Conforme abordado no primeiro artigo sobre nutrição de creche (clique aqui), idade ao desmame, espaço de comedouro e alto consumo de ração após o desmame são pontos críticos para maximizar o desempenho na fase de creche. Baseado no desenvolvimento do sistema digestivo do leitão após o desmame, as granjas têm trabalhado com 3 a 4 dietas na creche. Neste segundo artigo, irei descrever a visão macro do programa nutricional com 3 dietas. Sendo a primeira fase de 5.5 a 7 kg, a segunda de 7 a 11 kg e a terceira de 11 a 25 kg de peso vivo dos leitões.
Como o objetivo da primeira dieta da creche é maximizar o consumo de ração, o custo será elevado, pois terá altas inclusões de lactose e proteínas especiais (plasma animal, farinha de peixe, farinha de sangue, subprodutos da produção de heparina, concentrados de soja, entre outros). Além disso, a lisina digestível nesta dieta será mais elevada do que nas outras rações de creche. O custo da primeira dieta, normalmente, corresponde a apenas 15% do custo total do programa de nutrição da creche, por isso mesmo tendo um alto custo, os benefícios de auxiliar os leitões no processo de desmame com alto consumo de ração e menor taxa de refugagem são mais importantes que o custo. O uso de farelo de soja ou não na primeira dieta é motivo de discussão entre nutricionistas ao redor do mundo. Baseado nas nossas pesquisas e experiências de campo, consideramos importante utilizar, pelo menos, uma pequena inclusão de farelo de soja na primeira dieta para iniciar a adaptação dos leitões às dietas subsequentes. No entanto, é importante considerar a qualidade do farelo de soja disponível em cada situação.
É recomendado que a primeira dieta seja peletizada (leia artigo sobre peletização), para aumentar o consumo de ração. Para auxiliar no processo de peletização, devido a alta inclusão de lactose e proteínas especiais, a inclusão de 2-3% de gordura se faz necessária. A quantidade da primeira dieta fornecida por leitão irá variar com a idade ao desmame. Por exemplo, para leitões desmamados com 5.5 kg, recomenda-se 2 kg por leitão na primeira fase. No entanto, para leitões desmamados com 7 kg, recomenda-se pelo menos 0.5 kg por leitão. Vale ressaltar que a inclusão de gordura nesta primeira dieta visa estritamente a peletização, pois os leitões não possuem uma quantidade de lípase suficiente para utilizar esta gordura.
A segunda dieta corresponde a 25% do custo do programa de nutrição da creche e é basicamente uma transição entre a primeira e a terceira dieta. Esta dieta é composta de uma quantidade menor de lactose e proteínas especiais, e uma maior inclusão de farelo de soja.
Em relação aos promotores de crescimento, a prática e as pesquisas sugerem que o uso de óxido de zinco nas primeiras duas dietas é de extrema importância para diminuir diarreia após o desmame e melhorar o desempenho, melhorando o ganho de peso entre 5 e 10%.
Por fim, como a terceira dieta corresponde de 55 a 65% do custo do programa de nutrição e é composta basicamente de milho e soja, muito similar as dietas da fase de crescimento e terminação, é de extrema importância adaptar os leitões para iniciar o consumo desta ração o mais precocemente possível. Por isso pequenos ajustes na formulação desta dieta trazem grandes resultados econômicos. Apesar de existir uma melhora em desempenho ao utilizar lactose e proteínas especiais nesta fase, não existem benefícios econômicos. A única característica especial desta dieta é o uso de sulfato de cobre como promotor de crescimento.
O tamanho de partícula recomendado para fase de creche é de 500-600 micra (leia artigo sobre tamanho de partícula na terminação). Tamanhos de partícula maiores que 600 micra irão prejudicar a digestibilidade dos nutrientes e tamanhos de partícula menores que 500 micra em dietas fareladas irão gerar uma diminuição no consumo de ração dos leitões.
Por fim, os pontos chaves para maximizar o lucro na nutrição de leitões na fase de creche são utilizar uma dieta complexa na primeira fase após o desmame para estimular o consumo de ração e realizar uma transição para dietas a base de milho e soja o mais rápido possível dentro da realidade de cada sistema de produção.