Redação SI 05/07/2001 10:57 – Do dia 18 a 20 de Junho, a Ajinomoto Biolatina promoveu o Workshop Latino-Americano sobre Nutrição de Aves e Suínos, no Mabu Thermas e Resort em Foz do Iguaçu no extremo oeste do Paraná. Este evento contou com a participação de mais de 100 técnicos representando 52 empresas respondendo por volta de 70% da produção de aves e suínos da América Latina. Durante 3 dias os participantes estiveram em contato com palestrantes de reconhecido papel na produção animal do Brasil, dos Estados Unidos e Europa, abordando temas de interesse do setor.
Investindo em pesquisas em nutrição protéica, há três decadas, a Ajinomoto, reuniu grandes nomes, como Jean Noblet, que desenvolveu o conceito de Energia Líquida, Horácio Rostagno, responsável pelo desenvolvimento das Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos, Juarez Donzele da Universidade Federal de Viçosa, Jes Callessen nutricionista especialista em suinos na Dinamarca, Colin Fisher do Reino Unido, Michael Kidd da Universidade de Mississipi, James Usry e David Burnham da Ajinomoto Heartland, trazendo os mais recentes avanços técnicos em nutrição energética e protéica, os dois nutrientes mais custosos das formulações, de forma bastante prática e aplicável às condições brasileiras.
Neste artigo, vamos resumir os principais tópicos direcionados aos produtores de suínos. Os trabalhos na íntegra, tanto da sessão de suínos quanto de aves, podem ser acessados no endereço eletrônico www.lisina.com.br .
Nutrição Energética
Sendo a ração o componente mais caro na produção animal, e o nutriente energia representa a maior proporção deste componente, em termos de custo, é importante estimar com precisão o valor energético dos ingredientes para cálculo de dietas a custo mínimo.
Pode-se atribuir diferentes valores de energia aos alimentos, segundo a etapa fisiológica considerada na utilização da energia e o método usado para a estimação de cada etapa. Em 1994, Jean Noblet propôs o sistema de energia líquida EL para estimação dos valores energéticos de ingredientes individuais e rações completas, e por levar em consideração as diferenças da utilização metabólica da EM entre os nutrientes, apresenta-se como estimativa mais verdadeira do valor energético da ração. Durante o workshop, os participantes puderam elucidar as minúncias deste novo sistema.
A EL pode ser definida como EM menos o incremento de calor associado com a utilização metabólica da EM e ao custo energético da ingestão, digestão e alguma atividade física. A razão entre EL:EM (k) corresponde à eficiência de utilização da EM pela EL, que pode variar de acordo com as características físicas da ração, já que os nutrientes (carboidratos, aminoácidos, ác. graxos voláteis, etc) não são utilizados com a mesma eficiência. Em estudos conduzidos em suínos em crescimento e matrizes em mantença, foi obtido um valor médio significativamente mais alto de k quando a EM foi usada para mantença (km) do que para crescimento (kc) (77 x 74%). Esta diferença é explicada pela maior capacidade digestiva do intestino grosso de animais mais pesados e taxa de passagem mais lenta pelo trato digestivo. Ambas as razões aumentaram quando os teores de gordura e de amido foram mais altos e diminuíram quando os teores de proteína ou de fibra aumentaram. Estas diferenças nas eficiências significam que o incremento de calor (por unidade de energia) associado à utilização metabólica de energia é maior para proteína bruta e fibra dietética do que para amido ou extrato etéreo.
Em termos práticos, seria recomendável trabalhar-se com valores energéticos diferentes para animais em crescimento e animais adultos quando do uso do sistema de ED. Também, dietas com níveis protéicos mais elevados resultam em maior incremento calórico, enquanto dietas com maior inclusão de gordura resultam no oposto, devendo ser consideradas em condições de estresse calórico.
Em outra apresentação, James Usry, descreve o sistema de avaliação energética chamado nos Estados Unidos de “Energia Metabolizável modificada”, proposto por Dean Boyd (PIC USA). Neste sistema , o valor de EM do milho é tomado como base, e os demais ingredientes são ajustados com esta referência.
Uma constatação interessante tanto no sistema de EL quanto no sistema de EM modificado é que o valor da energia do farelo de soja apresenta-se muito mais baixo que o milho do que o empregado até então (Tabela 1).
Usry apresenta dois ensaios de desempenho em leitões que corroboram a hipótese acima. Empregando o conceito de EM modificada, em dietas a base de milho e farelo de soja, manteve as dietas isocalóricas através da redução da gordura e do farelo de soja, e observou aumento de 3% no ganho médio diário (GMD) e 4% na ingestão média diária de ração (IMDR) para cada 1% de remoção de farelo de soja. A conversão alimentar (CA) melhorou em 0,4 a 1% para cada 1% de redução do farelo de soja.
