Os números impressionam. O pequeno município de Bastos com pouco mais de 20 mil habitantes abriga um plantel de 20 milhões de galinhas. Deste total, 17 milhões estão em fase de postura e produzem, juntas entre 16 e 17 milhões de ovos por dia.
Juntas, as 70 avícolas de Bastos atendem a 60% da demanda nacional por ovos. Trata-se de um exército vigoroso das mais variadas linhagens que trabalha 16 horas por dia para atender um crescente e exigente mercado: o Brasil, que atingiu em 2010 a marca histórica de consumo de 148 ovos por habitante ao ano. “Estamos falando de quase 29 bilhões de ovos neste ano”, conta Welington Koga, presidente do Sindicato Rural de Bastos.
A quantidade é 34% maior que a registrada no país em 2006, quando o consumo per capita alcançou 110 ovos por pessoa ao ano. Nesta conta somam-se os ovos consumidos in natura e na forma de pães e massas. “Este avanço se deve especialmente à derrubada do mito em relação ao colesterol do ovo e a classe médica tem ajudado a desmistificar o ovo”, avalia Koga.
Consumo – No inverno o consumo é ainda maior. “O pico das vendas vai até 15 de julho e este ano o mercado está especialmente aquecido por conta do frio mais intenso, que impulsiona o consumo e das festas juninas, que usam muitas receitas que levam ovos”, avalia Koga. Outro fator que contribuiu para elevar as vendas de ovos no mercado interno foi o aumento de renda da população brasileira. “No último ano foram incorporadas mais de 40 milhões de pessoas a classe C”, diz.
O cenário para os produtores seria ideal não fossem os altos preços do milho. Isso porque a alimentação das galinhas responde por mais de 70% do custo de produção dos ovos. Para se ter ideia, Bastos consome diariamente 35 mil sacos de 60 quilos de milho ou 2,1 milhões de quilos diários. “E está cada vez mais difícil conseguir o grão em São Paulo. Hoje cerca de 80% da nossa demanda é suprida no estado de Mato Grosso”, diz Koga.
Alimentação – Trazer o milho de longe encarece ainda mais o custo de produção dos ovos. Pelos cálculos de Koga, uma caixa de 30 dúzias de ovos – que é vendida atualmente por R$ 45 – compra uma saca e meia de 60 quilos de milho – comercializada por R$ 30 reais. Uma relação ruim. Segundo ele, o ideal para que a atividade seja lucrativa é que o preço de uma caixa de ovos seja o suficiente para comprar duas sacas de milho. Em 2010 o preço mais baixo que o milho atingiu foi R$ 16,50 por saca e o mais alto R$ 32. Já os preços dos ovos oscilaram entre R$ 28,19 e R$ 42 por caixa de 30 dúzias. “A oscilação de preços neste setor é muito grande”, conta.
Quando o milho está muito caro, alguns produtores recorrem ao sorgo para alimentar o plantel. O resultado da troca de alimentação pode ser visualizado no ovo. As galinhas caipiras, que ciscam no meio mato e comem mais verde produzem um ovo com gema de intensa coloração laranja. Já as que são criadas em granjas e comem ração à base de milho produzem um ovo com a gema de cor amarela, enquanto as que são alimentadas com sorgo produzem gema amarelo claro. A cor da gema influencia na qualidade dos ovos? Difícil saber. Alguns estudos dizem que não e ressaltam que o que varia é a qualidade de colesterol de cada ovo de acordo com que a galinha comeu. Outros, no entanto, apontam que o ovo de gema alaranjada contém seis vezes mais betacaroteno que os demais.