Da Redação 11/12/2002 – Poucos foram os anos na última década em que a safra de milho no Rio Grande do Sul não foi prejudicada pela estiagem. As sucessivas perdas nas lavouras por causa da falta de chuva originaram um quadro de defasagem no Estado, que se agrava safra após safra.
Afetadas diretamente pela escassez na oferta do cereal – principal insumo usado na ração animal -, as indústrias do setor avícola resolveram se unir para tentar mudar essa realidade. Uma parceria firmada entre a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vai desenvolver um trabalho de fomento à produção de culturas que possam substituir o milho na ração animal. Principalmente no período de entressafra, nos meses de inverno, em que a ociosidade do solo é maior, explica o coordenador da área de nutrição animal da Asgav, Sérgio Luiz Vieira, responsável pelo gerenciamento do projeto.
– Na safra de verão, são cultivados no Rio Grande do Sul cerca de 6 milhões de hectares. No inverno, a área não chega a 600 mil hectares – observa Vieira, que também é professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS.
Cevada e sorgo seriam opções
Ganham os agricultores, com mercado certo e renda extra na entressafra, e os criadores e as agroindústrias de aves e de suínos, com a oferta de alimento para os animais. Segundo Vieira, além da garantia de compra da produção de inverno, poderia ser criado um mecanismo para assegurar um preço de referência aos grãos alternativos, relacionado à cotação do milho. Por exemplo: sorgo, 80% do preço do milho, triticale, 90%, e ervilhaca, 90%.
O professor lembra que o déficit de milho no Estado tem sido de 1,5 milhão de toneladas por safra. O consumo médio fica entre 5,5 milhões e 6 milhões de toneladas, enquanto a produção não ultrapassa 4,5 milhões de toneladas. Em contrapartida, os gaúchos ocupam o terceiro lugar na criação de frangos e o segundo lugar na produção de suínos no país.
Falta do cereal causa crise na criação de suínos e aves
Por conta desse desequilíbrio entre demanda e oferta, esses dois setores vêm enfrentando uma crise sem precedentes. Vieira explica que a situação de desabastecimento alcançou seu limite neste ano, quando algumas empresas na área de avicultura chegaram a optar por investir em Estados. A quebra de mais de 30% na última safra de milho reduziu a oferta e dobrou o preço do cereal, aumentando os custos de produção e tornando inviáveis as atividades que dependem do grão. Para piorar a situação, na concorrência com a soja na hora do plantio da safra de verão, o milho deve ficar em desvantagem, com redução de área.
A Asgav sabe que esse problema não será resolvido em pouco tempo. A expectativa é de que o projeto deslanche a longo prazo. Para a próxima safra, mesmo que os agricultores decidissem investir em massa no plantio de culturas alternativas, a falta de sementes seria uma barreira para a ampliação da área. Mas o primeiro passo já foi dado, e a expectativa geral é de que essa idéia ganhe cada vez mais espaço nas propriedades rurais do Estado.