Redação SI 11/09/2003 – Tentando superar as grandes dificuldades pelas quais vem atravessando, a suinocultura brasileira atenta-se na estrutura uma nova estratégia de marketing, bem como em outras ações que prometem reverter o quadro de crise.
Gerada pela dificuldade dos pequenos produtores, causada em parte pelo baixo consumo de carne suína no País e pela exagerada oferta do produto, a crise tem sido discutida constantemente entre o setor, sendo pauta de várias reuniões ocorridas junto à 26 edição da Expointer, realizada em Esteio (RS) no mês de setembro. No evento, estiveram presentes além de produtores locais, representantes das associações de criadores de suínos do Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, políticos e empresários.
Para iniciar a reversão do quadro de crise no setor ficaram definidos alguns procedimentos como a elaboração de um novo programa de trabalho e o lançamento de um livro de receitas à base de carne suína, elaborado pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e pela Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), em parceria com o Senac. “A partir da definição da nova sistemática de trabalho em marketing, serão lançadas diversas campanhas para a valorização da carne suína, destacando seu sabor e benefícios”, explica José Adão Braun, presidente da ABCS. “Desta forma, tentaremos quebrar paradigmas que já estão enraizados na cultura da maioria dos consumidores e que ainda ficam reticentes”.
Um dos recursos utilizados pela suinocultura para a realização das campanhas de marketing e promoção é a arrecadação de 10% do valor de cada suíno abatido. Esta arrecadação vai para o Fundo de Promoção e Divulgação da Carne Suína, que fomenta todos os custos das ações de marketing da carne suína como comerciais em TV, rádios, folders etc.
Participam deste Fundo criadores associados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, assim como a agroindústria, que recolhe a taxa por suíno abatido. Do total arrecadado, 40% são destinados às ações nestes três Estados e 60% seguem para campanhas nacionais de promoção da carne suína.
Além das campanhas de marketing, também ficaram definidas outras importantes questões que rondam o setor como os financiamentos destinados aos suinocultores, a demanda de insumos e a sanidade dos animais.
Embora bastante preocupados com o que o setor tem vivido nos últimos meses, ainda há bastante otimismo por parte dos gaúchos. “Os ânimos estão melhorando, pois já estamos com perspectivas melhores e os preços estão aumentando”, diz Gilberto Moacir da Silva, presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS). “Infelizmente alguns produtores ficaram no caminho, mas os que persistiram têm bons motivos para continuar acreditando na atividade”.
Em nível nacional, a confiança também prevalece. “Sem dúvida acredito na recuperação do setor. Acredito que vamos ultrapassar a perspectiva que tínhamos de exportar 520 mil toneladas de carne suína neste ano”, revela José Adão Braun. “Podemos facilmente atingir a marca de 550 mil toneladas e o que nos anima muito é saber que estamos exportando para mais de 40 países, sendo os principais a Rússia, Hong Kong e Argentina”.
Dificuldades dos suinocultores
Embora tudo conspire a favor da recuperação, existem fatos que ainda precisam ser tratados com atenção. Isso está relacionado diretamente às questões dos financiamentos cedidos pelos bancos nacionais e que, por causa da crise, os produtores não estão conseguindo cumprir os prazos de pagamento. “O governo parece estar se esforçando, pois conhece as necessidades da suinocultura nacional. Mas, mesmo assim, temos tido dificuldade e não estamos tendo o retorno que precisamos”, diz Braun.
Por outro lado, o governo do Rio Grande do Sul tem se mostrado bastante atencioso à suinocultura. “Estamos insistindo de forma incessante junto aos órgãos responsáveis no governo federal para que se tome uma medida emergencial, que venha ao encontro dos pequenos produtores para que estes refinanciem as dívidas de 2002 para cá”, salienta o secretário da Agricultura, Odacir Klein.
Assim como o secretário, também o governador do Estado, Germano Rigotto, conhece bem o cenário da suinocultura e traça alguns projetos para um futuro próximo. “Estamos atuando de forma geral na suinocultura, nos preocupando não somente com a questão do refinanciamento das dívidas, mas também com a sanidade animal, onde temos feito um trabalho rigoroso de controle”, ressalta. “Da mesma forma, estamos incentivando o programa troca-troca, que proporciona melhoras significativas na obtenção de insumos, como também estamos tentando junto ao governo federal estabelecer uma demanda de milho que não oscile muito de um ano para o outro, para manter a estabilidade dos preços”.