a política de preços da indústria, caso contrário o setor produtivo ficará desmotivado”, finaliza.