Na Tabela 2, temos as equações para a predição da EL e podem ser baseadas em informações disponíveis em tabelas nutricionais convencionais (pelo menos para suinos em crescimento) e são aplicáveis tanto para alimentos quanto para rações completas. A maior utilidade econômica destas equações é o fato delas poderem valorizar os ingredientes de forma mais correta, como é o caso farelo de soja apresentado acima. Lembrar da importancia das informações sobre a digestibilidade da energia ou dos demais nutrientes para a predição do teor da EL sejam confiáveis. Neste sentido o professor Horácio Rostagno apresentou, neste evento, uma excelente revisão das metodologias usualmente utilizadas para determinação da digestibilidadedos aminoácidos e de outros nutrientes.
Para determinação das exigências de energia líquida a partir da energia metabolizável, deve-se aplicar a correção a partir da constante k = 0,74.
Nutrição Protéica
Em função de fatores econômicos de produção e processamento dos suínos, as agroindústrias passaram a incentivar a criação de suínos com alto rendimento de carne e baixo percentual de gordura. Esse fator levou a seleção de animais de alto potencial de deposição de carne magra, desempenho e eficiência alimentar. Sob o tópico Nutrição Protéica, Dr. Juarez Donzele apresentou uma extensa revisão das necessidades de lisina para suinos de acordo com seu potencial genético (Tabela 3), indicando que não é satisfatório estabelecer as exigências de lisina com base apenas no seu peso corporal.
Nesta mesma linha, James Usry mostra resultados muito interessantes de suínos de alto potencial genético, alimentados com dietas com valores energéticos mais altos na fase de recria e engorda, onde estes animais apresentam melhora do rendimento de carcaça e conversão alimentar, desde que mantida inalterada a relação Lis:EM da dieta. A partir destes dados, Usry foi capaz de derivar uma equação que prediz o rendimento de carcaça incremental em função da inclusão energética:
% Rendimento = 3,68 x EM (Mcal/kg) + 63,4
Assim, uma dieta típica à base de milho e farelo de soja, com 3,3 Mcal/kg, e uma dieta com 5% de adição de gordura contendo 3,5 Mcal EM/kg, então o rendimento seria aumentado em 0,8%. Com base no peso vivo, um animal com 120 kg, esta carcaça renderia 1 kg a mais.
Jes Callesten, Médico Veterinário do Comitê Nacional para Produção de Suínos, da Dinamarca, apresentou um panorama da produção neste País, após a proibição do uso de antibióticos promotores de crescimento (APC). Problemas como diarréia pós-desmame, infecções crônicas por Lawsonia intracellularis, sobrecarga nutricional e má utilização dos nutrientes da ração foram os que mais impactaram o desempenho dos animais após esta medida. Callesten citou que os cuidados com o microclima das baias, sistema tudo-dentro tudo-fora, uso de acidificantes e redução do nível de proteína bruta e farelo de soja das rações foram os tratamentos que mais beneficiaram o desempenho e sanidade de leitões neste novo contexto de produção.
Conclusão
Em síntese, melhoras significativas na predição do desempenho dos animais podem ser obtidas a partir do melhor conhecimento da digestibilidade da energia e outros nutrientes, que dependem das características químicas da ração, dos tratamentos tecnológicos (ex.: peletização, aditivos) aplicados a ela, e dos fatores animais (ex.: peso corporal e genótipo). A partir do sistema de EL, o nutricionista passa a ter melhor estimativa do valor energético das rações, tendo melhor avaliação econômica de cada ingrediente nas rações. Além disto a predição do desempenho dos animais também tornam-se mais precisas.
Os genótipos de grande potencial de deposição de carne magra apresentam resposta satisfatória em termos de conversão alimentar e rendimento de carcaça com níveis energéticos mais altos quando a relação lisina:energia é mantida constante. O melhor conhecimento das exigências passa pelo entendimento dos processos de deposição de proteína e gordura na carcaça, que são diferentes nas etapas de desenvolvimento, sexo, genótipos e estado sanitário dos animais.
Tabela 1. Teores de energia para alguns ingredientes
(Mcal/kg MS)
Ingredientes
ED
EM
EL
ED em relação
ao milho
EM em relação
ao milho
EL em relação
ao milho
Milho
3,99
3,92
3,10
100
100
100
Trigo
3,90
3,81
2,94
98
97
95
Sebo Bovino
8,54
8,46
7,52
214
216
243
Farelo de Soja
4,12
3,72
2,26
103
95
73
Farelo de trigo
2,76
2,62
1,87
69
67
60
(Noblet, 1995 citado por Usry, 2001)1
1.Todas as referências podem ser acessadas nos Anais do Workshop Latino Americano Ajinomoto Biolatina, disponível no site www.lisina.com.brpor Marcos Fraiha, Gerente Técnico, Ajinomoto Biolatina