Redação (20/10/06) – A FDA, agência que regulamenta alimentos e remédios nos EUA, deve aprovar até o fim deste ano a venda de carne e leite de animais clonados, informou ontem o jornal “The Washington Post”.
O movimento vem três anos após o órgão do governo americano ter dado indicações de que permitiria a comercialização de produtos derivados de animais clonados, o que despertou reações diversas do público. A decisão é baseada em dados indicando que tais produtos não oferecem risco ao consumidor.
“Nossa avaliação é que produtos alimentícios de animais clonados são tão seguros quanto os que comemos todos os dias”, disse ao “Post” Stephen Sundlof, chefe de medicina veterinária da FDA, que supervisionou a análise de risco elaborada pelo órgão.
Segundo as empresas de biotecnologia, a clonagem dará mais consistência à qualidade da carne, por exemplo –já que todos os animais de uma fazenda serão cópias genéticas exatas, será possível selecionar apenas aqueles com o melhor perfil, que produzam o bife mais saboroso. Mas opositores da tecnologia não se dão por vencidos, e pediram à FDA que as liberações sejam estudadas caso a caso.
Dolly
O debate que começa a se intensificar nos EUA é fruto de uma empreitada científica iniciada há apenas dez anos, com o nascimento da ovelha Dolly em 1996. Pela primeira vez, cientistas conseguiram produzir uma cópia perfeita de um mamífero adulto, a partir de uma célula mamária.
A clonagem já foi feita com sucesso em porcos, cabras, cães, bois, e gatos –primatas, como macacos e humanos, notavelmente escapam à técnica.
Ironicamente, a empresa PPL Therapeuthics, que criou a ovelha Dolly, fechou sua operação de clonagem animal alguns anos depois do anúncio de sua grande descoberta. A PPL queria produzir mamíferos clonados que expressassem em seu leite uma proteína humana.
Os clones funcionariam como biorreatores, ou seja, serviriam para produzir em grandes quantidades drogas biotecnológicas caras demais para produzir de forma convencional.
Para os criadores de gado, a clonagem é só mais uma técnica de melhoramento genético. “Os clones são apenas clones. Eles não são animais geneticamente modificados”, disse ao jornal americano Barbara Glenn, chefe de biotecnologia animal da Organização da Indústria Biotecnológica.
A FDA concorda com a distinção, afirmou Sundlof. Segundo o representante da agência, os bichos transgênicos serão regulamentados seguindo os mesmos parâmetros usados para aprovar novas drogas. Uma nova categoria está sendo criada para eles, inclusive. Não há animais transgênicos no mercado americano.
Resistência acadêmica
O primeiro indício de que a FDA aprovaria o comércio de derivados de animais clonados surgiu em 2003, quando um esboço de resolução concluiu pela segurança desses produtos.
No entanto, o otimismo tanto do governo quanto das empresas de biotecnologia foi rapidamente esfriado, quando um painel de cientistas da FDA e a Academia Nacional de Ciências, geralmente favorável aos avanços biotecnológicos, disseram que não havia dados suficientes sobre o assunto.
Estudos
Empresas de laticínios como a Kraft, a Danone e a Nestlé também se opuseram à medida, o que colocou a aprovação de molho. Segundo o “Washington Post”, nos últimos anos a agência tem pedido aos produtores para deixar os clones fora do mercado voluntariamente, o que provocou a falência de uma empresa e despertou a ira de várias outras.
Um novo conjunto de estudos submetidos à FDA revitalizou o esforço. O maior desses estudos é uma comparação entre a carne de clones e porcos convencionais, que usou 404 animais e mediu 14.036 parâmetros de composição protéica e perfis de ácidos graxos. Apenas três parâmetros medidos nos clones foram diferentes dos de animais normais.