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Comentário Suíno

Diarreia nutricional em suínos

Nos suínos, a diarreia infecciosa é a mais comum de aparecer em forma de surtos. Os agentes envolvidos são muitos, no entanto, na fase de creche se destacam os agentes como PCV2, <em>E. coli</em> e rotavírus

Diarreia nutricional em suínos

Na suinocultura atual, nos deparamos diariamente com desafios sanitários em nossas granjas. Situações comuns em um sistema de produção confinado e com grande volume de produção. Nesse sentido, a diarreia chama a atenção, uma vez que esse sinal  é de fácil observação. Nitidamente o cuidador ou o técnico consegue discernir se as fezes estão normais ou alteradas.

Nos suínos, a diarreia infecciosa é a mais comum de aparecer em forma de surtos. Os agentes envolvidos são muitos, no entanto, no período de amamentação, os mais importantes são o Clostridium sp., Escherichia coli, rotavírus e Isospora suis. Na fase de creche se destacam os agentes como PCV2, E. coli e rotavírus. Já na recria e terminação aparecem a Lawsonia intracellularis como protagonista. Também são comuns a enterites associadas ao PCV2, Brachyspira, E. coli, Salmonella sp.

Esse complexo de doenças é desencadeado de uma maneira multifatorial e para seu controle todas as medidas de biosseguridade e sanitárias são necessárias para manter a       homeostasia intestinal.

Dentre tantas causas, ainda podemos citar as diarreias inespecíficas que acometem os suínos em todas as fases de produção. Essas diarreias, no geral, estão relacionadas ao ambiente e são de difícil diagnóstico, uma vez que muitos são os fatores envolvidos e podem ser consequências de outros gatilhos sanitários. As diarreias nutricionais, por sua vez, têm grande importância nesse quesito, podem estar envolvidas ou não no desencadeamento de uma enterite infecciosa, se não forem diagnosticadas corretamente. Portanto, esse artigo tem como objetivo revisar as diarreias inespecíficas com foco nas causas nutricionais.

A nível de maternidade, se observa que os leitões costumam apresentar episódios diarreicos já na primeira semana de vida, sendo que, devido a sua etiologia, não costumam causar grandes prejuízos e os leitões se recuperam sem a necessidade de medicação. O consumo de colostro é o fator mais importante nesses episódios, leitões que não ingerem boa quantidade de colostro, além de não se abastecer de imunoglobulinas também tem seu desenvolvimento intestinal prejudicado. O colostro auxilia na maturidade intestinal e confere proteção para os principais agentes infecciosos envolvidos nas patogenias das diarreias.

Outro fator importante envolvido, são leitões que ingerem um volume alto de alimento e por esse motivo não digerem bem o leite, causando uma diarreia de passagem. Além disso, episódios de estresse da matriz e falta de consumo de água são outros motivos que podem facilitar diarreia no leitão.

Na creche, o baixo consumo de ração logo após o desmame é a principal causa de distúrbio intestinal. Sabe-se que os leitões necessitam ter acesso ao alimento logo após o desmame, justamente para adaptar os animais a dieta sólida e acelerar seu desenvolvimento na primeira semana pós-desmame. A idade ao desmame impacta muito nesse fator, no entanto, o conceito é igual para todas as idades usualmente desmamados. A falta de ingestão ou o baixo consumo podem desencadear um desequilíbrio da flora intestinal e má digestão por encurtamento de vilosidades e aumento da permeabilidade intestinal às toxinas e agentes intestinais. Como consequência, leitões desmamados apresentam episódios de diarreias sem envolvimento infeccioso, porém com riscos de evoluir para uma causa infecciosa e aí sim causar grandes prejuízos em mortalidade de leitões e baixo desempenho na fase. Portanto,  manejos que estimulam o consumo da ração nesse período sempre devem ser prioridade.

Nessa fase, outro cuidado que se deve ter é em relação com a qualidade da matéria-prima que compõem a dieta. A fim de se obter o melhor desempenho e com alta digestibilidade dos nutrientes, a matéria-prima deve ser controlada, para eliminar as oscilações e controlar possíveis contaminações, adulterações, qualidade do processamento e composição. Em dietas de alta complexidades, a matéria-prima de baixa qualidade e baixa digestibilidade pode acarretar perdas, como por exemplo diarreia. Como exemplo disso, há forte relação com a utilização de amido resistente e polissacarídeos não amiláceos com diarreias causadas pelas espiroquetas (Brachyspira). Pela baixa digestibilidade de alguns vegetais e fontes de amido, a alta fermentação no intestino delgado parece facilitar a multiplicação desse agente em suínos portadores, passando de um estado de portador para doente.

As micotoxinas também agem de uma forma semelhante, facilitando a multiplicação bacteriana pelo processo inflamatório e acúmulo de muco intestinal, levando a quadros de diarreia. As micotoxinas exigem uma atenção especial, de muita

Complexidade, e com diferentes atuações por uma variedade de fungos que desencadeiam problemas de desempenho, imunológico e quadros respiratórios e entéricos. A ciência evoluiu consideravelmente na pesquisa da patogenia e no controle das micotoxinas, isso elevou a confiança dos nutricionistas em formular com os alimentos de origem vegetal. No entanto, a nível de campo exige uma atenção especial em conseguir identificar a presença da micotoxina associada a quadros entéricos.

São muitos os relatos na literatura que comprovam a sinergia entre componentes da dieta com multiplicação bacteriana. A E. coli é um dos agentes que se multiplica com muita facilidade em leitões que ingerem alimento de baixa digestibilidade ou por má adaptação a dieta e, consequentemente, sobra de nutrientes, os quais servem de substrato para a multiplicação a nível de intestino grosso.

Gorduras insaturadas e presença de peróxidos na ração são responsáveis por gerar inflamação e radicais livres que podem desempenhar um papel significativo na patogenia de diarreia. Atualmente, as farinhas de carne de origem animal são amplamente utilizadas nas dietas e suínos. No entanto, são sensíveis à estabilidade na qualidade. De fato, por vezes a substituição de uma dieta sem a presença desse ingrediente em estágio de putrefação acaba por solucionar o quadro entérico.

As diarreias em suínos servem de alerta ao produtor, certamente é um desafio pela complexidade dos quadros e por ser multifatorial pode, por muitas vezes, serem interpretadas de forma errônea. A identificação das lesões e exames complementares facilitam o entendimento de cada quadro. Certamente os nutrientes apresentam um papel importante no combate a quadros de origem nutricional e isso faz com que o produtor se atente sempre em buscar a melhor qualidade possível de ingredientes e fórmulas, evitando perdas zootécnicas.