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Suíno verde chega às gôndolas do Carrefour

Chegou a vez do `suíno verde` buscar seu lugar nas gôndolas dos supermercados.

Redação SI 17/10/2002 – Na esteira do boi verde, o carro-chefe do marketing do Ministério da Agricultura para impulsionar as exportações de carne bovina, chegou a vez do `suíno verde` buscar seu lugar nas gôndolas dos supermercados. Um novo passo foi dado esta semana com o acordo entre a rede Carrefour e o grupo catarinense Prezzotto. Na prática, é a consolidação de um projeto de criação de animais a pasto (ao ar livre) em larga escala idealizado em meados dos anos 90 e implantado a partir do ano 2000 no município goiano de Cristalina, a 283 quilômetros de Goiânia e a 136 de Brasília. Na primeira etapa, a carne será comercializada nos quatro hipermercados da rede francesa nessas duas capitais.

A estrutura de criação montada pelo Prezzotto, grupo cujos braços de produção de grãos e sementes (soja, feijão e milho) e suinocultura tradicional serão responsáveis por um faturamento estimado em R$ 70 milhões este ano, está distribuída em uma área 150 hectares dos 1,5 mil hectares ocupados pela Fazenda Pantanal. Ao contrário das estrututuras convencionais, em que os animais são criados em ambientes fechados, o local foi dividido em piquetes, onde vivem 1,2 mil matrizes, com produção de 2,4 mil animais para abate/mês. A meta é chegar a 2 mil matrizes – cada uma produz, em média, 24 leitões por ano.

Durante o período de gestação, grupos formados por dez matrizes ocupam piquetes de meio hectare. Na época da procriação, são armados no local abrigos, utilizados pelos animais para a construção dos ninhos. Após a desmama, feita em até 25 dias, as matrizes voltam para o espaço reservado à inseminação, e os filhotes seguem para uma `creche`, onde permanecem cerca de 70 dias, período em que atingem 30 quilos. Este peso chega a 100 quilos entre 90 a 100 dias, quando ocorre o abate. Pelo menos 74% da carcaça é aproveitada para comercialização.

A estruturação desse processo, cujo investimento mínimo é estimado em R$ 3 milhões pelo diretor-presidente João Carlos Prezzotto, foi um caminho difícil. `Apanhamos muito no início`, recorda o diretor-comercial Fernando João Prezzotto. A principal dificuldade era a ausência de literatura que definisse tamanho de piquetes e pasto ideais para projetos de larga escala – Fernando diz que no Brasil a criação de suínos ao ar livre ainda é restrita a pequenas propriedades na região Sul, com até 20 matrizes.

Suportes para o projeto

O consenso sobre a metodologia veio de pesquisas da Embrapa Suínos e Aves e da Texas Tech University (EUA), onde foi localizado um projeto de uma granja com até 10 mil matrizes. Isto ajudou a definir que a área de criação seria povoada com capim estrela africana, o que melhor se adptou à região. Mas, com o andamento do projeto, outros problemas vieram à tona, como o grande número de abortos durante o período de gestação. Mas isto foi contornado com a construção de piscinas – a lama funciona como um protetor solar para os animais.

A principal preocupação foi a definição da genética dos animais a serem criados. O Prezzotto optou pela Dalland, de origem holandesa, que tem como principais características a docilidade e matrizes que produzem mais leite. `Estes suínos não têm o gen halotano, que torna os animais suscetíveis ao estresse, resultando em produto (carne) de menor qualidade`, explica Fernando Prezzotto. O plantel de avós é formado por animais criados em Santa Catarina, trazidos para o Centro-Oeste ainda jovens, para se adaptarem ao clima da Região.

Resultados preliminares de avaliações feitas em Cristalina apontam que a criação de animais ao ar livre pode ter resultados até 8% superiores aos do sistema convencional. No caso do Prezzotto, isto é garantido, além do manejo, pela nutrição, formulada pela própria empresa. Os principais insumos, milho e soja, são produzidos no local, e o balanceamento é feito por um nutricionista contratado exclusivamente para este trabalho. O capim não tem ingerência no ganho de peso, mas exerce um papel fundamental ao facilitar a disgestão.

A inclusão na lista de produtos com selo de Garantia de Origem do Carrefour, agora com 39 itens é o primeiro contrato de parceria no campo da suinocultura, deixa o Prezzotto mais próximo do mercado externo. O selo, lançado há quatro anos, está nos 30 países onde a rede de origem francesa atua. Levantamento do grupo aponta que remessas para o exterior de produtos alimentares com garantia de origem movimentaram US$ 4,2 milhões em 2001 e devem chegar a US$ 13 milhões este ano.

`Um acordo da rede privilegia o produtor onde ele atua`, lembra Arnando Eijsink, diretor de Agronegócios do Carrefour Brasil, lembrando que o `namoro` com o Prezzotto começou há cerca de um ano. Eijsink diz que, em uma segunda etapa, o `suíno verde` será levado a lojas da rede Champion e pode chegar a outras regiões.

Com dois abates semanais, feitos no Frigorífico Persa, em Cezarina (GO), o Prezzotto tem capacidade para fornecer, hoje, 400 toneladas/mês. O diretor-presidente da empresa diz que, embora o custo de produção seja maior, os preços, nesta etapa, serão similares aos da carne convencional, para garantir maior difusão do `suíno verde`.

Novos projetos

Um sinal de que o grupo está disposto a superar barreiras logísticas que dificultam a colocação da carne produzida em Cristalina em outras regiões por meio da parceria com o Carrefour é a decisão de implantar dois projetos semelhantes. O primeiro está sendo desenvolvido em Xanxerê (SC), onde a trajetória da empresa começou em 1971. O projeto, para atender o Sul é desenvolvido em uma área de 40 hectares, onde serão colocadas 500 matrizes.

A iniciativa de maior porte está destinada ao município de Paranatinga, em Mato Grosso, que vai abrigar 5 mil matrizes. Esta estrutura deve ser concluída em dois anos, a produção será destinada a mercados de maior porte de consumo, como São Paulo e Rio de Janeiro.