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Suinocultura penalizada

<p>Os prejuízos para a cadeia produtiva estadual ultrapassam os US$ 230 milhões, com pesadas perdas para os produtores independentes.</p>

Redação (30/05/06) – O governo federal entoa diariamente o canto ufanista que alardeia de Norte a Sul do país o sucesso da agroindústria exportadora brasileira, tendo como platéia-alvo os milhões de eleitores que irão às urnas em outubro próximo, e os produtores rurais, nesse meio tempo, perdem o sono às voltas com dívidas e toda sorte de problemas que obstaculizam a produção. A suinocultura catarinense, por exemplo, foi torpedeada em cheio pela desídia de Brasília, cuja estratégia para a agropecuária parece ater-se mais à retórica e aos fins propagandísticos do que ao desenvolvimento: desde que a atual administração federal assumiu, os recursos destinados à vacinação dos rebanhos nacionais vêm sendo reduzidos ao limite da temeridade, de tal sorte que não foi surpresa a eclosão, no Centro-Oeste, em 2005, de surtos de febre aftosa que levaram diversos países a suspender as importações de carnes brasileiras. Por conta desse amadorismo, a Rússia, principal comprador de carne suína catarinense, suspendeu as importações em 12 de dezembro passado, a despeito de ser o Estado o único do Brasil a credenciar-se com a certificação de área livre de aftosa sem vacinação.

Estes estão perdendo R$ 1 por quilo de carne, o que significa que a classe acumula prejuízos mensais de R$ 50 milhões – são abatidos, normalmente, 500 mil animais a cada 30 dias, no Estado. Eis aí um exemplo do quanto a morosidade e a falta de maior disposição do governo federal podem comprometer décadas de trabalho pertinaz de setores privados associados a uma administração estadual. Por décadas, Santa Catarina vem mobilizando um contingente significativo de técnicos e especialistas para o aprimoramento de seus rebanhos, para o desenvolvimento do cooperativismo e para a diversificação de mercados. No entanto, há meses o Estado vê-se alijado do mercado russo por conta de surtos de aftosa que irromperam a centenas de quilômetros do território estadual, sem que isso sirva ao menos para fazer com que Brasília atue com maior determinação junto a Moscou.

Faz o Estado sua parte. Na semana passada, esteve na Rússia um representante do governo catarinense, que retornou otimista com relação à possibilidade de as exportações serem retomadas nas próximas semanas. Mesmo que o sejam, não nos será lícito olvidar as terríveis falhas que o Executivo central cometeu e está cometendo, posto que o tratamento concedido por este ao setor primário deverá levá-lo, em breve, a uma crise maior que a que se presencia agora. Enquanto as autoridades federais não perceberem que não se faz desenvolvimento com discursos, por mais pirotécnicos e eloqüentes que sejam, persistirá a agropecuária brasileira a apontar para a redução da produção e da competitividade. Cabe ao governo assegurar investimentos substanciais em infra-estrutura (portos, estradas, silos de armazenagem, energia…), pesquisa científica, sanidade animal, crédito aos produtores e uma postura ousada na defesa internacional dos direitos comerciais brasileiros. Disso, temos visto muito pouco até aqui.