Redação SI (30/06/06)- A profunda defasagem entre a qualidade do suíno produzido no Brasil e a imagem que consumidores brasileiros reservam para o produto já completou algumas décadas de história e resistência. E por quê as mais legítimas iniciativas articuladas pelo setor até hoje não produziram efeitos consistentes, apesar de a cada dia o aprimoramento tecnológico e de controle sanitário do processo produtivo produzir mais e mais argumentos em favor da qualidade do produto que desenvolvemos? Foi para tentar responder a esta pergunta que a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) criou um Conselho Médico que redigiu as primeiras monografias de caráter científico investigando o impacto do consumo de carne suína sobre a saúde humana.
As monografias foram reunidas num encarte distribuído junto com a edição de abril da Revista da Associação Médica Brasileira(RAMB). Além disso, a ABCS imprimiu mais cinco mil cópias suja distribuição está sendo programada para eventos médicos em todo o país. Produzir a gente sabe, mas faltava informação qualificada, com chancela científica, assinada por médicos e dirigida para médicos, que são formadores de opinião estratégicos para nossa atividade, comenta o Presidente da ABCS, Rubens Valentini.
Antes de chegar neste ponto, a ABCS realizou a primeira reunião para criação do Conselho Médico ainda em setembro do ano passado. Um dos critérios básicos observados: era indispensável que os profissionais envolvidos representassem áreas médicas diretamente relacionadas com os efeitos do consumo de proteína de origem animal e que fossem de inquestionável renome na comunidade científica que representam.
O contato inicial foi feito com o gastroenterologista Arnaldo Ganc, Chefe do Departamento de Endoscopia do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo, ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Arnaldo Ganc desde o primeiro momento demonstrou sua inconformidade com relação aos preconceitos vigentes com relação à carne suína. E se comprometeu a redigir uma monografia sobre a cisticercose, obedecendo aos critérios científicos exigidos pela RAMB, que é uma revista indexada e cujos artigos obedecem a parâmetros internacionais de redação.
Seria indispensável contar também com um cardiologista no time. A ABCS foi buscar a colaboração do Dr. Bruno Caramelli, Diretor da Unidade Clínica de Medicina Interdisciplinar em Cardiologia do Incor. Com Doutorado em cardiologia pela Faculdade de Medicina da USP, Caramelli é conhecido pelo rigor que imprime às suas avaliações médico-científicas. Ele aceitou fazer parte do Conselho Médico e foi de grande ajuda na formulação de uma política de Cortes Magros voltada para a ampliação do leque de produtos oferecidos ao consumidor brasileiro. Pela lógica de Caramelli, independentemente do tipo de proteína animal, os médicos estarão sempre favoráveis aos cortes dissociados de gordura, para minimizar os seus efeitos danosos sobre o sistema cardiovascular.
Não poderia faltar a contribuição da endocrinologia. O nome indicado foi o de Alfredo Halpner, um dos mais destacados na sua especialidade em todo o país.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e responsável pela obesidade na pós-graduação da USP, Halpner não só se comprometeu com o trabalho do Conselho Médico e com a produção de uma monografia sobre sua área, como se propôs preparar uma apresentação na qual analisa a evolução da condição nutricional do brasileiro diante do consumo de carne suína. Vice-Presidente da Associação Internacional para Estudos de Obesidade, Alfredo Halpner escreveu sua monografia sobre Obesidade, Saúde e Carne Suína. Em maio, ele apresentou o trabalho sobre nutrição, carne suína e quadro alimentar do país no Congresso Brasileiro de Gastronomia e Nutrição, realizado em São Paulo.
Por fim, somou-se á equipe outro cardiologista, com especialização em nutrologia, o responsável pelo serviço de terapia nutricional do Hospital do Coração, Dr. Carlos Daniel Magnoni. Autor de quatro livros sobre nutrição, Dr. Daniel caracteriza sua abordagem por uma visão holística, procurando verificar a inserção dos alimentos nas sociedades a partir de escolhas complexas, determinadas por fatores sociais, culturais e econômicos. Nesse sentido, ele explora o alto índice de consumo de carne suína em países de elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como, no mínimo, um elemento de análise que deve merecer especial atenção por parte do Conselho Médico.
As monografias agora estão sendo trabalhadas pelos membros do Conselho do ponto de vista dos desdobramentos que sugerem em termos de pesquisas científicas. A ABCS tenciona levar essas sugestões de pesquisas a parceiros identificados na comunidade acadêmica e nos órgãos de fomento do setor no governo federal.
Além disso, as monografias estão sendo distribuídas em congressos e eventos médicos. Em setembro, por exemplo, está sendo organizada uma apresentação para o Congresso Paulista de Nutrição. A interação com a comunidade médica a nível regional se dará no âmbito do Programa de Excelência da Carne Suína, que está em fase inicial de implantação pela ABCS.