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Banco Mundial defende etanol brasileiro

De acordo com a instituição, o Brasil desempenha papel estratégico no combate mundial às mudanças climáticas e pode compartilhar suas experiências com outros países.

Redação (19/03/2009) – O Banco Mundial apresentou nessa quarta-feira (18), em São Paulo, o relatório "Desenvolvimento com Menos Carbono: Respostas Latino-americanas ao Desafio das Mudanças Climáticas". No dia 5 de março, a diretoria executiva do Bird já tinha aprovado um empréstimo de US$ 1,3 bilhão para o governo brasileiro, destinado a apoiar a agenda ambiental e de mudanças climáticas no País.

De acordo com a instituição, o Brasil desempenha papel estratégico no combate mundial às mudanças climáticas e pode compartilhar suas experiências bem-sucedidas de manejo ambiental com outros países emergentes e em desenvolvimento, especialmente na produção de energias renováveis, de etanol de cana-de-açúcar, sistemas de transporte urbano rápido em ônibus, plantio direto na agricultura, administração sustentável das matas tropicais e gestão de resíduos sólidos.

A pesquisa indica que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo (mais de 80% da energia produzida no País é proveniente de fontes renováveis, como a hidroeletricidade e os biocombustíveis líquidos). O estudo também enfatiza que, apesar de não ser responsável pelo aquecimento climático global e de considerar que os países ricos devem assumir a liderança das ações, o Brasil pode contribuir de modo positivo com suas políticas de redução do desmatamento.

Biocombustíveis – O estudo afirma que, sem levar em conta as mudanças no uso do solo, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar pode reduzir de 70% a 90% as emissões de gases do efeito estufa, se comparado à gasolina. Além disso, a implementação de padrões para aumentar a eficiência do uso de combustíveis automotivos poderia reduzir as emissões em cerca de 25 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (MtCO2) por ano, o que levaria a substanciais economias financeiras e à redução da contaminação local.

Os biocombustíveis representam cerca de 6% da energia consumida no setor de transporte da América Latina, em que se destacam a produção e consumo de etanol do Brasil.

Ao contrário da produção do etanol de milho em outros países, o etanol de cana-de-açúcar do Brasil não contribuiu, por causa do desvio de terras destinadas à produção agrícola, para o aumento do preço das matérias-primas alimentares ocorrido em 2007/2008, diz o relatório do Bird.

O rendimento do etanol por hectare de cana-de-açúcar no Brasil é quase duas vezes maior que o do etanol de milho nos EUA, mas o potencial do produto brasileiro está limitado pelas atuais tarifas de importação dos EUA e de outros países de renda alta (especialistas afirmam que a vantagem do álcool de cana chega a oito vezes o de milho). De acordo com o estudo, reduzir ou eliminar as elevadas tarifas comerciais e os enormes subsídios proporcionados por muitos países produziria benefícios econômicos para o Brasil e para os seus parceiros comerciais, além de diminuir as emissões de gases do efeito estufa.

Energia potencial – A América Latina possui um potencial considerável para geração de energia renovável, afirma o estudo. As condições de vento são excelentes em muitos países latino-americanos e, além disso, existem altos níveis de radiação solar, como na região Nordeste do Brasil.

"No entanto, em relação às fontes de energia renovável, o maior potencial da região está sem dúvida na hidroeletricidade", sustentou Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe e um dos autores do relatório, junto com John Nash e Pablo Fajnzilber. Segundo o especialista, o potencial de redução das emissões de gases do efeito estufa com custo negativo, por meio da implementação de projetos hidrelétricos no Brasil, é de 18 MtCO2e por ano.

O Brasil vem obtendo muito sucesso no desenvolvimento de um grande potencial de geração hidrelétrica de baixo custo, mas sofreu atrasos no desenvolvimento de novos projetos nessa área devido a demoras nos processos de obtenção de licenças ambientais. No País, o custo para administrar as questões ambientais e sociais durante o desenvolvimento da energia hidrelétrica representa cerca de 12% do valor total do projeto, adverte o relatório.

O estudo afirma que cerca de 85% das emissões da região se concentram em seis países. O Brasil e o México produzem quase 60% desse total e os 25% restantes correspondem à Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela. Em cinco países (Bolívia, Brasil, Equador, Guatemala e Peru), as mudanças no uso do solo produziram pelo menos 60% do total de emissões de gases do efeito estufa. Por essa razão, grande parte do potencial de mitigação do Brasil está associado à gestão dos recursos naturais, diz o relatório.

"O aquecimento progressivo do sistema climático regional já é uma realidade", indicou de la Torre. "Mas em vez de ser a parte principal do problema, o Brasil é acima de tudo parte da solução."

As temperaturas na região aumentaram 1°C durante o século 20, enquanto os níveis de elevação da superfície do mar atingiram 2 a 3 mm/ano, desde a década de 1980. Não obstante, se forem mantidas as tendências atuais, o aumento das temperaturas na região poderá oscilar entre 0,4° C e 1,8° C em 2020, e entre 1° C e 4° C em 2050.

Amazonas – O relatório indica uma possível perda da cobertura florestal da Amazônia entre 20% e 80%, como resultado dos impactos climáticos induzidos por um aumento de temperatura de 2°C a 3°C na Bacia Amazônica. Em 2005, grandes áreas do sudoeste do Amazonas sofreram com uma das mais intensas secas dos últimos cem anos, que afetou gravemente a população, o leito do rio Amazonas e seus afluentes a oeste e sudoeste.

O estudo afirma que a floresta amazônica desempenha um papel fundamental no sistema climático porque ajuda a impulsionar a circulação atmosférica nos trópicos por meio da absorção de energia e da reciclagem de cerca da metade das chuvas que caem na floresta. A região contém quase 10% da reserva mundial de carbono armazenada nos ecossistemas terrestres. A umidade que o ecossistema do Amazonas injeta na atmosfera também exerce um papel essencial nos padrões pluviométricos da região. Qualquer alteração nos seus volumes de umidade pode desencadear um processo de desertificação em vastas áreas da América Latina e da América do Norte.

O estudo indica uma alta probabilidade de grandes extinções de biodiversidade como consequência do desmatamento da Amazônia. Entre os dez países com maior biodiversidade no mundo, cinco estão na América Latina e no Caribe: Brasil, Colômbia, Equador, México e Peru, e essa lista também compreende cinco dos 15 países cuja fauna se encontra em maior perigo de extinção.

De acordo com Pablo Fajnzylber, o Brasil está em condições de adaptar suas próprias estratégias de crescimento e redução da pobreza com o objetivo de minimizar os impactos negativos das mudanças climáticas sobre as suas populações e ecossistemas. "Além disso, nas negociações internacionais em curso, o Brasil pode estimular a formulação de novas políticas para atenuar as mudanças no clima que sejam compatíveis com as características da América Latina e do Caribe, exercendo um papel ativo na negociação de um acordo pós-Kyoto e em sua implementação posterior", acrescentou.

O relatório é a principal publicação de referência do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, em 2009.