Redação (23/10/06) – Nesse programa, os arremates têm por base o preço mínimo estabelecido pelo governo federal. A seleção dos estados com direito a participar dos leilões é feita pelo Ministério da Agricultura. A prioridade é dada às regiões com carência de produção. No entanto, exceções podem ser feitas para Estados que tradicionalmente são grandes produtores e, eventualmente, enfrentem dificuldades para garantir o abastecimento.
Um documento preparado pelas Câmaras Técnicas de Suinocultura e de Avicultura do Conselho Estadual de Política Agrícola (Cepa) será encaminhado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) ao governo federal, assinalando que a medida deve ser adotada com urgência, para atender imediatamente ao abastecimento de milho, porque o Estado conta atualmente com apenas 66 mil toneladas do produto para comercialização.
Conforme explicou o secretário-adjunto de Agricultura, Marcelo Franco, durante a reunião conjunta das duas câmaras técnicas, a avicultura e a suinocultura consomem anualmente cerca de 4.300.000 toneladas dos cerca de 6 milhões de toneladas produzidas em Minas. O produto se destina ainda à alimentação de bovinos, eqüinos, caprinos e outras criações, além de atender ao consumo industrial. Como a safra passada foi de 5.300.000 toneladas, portanto 700 mil toneladas abaixo da média do Estado, a pressão de procura aumentou muito e o preço do grão aumentou, desde o início do ano, de R$ 12,00 para mais de R$ 20,00 a saca de 50 quilos. O produto ficou escasso porque, sobretudo na avicultura, houve a retomada das exportações, entre outros fatores.
Marcelo Franco informa que a oferta de milho em Minas Gerais foi compatível com a demanda durante dez anos, mas de dois anos para cá a produção caiu por causa de um conjunto de fatores, como problemas climáticos, baixa cotação do dólar e desestímulo ao cultivo por causa da redução das compras na avicultura. Este setor tem buscado equilibrar sua produção de frangos ao consumo e enfrentou problemas com as exportações por causa da gripe aviária em diversas partes do mundo, assinala. O secretário-adjunto acrescenta que a redução da safra no ano passado estava prevista e poderia ter menos efeitos negativos se o governo federal tivesse feito aquisições do produto para evitar a escassez e suas conseqüências.
Avicultura em expansão – O coordenador da Câmara Técnica de Avicultura do Cepa, Luís de Cássio da Paixão, admite que as granjas mineiras dependem de uma solução emergencial como a busca de milho nos leilões do PEP. O empresário diz que, atualmente, esta é a melhor alternativa para os membros da câmara, que ficaram surpresos com a informação sobre a pequena reserva de milho existente no Estado. Em sua opinião, os agricultores mineiros deveriam receber mais incentivos federais para ampliar as lavouras e assim oferecer mais de 6 milhões de toneladas do grão no próximo ano, pois existe uma tendência de aumento da procura pelos avicultores com o crescimento dos plantéis de frangos e poedeiras, além do aumento das exportações, acrescenta.
Segundo o empresário, enquanto Minas Gerais não participa dos leilões de milho, outros Estados se beneficiaram das primeiras vendas em Goiás, por exemplo, comprando grande quantidade do produto a preço baixo para exportar. Um levantamento feito na reunião das Câmaras Técnicas de Suinocultura e de Avicultura mostrou que os produtores mineiros cadastrados nas bolsas têm condições de buscar nos leilões de milho mais de 3 milhões de toneladas do produto.
Segundo Luís Paixão, está prevista a expansão dos criatórios avícolas, apesar da recomendação da União Brasileira de Avicultura (UBA) para os empresários ajustarem a oferta de frango à demanda. Essa orientação foi reforçada quando os problemas por causa da influenza aviaria em diversos países provocaram a redução das importações de frango, embora o Brasil se mantenha na liderança das vendas internacionais, que proporcionam cerca de US$ 3,5 bilhões anuais. Além disso, houve formação de estoques de carne de frango em muitos países, a parte que o Brasil não exportou ficou no mercado interno e, para garantir o escoamento da produção, foi inevitável reduzir os preços.
O empresário explica que mais adequada que a contenção dos programas de produção será estimular o consumo e, no caso do setor de ovos, em que ele atua, isso significa desenvolver programas para aumentar a procura dos atuais 95 ovos por pessoa/ano. Esta marca está muito distante da apresentada por países desenvolvidos, onde o consumo chega a 350 ovos por pessoa/ano, enfatiza Luís Paixão.
Suinocultor tem plano – O coordenador da Câmara Técnica de Suinocultura, José Arnaldo Pena, informa que os empresários do setor também contam com a possibilidade de obter milho por intermédio do Programa PEP. A cotação do saco de 50 quilos posto na Região Metropolitana de Belo Horizonte alcança R$ 24,00, explica. De acordo com o empresário, o preço alto estimula o agricultor de Minas, que pode reforçar o seu programa de plantio e assim garantir uma safra superior à estimada em 6 milhões de toneladas para daqui a cinco meses. Enquanto não temos essa safra para comprar, esperamos o socorro imediato do milho colocado em leilão, enfatiza.
Os problemas que os suinocultores enfrentam para adquirir milho e soja, matérias-primas para ração, fazem parte do Plano Setorial da Suinocultura de Minas Gerais apresentado pelo Comitê Gestor da Câmara Técnica. O trabalho preparado pelo comitê, formado por especialistas da Secretaria e de suas entidades vinculadas, aponta as necessidades dos empresários nas áreas de armazenagem, construção de silos, industrialização, reforma do plantel e implantação de biodigestores.
A questão tributária na suinocultura também está no Plano Setorial, que ainda mostra a necessidade de aprimorar os recursos humanos do setor, sugerindo convênios com o Sebrae e o Senar-Minas, por exemplo. Esse programa, segundo José Arnaldo Pena, será um importante suporte aos trabalhos de sanidade de certificação e rastreabilidade, dentro do programa de sanidade que está sendo implantado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Consumo por setores – Um levantamento realizado pela Companhia de Armazéns e Silos de Minas Gerais (Casemg), na reunião das Câmaras Técnicas de Suinocultura e Avicultura, mostra que, no Estado, o maior volume do produto é consumido pelas granjas avícolas. A produção de frango demanda anualmente 1,042 milhão de toneladas; aves de postura, 980 mil toneladas; matrizes, 98 mil toneladas; perus, 260 mil toneladas.
Os setores de suínos e de bovinos consomem, respectivamente, 930 mil toneladas e 420 mil toneladas de milho por ano. Nos criatórios estaduais de eqüinos, caprinos, ovinos, muares e outros a demanda anual é de 100 mil toneladas. Há também o consumo industrial de 230 mil toneladas, além de 30 mil toneladas para sementes e perdas e demanda por outros setores de 40 mil toneladas/ano.
A pesquisa foi realizada com base em dados da União Brasileira de Avicultura (UBA), Associação dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Anuário da Produção Agropecuária Brasileira (Anualpec), Conab e Casemg.