Redação (28/07/06)- A crise que afeta a agricultura brasileira está provocando efeitos colaterais profundos no setor de máquinas agrícolas. Até meados de 2004, o setor elevava as exportações e as vendas internas a cada mês. Mas com a queda nos preços das commodities, o recuo de produção em razão da seca e a desvalorização do dólar frente ao real interromperam as vendas e as máquinas começaram a ficar estacionadas nas concessionárias.
A conseqüência deste fatores é as demissões que assombram os funcionários. Até junho de 2004, antes da crise, o setor empregava 45 mil funcionários e em junho deste ano estava com aproximadamente 34,5 mil, o que resulta em 10,5 mil desempregados em dois anos. Os dados estatísticos referentes a máquinas e implementos agrícolas (sem considerar tratores) apontam que desde o início da crise verificada no segmento o faturamento mensal sofreu uma queda de 63%, ao passar de R$ 800 milhões para R$ 300 milhões.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, os indicadores negativos apresentam uma agravante que preocupa ainda mais o setor, que é a base de comparação – junho de 2005 -, quando já estavam muito baixos. O faturamento nominal não foi diferente, apresentando queda de 8,5%, seguido pelo desempenho das exportações (-5%) e dos pedidos em carteira (3,6%). A exceção ficou por conta do nível de utilização da capacidade instalada, que subiu 3,6%, embora ainda esteja em patamar muito baixo, em 62,97%.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (27-07) pela Abimaq, por ocasião da homenagem prestada ao ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Mello apóia as medidas do pacote cambial anunciado na quarta-feira. Ainda nessa direção, propõe a revogação da isenção do Imposto sobre Operações Financeiras nas aplicações internacionais nos mercados financeiros brasileiros.
O empresário reconhece o esforço governamental, em especial do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que busca abrir novos horizontes aos produtores de soja, milho, algodão e arroz. O alongamento das dívidas atingiu fatia importante do principal, da ordem de 80% para os produtores dos Estados do Centro-Oeste e Oeste da Bahia, e de 50% para os situados nos Estados da Região Sul, avalia.
Newton de Mello também comenta as medidas na área de financiamento. A redução das taxas de juros fixas do Moderfrota, do BNDES, de 9,75% para 8,75% ao ano para os pequenos produtores; e a diminuição de 12,75% para 10,75% ao ano, demonstram o esforço governamental em socorrer a agricultura, em particular as quatro culturas afetadas.
Apesar dessas medidas, o empresário considera que haverá uma redução significativa de área plantada e uma postergação dos investimentos em máquinas e equipamentos se mantida as expectativas atuais de que os preços de venda desses produtos não cobrirão os custos de produção.
Para Newton de Mello, o desenvolvimento deve ser a principal tônica e componente da política econômica do País. Por isso, defende que as autoridades econômicas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como ex-presidente do BNDES, priorizem os setores produtivos, além das metas de inflação e superávits primários. Como representante dos produtores que geram emprego, riqueza e tributos, alertamos para o risco da redução cada vez maior de máquinas produzindo bens e serviços, de grandes projetos de investimentos sendo desviados para outros países e da desindustrialização no Brasil, conclui o dirigente empresarial.
Setor de máquinas agrícolas demite mais de 10 mil funcionários
<p>Com a queda nos preços das commodities, o recuo de produção em razão da seca e a desvalorização do dólar frente ao real as máquinas começaram a ficar estacionadas nas concessionárias.</p><p></p>