A Peste Suína Africana (PSA) é considerada uma das maiores ameaças à indústria suína mundial. A transmissão do vírus da PSA (PSAv) pode ocorrer por diversas rotas, e uma delas é o fornecimento global de ração. Estudos confirmam que o vírus pode permanecer viável em ingredientes durante o processamento, armazenamento e transporte, apresentando um risco significativo para a saúde animal.
Riscos na Cadeia de Suprimentos de Ração
Para que a ração se torne um vetor de transmissão do PSAv, diversas condições precisam ser cumpridas. O vírus deve sobreviver à secagem, processamento e transporte dos ingredientes e atingir uma concentração viral suficiente para causar infecção nos suínos. A meia-vida do PSAv varia de acordo com as condições de transporte, com tempos maiores em rações completas e menores em farelo de soja. Adicionalmente, o risco de contaminação aumenta quando grãos e outros ingredientes entram em contato com suínos selvagens ou fômites, como veículos e calçados de trabalhadores.
Biossegurança na Produção de Ração
A biossegurança da ração desempenha um papel essencial na prevenção da PSA em granjas suínas. As fábricas de ração, que recebem e processam ingredientes de diferentes regiões, precisam adotar medidas rigorosas de controle sanitário. Além disso, a biossegurança no transporte, muitas vezes negligenciada, deve ser reforçada com a descontaminação de veículos e equipamentos, como bolsas e calçados de motoristas.
A avaliação de risco deve levar em conta a origem dos ingredientes e a estabilidade ambiental do PSAv em cada um deles. Protocolos de segurança, como restrições de acesso, controle de pragas e treinamento de pessoal, são fundamentais para reduzir os riscos de contaminação.
Estratégias Físicas de Mitigação
Entre as estratégias físicas, a quarentena de ingredientes importados de regiões de alto risco é uma medida eficaz. Esse processo permite a degradação de até 99,99% do PSAv antes que os ingredientes sejam utilizados na alimentação dos suínos. No entanto, o custo elevado e a necessidade de rotação de estoque são desafios que limitam a aplicação dessa estratégia.
Outra medida física é o tratamento térmico, que acelera a degradação do vírus. O aquecimento dos ingredientes a temperaturas de 70°C por 30 minutos ou a 85°C por cinco minutos é uma das abordagens recomendadas. Além disso, a irradiação ultravioleta é eficaz na redução da infectividade viral em ingredientes como o plasma suíno líquido.
Tratamentos Químicos e Aditivos
A utilização de aditivos com atividade antiviral também é uma ferramenta importante no controle da PSA na ração. Compostos como formaldeído aquoso, ácidos graxos e ácidos orgânicos mostraram-se eficazes na redução da infectividade do vírus em ingredientes como farelo de soja. Esses aditivos atuam ao interromper a estrutura viral e diminuir sua capacidade de se ligar às células hospedeiras.
Os acidificantes, como os ácidos caprílico e láurico, também têm propriedades antivirais. Em testes, o uso de ácido fórmico tamponado em cereais, como farelo de milho e arroz, foi eficaz na manutenção de níveis de pH baixos, desfavoráveis à sobrevivência do vírus.
Desafios e Considerações Finais
A principal dificuldade no controle da PSA por meio da ração está na ausência de um sistema global de monitoramento eficaz. A falta de dados e de métodos confiáveis para avaliar a inativação do vírus nos ingredientes alimentares dificulta a criação de modelos precisos de risco. Além disso, a maioria das estratégias de mitigação atualmente disponíveis não elimina completamente o DNA viral, o que torna crucial a análise da infectividade biológica após o tratamento.
Em conclusão, enquanto a biossegurança na produção e transporte de ração e o uso de tratamentos físicos e químicos são fundamentais para reduzir os riscos da PSA, ainda existem desafios significativos a serem superados. Estudos adicionais são necessários para desenvolver estratégias mais eficazes e modelos de avaliação de risco que garantam a segurança alimentar dos suínos.
Tradução e fonte: Pig Progress