Redação AI (Edição 1107/2002) – O ano de 2002 foi dramático para o segmento de postura comercial brasileiro. Enfrentando velhos e novos problemas o setor não conseguiu operar com rentabilidade nos últimos 12 meses, obrigando muitos produtores a abandonar a atividade. O cenário econômico recessivo aliado a uma variação cambial acentuada, verificada ao longo do ano e, principalmente, o significativo aumento dos custos dos insumos utilizados na alimentação das aves, hoje balizados pela moeda americana, foram os principais algozes dos avicultores brasileiros especializados em postura. Só para se ter uma idéia, em 2002 os custos de produção de ovos registraram uma evolução da ordem de 78% em comparação ao ano anterior. “O ano de 2002 foi terrível para os avicultores de postura. Os produtores tiveram dificuldades enormes durante o transcorrer do ano e mais a combinação de vários fatores, não só a alta repentina dos insumos, que fizeram com que o setor de postura não caminhasse bem”, comenta Alfredo Hiroshi Onoe, diretor setorial de ovos da União Brasileira de Avicultura (UBA).
Alfredo Onoe: “O ano de 2002 foi terrível para os avicultores de postura” |
O setor sofreu também com velhos problemas, como por exemplo o alojamento excessivo. O aumento demasiado do plantel e da produção desequilibrou o mercado (oferta/consumo) derrubando os preços de venda e acarretando enormes prejuízos para os produtores. Como agravante, novas empresas entraram para o segmento de postura, contribuindo para o aumento de produção. “Várias outras empresas, que não as tradicionais, recentemente entraram para o ramo de postura, pois com o advento da mecanização ficou extremamente fácil criar galinhas. Isso colaborou para o aumento da produção de ovos e a conseqüente deteriorização dos preços”, explica Onoe.
Quebradeira – A combinação entre o alto custo de alimentação e o desequilíbrio do mercado fizeram o segmento de postura entrar em colapso. Numa crise sem precedentes a quebradeira foi grande e atingiu todo o território nacional. Trabalhando no vermelho, os produtores não conseguiram amortizar investimentos feitos no passado. Descapitalizados, também não conseguiram formar capital de giro para atender as necessidades básicas do negócio. Na ausência de linhas de crédito específicas e com taxas de juros compatíveis com realidade do setor, muitos produtores foram obrigados a depender de fornecimentos a prazo, que sempre implicam em pesados custos financeiros. Nesse cenário, muitos não suportaram tal situação. O Estado do Paraná retrata objetivamente a atual situação em que se encontra o setor de postura no Brasil. Em 1994, o Estado tinha 377 granjas e era o 2 produtor de ovos do Brasil, com oito milhões de aves. Hoje o Paraná é o 6 produtor, com quatro milhões de aves e apenas 102 granjas de postura em atividade. Somente em 2002, cerca de 80 granjas paranaenses foram obrigadas a encerrar suas atividades.
Mecanização e industrialização – O atual nível de automação das granjas brasileiras manteve-se desfavorável. De toda a capacidade nacional de produção estima-se que apenas 7% das propriedades estejam totalmente automatizadas. Com todos os percalços enfrentados pelo setor durante o último ano, os investimentos para a modernização das granjas ficaram seriamente comprometidos. “Não houve investimentos em mecanização em 2002. Os investimentos existentes foram todos efetuados em 2001, os produtores que tinham comprado para 2002 cancelaram a compra”, afirma Alfredo Onoe.
A industrialização de ovos no Brasil também não apresentou crescimento durante o ano. Ela continua a variar entre 7% e 10% da produção nacional de ovos. As incertezas geradas pela atual situação do setor inibiram investimentos nesta área. Estagnada, a industrialização continua a apresentar capacidade ociosa, sem iniciativas para uma maior participação dos produtos de ovos no consumo interno e no comércio externo. “Um programa de comunicação adequado poderá reverter esse quadro estático de ano após ano”, aposta o consultor José Carlos Teixeira. Para Onoe, a perda do poder aquisitivo da população brasileira verificada nos últimos 24 meses e a conseqüente diminuição de consumo de produtos que utilizam o ovo industrializado comprometeu o desenvolvimento desse segmento da avicultura de postura. “Essa estagnação é puro reflexo da perda do poder aquisitivo da população brasileira”.
