Se forrar o telhado de casa ou da empresa com placas fotovoltaicas para geração de energia solar ainda está longe de se tornar um hábito sustentável no Brasil, o que dizer de quem tem no quintal a sua própria torre eólica? Pois no Ceará, um dos Estados com maior potencial de ventos do país, já é possível encontrar algumas dezenas de aerogeradores trabalhando no varejo, fornecendo energia elétrica em pequena escala para condomínios, concessionárias de veículos e pequenas fábricas.
Na esteira do processo de consolidação do mercado eólico nacional, começam a brotar as primeiras iniciativas no segmento residencial e comercial da geração de energia elétrica a partir dos ventos. Na última terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou regras que visam reduzir barreiras para instalação de empreendimentos de geração de pequeno porte, que incluem a microgeração (até 100 KW de potência) e a minigeração (de 100 KW a 1 MW). A norma cria o Sistema de Compensação de Energia, que permite ao consumidor instalar pequenos geradores e trocar energia com a distribuidora local.
É neste contexto que, após um investimento de R$ 12 milhões e alguns meses de testes, a cearense Satrix Energias Renováveis deu a largada na expansão de seu negócio. Instalada em Eusébio, região metropolitana de Fortaleza, a empresa é uma das primeiras fabricantes de aerogeradores de pequeno porte do país. A produção ainda é discreta. Apenas 30 equipamentos estão em funcionamento – todos em Fortaleza e cidades vizinhas. Nos próximos dois anos, porém, a empresa quer ver seus aerogeradores girando em todos os Estados do Nordeste, região com o maior potencial eólico do Brasil. Para isso, terá que investir pelo menos outros R$ 15 milhões, segundo cálculos do empresário pernambucano Marcelo Tavares de Melo, um dos quatro sócios da Satrix.
“Sentimos o crescimento do interesse e decidimos aumentar. Estamos expandindo a fábrica e montando equipes de vendas em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Em um segundo momento, vamos atacar Bahia, Maranhão e Piauí”, disse Melo, que ainda tem planos futuros para a região Sul do país, onde também sopram ventos vantajosos.
Ter uma torre eólica no quintal pode custar menos do que um carro popular na garagem, segundo ele. A versão mais barata – com 1,2 kW de potência – sai a R$ 26 mil, incluída a instalação. O aerogerador mais potente da Satrix chega a 50 kW, suficiente para abastecer uma pequena fábrica. “Há casos em que podemos instalar mais de uma torre, o que pode aumentar a capacidade de geração”, reforçou o diretor técnico da empresa, Alexandre Holanda.
A instalação, que leva cinco dias, é precedida de uma análise de viabilidade dos ventos no endereço pretendido. Assim como acontece na geração solar, a energia produzida no aerogerador doméstico não é necessariamente utilizada pelo dono da torre. “Um inversor joga essa energia na rede de distribuição e o proprietário a recebe de volta, como compensação”, explicou Holanda. Segundo ele, a economia com a conta de luz pode pagar o investimento na torre em um período de cinco anos, em média.
Melo explica que o surgimento do mercado residencial é resultado da popularização desta fonte. A ocorrência de leilões periódicos para a compra da energia proporcionou maior segurança aos investidores. O processo tornou mais competitivo o preço da energia eólica, que representa menos de 2% da matriz energética do país. Apesar dos avanços, a baixa produtividade dos parques já instalados dá margem a dúvidas quanto ao cenário futuro para as eólicas.
“As principais fabricantes de equipamentos de grande porte, como Suzlon, Vestas e Führlander, não atuam no nosso segmento”, disse ele, que tem apenas a Enersud, do Rio, como concorrente. O índice de nacionalização das torres da Satrix é de 82%. Torres, pás e naceles são fabricadas pela própria empresa, enquanto que o motor e os dispositivos eletrônicos vêm da Alemanha.