O Ministério da Agricultura do Brasil trabalha na elaboração do Plano Agrícola e Pecuário da próxima safra (2012/13) com a expectativa de elevar ligeiramente os recursos destinados a financiar o setor no período, por conta do aumento dos custos de produção, disse nessa segunda-feira (19) o secretário-executivo do Ministério da Agricultura.
“Estamos em fase de levantamento dos dados e sugestões para o plano. Estamos ouvindo associações do setor, cooperativas, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos)… E trabalhamos com a expectativa de construir um plano de safra com um volume um pouco superior ao de anos anteriores, porque o custo de produção sempre aumenta um pouco”, disse o secretário-executivo, José Carlos Vaz.
O Plano Safra 2011/12 contou com recursos de 107,2 bilhões de reais.
Na avaliação de Vaz, o plano precisa ser qualitativo e indutor do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, não apenas para grãos, mas também para pecuária, cana e o setor florestal.
O secretário falou à Reuters antes de sua participação em evento sobre o cenário atual do agronegócio, no qual fala em políticas e programas governamentais para o setor.
Segundo ele, o novo plano deve trabalhar fortemente a questão da classe média rural e continuará a desenvolver a questão do seguro rural.
Vaz avalia que até o final de abril o governo já deve ter definidas as premissas deste novo plano agrícola e pecuário. A partir daí, deve partir para a questão operacional, como a definição de recursos, a fonte e o custo de dinheiro, para então anunciar o plano até meados de junho.
Questionado se haveria intenção do governo de antecipar a divulgação do plano, demanda recorrente de produtores agrícolas, Vaz afirmou que “gostaria de antecipar”, mas isso dependeria do processo de elaboração do plano.
O plano também contempla uma análise dos preços mínimos apontados para cada cultura, mas não implicaria necessariamente em mudança dos valores. O valor é usado como referência para definição de políticas de apoio ao setor.
Cana – O secretário-executivo ressaltou em sua apresentação no painel sobre os programas governamentais que a agropecuária brasileira precisa de um plano estratégico plurianual, compreendendo um prazo superior a um ano, para tornar o setor mais previsível.
Segundo ele, é neste sentido, por exemplo, que o governo vem trabalhando com a questão da cana. A meta é avaliar até onde o governo poderá atuar para ajudar o setor a construir uma “previsibilidade” de receita, tanto para a cana como para o produtor de etanol e açúcar.
Para ele, esta é uma alternativa que traz mais segurança ao setor, facilitando a captação de recursos a longo prazo para investir e elevar a produção.
“Estamos trabalhando com isso. Este ano ainda a gente constrói esta política, juntamente com as demais áreas do governo, que ajudará a dar esta previsibilidade”, disse Vaz.
Sem investimentos na renovação dos canaviais, e após dois anos de clima adverso, o setor viu a produtividade da cana despencar, o que resultou na primeira queda de safra em mais de uma década em 2011/12.
O governo anunciou recentemente um pacote de 65 bilhões de reais para estimular a produção de etanol em quatro anos. Contudo, ainda não definiu completamente sobre a fonte destes recursos.
O coordenador do GV Agro/FGV e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ponderou que o problema do setor esbarra na rentabilidade.
“O preço administrado da gasolina distorce o mercado de etanol… não vejo ninguém querendo fazer investimentos em greenfield (novos projetos), porque não há retorno”, disse Rodrigues, acrescentando que o governo precisa trabalhar uma estratégia para o setor.
Logística e escoamento – Já no painel destinado à logística, o diretor executivo da Associação Brasileira de Logística (Abralog), César Borges, criticou a imprevisibilidade do governo nos projetos de infraestrutura.
“Não pode depender de pessoas, com a queda de dirigentes do DNIT (Departamento Nacional de Infraestutura e Transportes), por exemplo, alguns projetos foram paralisados. Isso não pode acontecer”, disse Borges.
Ele observou que neste ano, com a antecipação da colheita da soja, a pressão sobre a movimentação no porto de Santos começou mais cedo, no início de março.
“O escoamento da soja está mais veloz este ano, por causa da colheita em Mato Grosso. Isso pressiona o porto”, disse.
Segundo Borges, já se contabilizam navios com espera de 15 a 20 dias, o que representa um custo para o setor.