O preço médio das terras voltou a subir no país no quinto bimestre (setembro-outubro) de 2009 e alcançou R$ 4.548 por hectare, segundo levantamento da AgraFNP divulgado ontem.
Em relação ao bimestre imediatamente anterior, a elevação do preço médio das terras brasileiras foi de 1,25%; na comparação com o bimestre setembro-outubro de 2008, a alta, nominal, chegou a 5%.
Segundo Jacqueline Dettmann Bierhals, analista da AgraFNP responsável pela pesquisa, o mercado ganhou liquidez e houve mais negócios, bem distribuídos pelo país e concentrados em áreas mais baratas. A logística disponível seguiu como importante diferencial.
O trabalho da consultoria destaca o avanço de investimentos estrangeiros em terras no Brasil. Para exemplificar esses movimentos, transcreve na íntegra as matérias “Fundos de investimentos elevam aportes no campo” e “Estratégicas cada vez mais agressivas para a compra de terras”, publicadas pelo Valor no dia 16 de novembro.
Jacqueline divide esses investidores estrangeiros em dois grupos: aqueles interessados nos rendimentos financeiros do aporte, que muitas vezes preferem áreas brutas com potencial de valorização, e aqueles com foco na produção primária em si, que até aceitam pagar um “prêmio” por áreas prontas para a atividade fim.
“O ‘prêmio’ é pago para garantir potencial produtivo logo no primeiro ano do investimento”.
Grande parte dessas áreas prontas, observa ela, está nos Estados de Mato Grosso e Goiás. No Centro-Oeste, a média do hectare ficou em R$ 3.424 em setembro-outubro, acima das médias do Norte e do Nordeste, mas bem abaixo do Sudeste e do Sul (ver tabela acima).
Apesar do interesse por terras mato-grossenses e goianas prontas para o cultivo, a valorização do preço médio do hectare nos últimos 12 meses foi menor no Centro-Oeste do que nas demais regiões. A alta foi de 2,9%, ante 9,2% no Sul, 5,1% no Norte, 4,9% no Nordeste e 3,1% no Sudeste. Nos últimos 36 meses, o salto do preço médio no Centro-Oeste (47,4%) só perde para o do Sul (54,9%).
Como as perspectivas para a economia brasileira em geral são positivas para 2010, Jacqueline Bierhals acredita que o mercado de terras deverá seguir aquecido, com liquidez e preços em ascensão. “O ano que vem será bem movimentado. É claro que há riscos, mas eles são menores para esse tipo de ativo”, afirmou ela.
“Seguramente a maior ameaça à economia brasileira que se pode vislumbrar na atualidade é a hipótese da formação de uma bolha especulativa com ativos brasileiros [ações, imóveis, etc], que logicamente quando do seu estouro poderia trazer problemas sérios para a chamada “economia real”, afirma o estudo publicado ontem pela AgraFNP.
“Já para aqueles que pretendem investir em terras no Brasil, a necessidade de se manter uma visão realista do mercado, não se permitindo entrar em movimentos de euforia, é total. O grande risco neste caso é o de se entrar numa onda de excessivo otimismo e se acabar por adquirir terras por preços injustificavelmente altos, diante do temor de se ‘perder a oportunidade’. A possibilidade da formação de uma bolha especulativa no mercado de terras é real, porém a probabilidade de acontecer no curto prazo é ínfima”, sustenta a análise, assinada por Jacqueline e José Vicente Ferraz, também da AgraFNP.