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Mercado

Retrospectiva do mercado de suínos em 2009

Produção aumenta 13% em meio a crise, gripe A (H1N1) e preços baixos. Leia a análise exclusiva de Matheus Henrique de Almeida, pesquisador do Cepea.

Por Matheus Henrique Scaglia P. de Almeida
Pesquisador do Cepea
[email protected]

Produção

Mesmo com a gripe A (H1N1) – outrora identificada como gripe suína – e os efeitos da crise mundial, a produção nacional de carne suína até setembro foi 13% maior que a do mesmo período de 208, segundo dados do IBGE. Os dados da Pesquisa Trimestral do Abate da mesma instituição mostram que, entre janeiro e setembro deste ano, foram produzidas 2,2 milhões de toneladas do produto no País.

O estado que mais contribuiu para este feito foi Santa Catarina, com 656,5 mil toneladas, 98 mil a mais. Só a diferença é superior ao total produzido pelo estado de São Paulo no período (Tabela 1). Outro destaque positivo é o estado de Mato Grosso, que aumentou sua produção em 45% e, em pouco tempo, deve ultrapassar São Paulo no ranking e aproximar dos estados de Goiás e até mesmo de Minas Gerais.

São Paulo, por outro lado, foi destaque por seu desempenho negativo. Pelo segundo ano consecutivo, sua produção de carne suína foi reduzida. Nos três primeiros trimestre de 2009, as carcaças abatidas no estado somaram 94 mil toneladas. Esse volume representa queda de 4% em relação ao ano passado, período em que a produção já havia recuado 10% frente a 2007.

Tabela 1 – Peso das carcaças abatidas de janeiro a setembro de 2008 e de 2009.

2008 (A)

2009(B)

Variação (B/A-1)

Participação no total

Brasil

1.947,60

2.198,48

13%

Santa Catarina

559,87

656,50

17%

30%

Rio Grande do Sul

466,76

484,93

4%

22%

Paraná

337,81

386,38

14%

18%

Minas Gerais

204,83

236,71

16%

11%

Goiás

130,15

155,76

20%

7%

São Paulo

98,52

94,72

-4%

4%

Mato Grosso

60,80

88,34

45%

4%

Mato Grosso do Sul

53,38

57,36

7%

3%

Demais

34,68

37,78

9%

2%

Fonte: Pesquisa Trimestral de Abate – IBGE

Exportação

A exportação do setor em 2009 foi grande em volume, mas a valorização do Real e o preço relativamente baixo da carne no mercado internacional não geraram boas receitas. No acumulado até novembro foram vendidas ao exterior 496 mil toneladas de carne suína, quantidade 12,3% superior à de igual período de 2008. Este é o melhor resultado desde 2005. Cabe ressaltar que uma boa parte do produto embarcado nos meses de janeiro e fevereiro estava estocado nas empresas desde o final de outubro, mas não no porto de Itajaí/SC, que foi parcialmente destruído por chuvas excessivas naquele período.

A receita em Reais, por outro lado, recuou 11,7%, apresentando o pior resultado dos últimos sete anos. O montante recebido pela indústria exportadora até novembro é de R$ 2,11 bilhões – em termos reais, deflacionados pelo IPCA. Isso é resultado direto da queda da cotação da carne no mercado internacional. O valor médio da tonelada de carne suína exportada este ano foi de US$ 2.088, 24% menor que o do no ano passado.

A desvalorização do Real frente ao dólar chegou a compensar as perdas com o preço atémeados do ano. A partir do segundo semestre, com a melhora dos indicadores econômicos brasileiros, o Real voltou a se apreciar, diminuindo a receita das empresas.

Preços

Em 2009, os preços do setor suinícola foram, em uma primeira análise, muito afetados por dois choques externos de demanda: a crise mundial e o efeito negativo gerado pela gripe A (H1N1). A manutenção dos preços em baixos patamares, no entanto, é resultado dessa conjuntura externa coma produção elevada ao longo de todo o ano. As exportações regularam o maior ou o menor excedente no mercado doméstico, qualquer movimento da quantidade exportada impactava simultaneamente nos preços.

Assim como para boa parte do comércio mundial, a crise financeira internacional reduziu o crédito disponível também para a produção e para a comercialização de carne suína. A falta de dinheiro causou um choque de demanda, resultando na queda das cotações no mercado internacional. Apesar de muitos analistas considerarem que as exportações de carne suína não foram afetadas, é preciso lembrar que grande parte dos embarques de janeiro e fevereiro representou o envio de cargas que deveriam ter sido despachadas no final do ano anterior, o que não ocorreu devido a interrupções no porto de Itajaí. Pode-se afirmar, portanto, que boa parte da quantidade enviada no início deste ano já estava estocada, não se tratando de escoamento dos abates deste ano.

Em muitas regiões, os preços do suíno vivo começaram a cair no mês de outubro de 2008 e só pararam em março deste ano, acumulando quedas superiores a 40%. Na média do mês de março, o animal foi cotado a R$ 1,74/kg na região de Erechim (RS) e a R$ 2,26/kg na região de Belo Horizonte. Esses valores são 44% e 42% inferiores àqueles vistos na média de outubro/08.

No mês de abril, os preços começaram a se recuperar, puxados pela alta da carne no atacado, mas esse movimento foi interrompido pelasnotícias sobre a gripe A (H1N1), inicialmente chamada de gripe suína. Apesar de não haver nenhuma possibilidade de contaminação pelo consumo da carne cozida, o nome causou grande impacto negativo sobre as vendas do produto em alguns países, o que retraiu as exportações e pressionou as cotações domésticas e internacionais.

No início do segundo semestre, as empresas nacionais tinham “inundando” o mercado doméstico de carne suína e o único meio de baixar os estoques foi reduzir preços. Nas praças da região Sudeste, onde há muitos produtores independentes, as cotações voltaram a subir já no mês de agosto, por falta de animais no peso ideal para abate. Com a forte queda dos preços do início no ano, muitos suinocultores se desfizeram das matrizes. Alguns chegaram até a sair da atividade, reduzindo a oferta de animais a partir do meio do ano. Na região Sul, os preços só vieram a subir em setembro (Figura 1).

Esse cenário fez com que o suíno atingisse o maior valor do ano no mês de outubro na maioria das regiões pesquisadas pelo Cepea. Na médiadaquele mês, o quilo do animal foi cotado a R$ 2,70 em Belo Horizonte e a R$ 2,24 em Chapecó (SC), maior cotação média do ano para esta praça.

Em novembro e dezembro, no entanto, os preços foram novamente pressionados na região Sul pela redução das exportações. No Sudeste, sob efeito da demanda interna para final de ano, o comportamento é de alta.

Figura 1 – Cotação média mensal do suíno vivo em algumas regiões.
Fonte: Cepea/Esalq/USP

Figura 2 – Quantidade mensal de carne suína exportada pela indústria brasileira e cotação média do suíno na região de Chapecó/SC.

Nota: para o mês de dezembro foram considerados os valores até dia 18.