Redação (29/08/2008)- O comboio com policiais federais e auditores do Ministério do Trabalho segue o ronco das motosserras.
A área de 44 hectares pertence à Petrobrás. A empresa fez um acordo com antigos proprietários para que desmatassem o terreno, que será utilizado para exploração de xisto.
Para a empreitada foram contratas pelo menos 40 pessoas trabalhando em condições precárias. Sem botas, luvas e, principalmente, sem carteira assinada. É uma irregularidade que não poupa nem menores.
“Eu tenho 16 anos e a mão está cheia de calo. A roça é assim”, concluiu o rapaz.
A jornada termina em barracos de lona, carroças e casebres abandonados. Para Zilda não há nem isso. Ela e o marido dormem num antigo galinheiro. “Eu não sabia que era um galinheiro”, contou dona Zilda.
“Caracterizado a condição de escravo pela condição degradante dos alojamentos”, disse o procurador do Trabalho, Gláucio Araújo de Oliveira.
Funcionários da Petrobrás estiveram no local, mas não quiseram gravar entrevista. "A gente não tem a informação do que está acontecendo e não tem como dizer", afirmou um deles.
Denúncias como esta são mais comuns em regiões isoladas do Centro-Oeste e Norte do Brasil. Mas de uns tempos para cá começaram a aparecer também no Sul. É um alerta para o Ministério do Trabalho, que resolveu criar um grupo especial móvel só para atender a essa região do país.
As ações se concentram no Paraná, que lidera o número de trabalhadores resgatados. No mês passado, 228 cortadores de cana foram libertados numa usina em Porecatu. Eram transportados junto com veneno agrícola, trabalhavam sem equipamentos de segurança e não tinham água nem banheiro.
Em nota, a Petrobrás informou que repudia o trabalho escravo e afirmou que, embora não tenha responsabilidade sobre a condição dos trabalhadores, colaborará para evitar que casos como este voltem a ocorrer.