Alternativas – Num ano altamente turbulento o setor de postura foi obrigado a buscar alternativas para contornar os vários problemas que afetam o mercado de ovos no País. Numa medida emergencial, a UBA, através de sua diretoria de ovos, alertou os produtores sobre a necessidade de se promover o descarte das aves, visando a diminuição da oferta de ovos e o reajuste do mercado. “Tendo em vista que a situação do setor deve continuar complicada até a próxima safra de milho, estamos fazendo um apelo para que os produtores reduzam em pelo menos 20% seus plantéis, descartando suas galinhas mais velhas e segurando o alojamento de pintinhos”, avalia Onoe. “Essa seria uma medida emergencial somente para a sobrevivência da avicultura de postura. Infelizmente, no meu ponto de vista, não existe outra saída para a atual situação”.
Assunto de fundamental importância para o setor, o abastecimento de milho a preços condizentes com a realidade do produtor foi outra medida prioritária na pauta da entidade. De acordo com Onoe, além das reivindicações já apresentadas ao governo federal durante o ano, o setor está pleiteando o ajuste do sistema de financiamento para o plantio de milho e soja. “Nossa vontade é que esse financiamento seja feito nos moldes dos EUA, onde há um equilíbrio no plantio de milho e soja”, explica. Segundo o diretor de ovos da UBA, o setor pretende também estabelecer uma negociação junto ao novo governo para a criação de uma linha de crédito para a obtenção de milho específica para os produtores de ovos e frangos. “No caso da avicultura de postura não existem mega empresas, por esse motivo precisamos construir um entendimento para a disponibilização de uma linha de crédito para a obtenção de milho”, diz.
Avicultura de Postura em 2002* | ||||||
Fonte: UBA. *Estimativa. **Dados com a muda forçada. |
Outro projeto da linha de trabalho da entidade prevê a inclusão do ovo em pó na merenda escolar em nível nacional. “Esse é um trabalho político, no qual estamos trabalhando. Para isso, estamos procurando os canais corretos junto ao governo para ver se realmente conseguimos chegar num consenso”, explica o diretor. Segundo ele, se implementado, o projeto traria um aumento imediato no consumo de ovos de 20%. “Essa é uma oportunidade muito forte de se colocar uma proteína saudável para toda a população brasileira, principalmente para a população carente deste País”.
A crise também mobilizou os produtores. Preocupados, eles já acenam positivamente para a criação de uma entidade nacional que cuidaria de questões cruciais para a recuperação e fortalecimento da avicultura de postura, criando um canal de comunicação com o mercado, governo e consumidores. Uma das principais incumbências da nova associação seria a arrecadação de fundos para a realização de uma campanha de marketing e incentivo ao consumo de ovos no Brasil. “Os produtores de postura estão tentando encontrar um caminho viável para montar uma nova associação no intuito de promover o consumo de ovos através de uma campanha de marketing e de desmistificação do ovo em todo o Brasil”, afirma Onoe. “Essa entidade está prestes a nascer para corrigir os erros do passado”.
Números – Os números referentes ao desempenho do setor em 2002, porém, encontram-se controversos. O recém nomeado diretor setorial de ovos da UBA, Alfredo Onoe, promoveu um novo levantamento para determinar o tamanho da avicultura de postura no Brasil, incluindo as aves da muda forçada. “A maneira como os incubatórios e o pessoal técnico projetam esses números é distinta, daí a diferença de resultado”, explica Onoe. “A questão que fica é a seguinte: quantos milhões de poedeiras realmente temos no Brasil, incluindo a muda forçada?”.
Segundo ele, contabilizando a prática da muda forçada, o plantel médio de aves em produção no País é de aproximadamente 84 milhões. Assim, a produção brasileira de ovos para o ano de 2002 está estimada em 21.772 bilhões de unidades. Pelo novo cálculo, o consumo per capita brasileiro é de 125 ovos, para uma população projetada em 175.383 milhões de habitantes.
Porém, José Carlos Teixeira, consultor e antigo diretor da UBA, apresenta números diferentes. Para ele, o plantel de poedeiras brasileiro é de 67,769 milhões de aves, sem contar as aves da muda força, o que resulta em um alojamento 6,5% maior ao existente em 2001, que, segundo ele, era de 63.769 milhões.
Em sua avaliação, a produção de ovos estimada para o ano de 2002 é de 16.488.360 bilhões de unidades, número que corresponde a 45.801 caixas de 30 dúzias de ovos brancos e vermelhos. De acordo com os números fornecidos por Teixeira, o País apresentou um aumento de seu consumo per capita, passando dos 94 ovos consumidos por habitante/ano em 2001 para 99 unidades em 2002.