Redação (19/02/2009)- É a mais completa reabilitação de um suposto criminoso na história da humanidade. O ovo – o querido ovo, o fruto da galinha (às vezes, com participação do galo como astro convidado), objeto cujo design é uma maravilha de projeto e acabamento -, volta ao círculo social depois de décadas como inimigo público nº 1.
Durante quase toda a segunda metade do século 20, médicos e cientistas dedicaram-se a acusar o ovo dos piores crimes contra o coração e a responsabilizá-lo pela elevação dos níveis de colesterol a placares de basquete americano. Quem fosse cardíaco, não chegasse perto; quem não fosse, idem, para prevenir. Às galinhas só restava submeter-se ao holocausto reservado à sua espécie e ao opróbrio para o seu produto.
E, na semana passada, saiu o relatório definitivo da Universidade de Surrey, na Inglaterra: o ovo não faz o menor mal à saúde – ao contrário, é riquíssimo em nutrientes – e pode ser comido na legalidade e em qualquer quantidade. Só faltam dar-lhe a medalha de alimento do ano.
Ótimo, ótimo. Mas cabe a pergunta: E nós, que sempre fomos loucos por ovos – fritos, na manteiga, com ou sem bacon – e tivemos de nos privar deles por décadas, como ficamos?
Eu, por exemplo: a uma média de três por semana, quantos ovos não deixei de comer nos últimos 30 anos? Se medido em graus de deleite, prazer ou orgasmos do paladar, a quanto não montará esse prejuízo?
Assim como certos países e regimes pediram desculpas póstumas às populações que dizimaram, a comunidade científica também nos deve um pedido de perdão – que não sei se concederei.
O ovo na legalidade
Leia artigo de Ruy Castro, jornalista e escritor.