O desmame é um período crítico para os leitões, marcado por uma série de estressores, como a separação da porca, reagrupamento com porcos desconhecidos, mudança de ambiente e alteração na dieta. Esse conjunto de mudanças abruptas gera um alto nível de estresse nos leitões, o que pode impactar seu bem-estar e desenvolvimento. A Dra. Irene Camerlink, especialista em bem-estar de suínos, levanta a questão sobre a prática comum de incentivar a ingestão imediata de ração após o desmame e sugere abordagens mais equilibradas.
É amplamente reconhecido que o estresse afeta a digestão. Assim como nos seres humanos, os leitões também podem apresentar problemas digestivos, como diarreia, quando submetidos a situações estressantes. A diarreia pode acarretar perda de nutrientes, energia e levar à desidratação, aumentando o risco de infecções. Portanto, forçar a ingestão de ração logo no dia do desmame pode ser contraproducente. Em vez disso, o foco deve estar em garantir que os leitões bebam o suficiente, evitando complicações ainda maiores.
A ingestão de líquidos é crucial durante o desmame. Para incentivar os leitões a beber, pode-se utilizar sucos diluídos, como suco de maçã, ou até mesmo limonada, já que os leitões têm preferência por sabores doces. Essa abordagem estimula visitas ao bebedouro, garantindo a hidratação necessária. Além disso, polvilhar pequenos pellets de ração no chão pode servir como um estímulo exploratório, incentivando o comportamento de forrageamento.
Para mitigar o impacto negativo do desmame, é fundamental que os leitões sejam introduzidos à alimentação sólida antes dessa fase. Na natureza, os leitões começam a explorar alimentos sólidos a partir da segunda semana de vida. Oferecer pequenas porções de ração, junto a materiais mastigáveis, como palha picada ou composto de turfa, pode facilitar a transição. Essa prática ajuda a familiarizar os leitões com a ingestão de alimentos sólidos, observando o comportamento da porca, o que acelera o aprendizado.
Uma abordagem mais gradual, como a adotada na fazenda de pesquisa mencionada por Camerlink, pode ser altamente eficaz. Ao permitir que os leitões fiquem no mesmo cercado de parição por mais uma semana após a remoção da porca e retardando o reagrupamento até pelo menos seis semanas de idade, é possível distribuir os estressores ao longo do tempo. Dessa forma, os leitões têm tempo para se adaptar gradualmente, reduzindo significativamente o risco de diarreia e queda de crescimento.
Adotar essas estratégias demanda esforço adicional, mas os benefícios em termos de bem-estar animal e saúde dos leitões são evidentes, resultando em cercados com leitões saudáveis e brincalhões, mesmo nos dias de desmame.
Fonte e tradução: Pig Progress