integração energética regional na América Latina é uma aposta do governo brasileiro que, através da Eletrobrás, está estimulando estudos sobre as possibilidades técnicas de ampliar a interconexão, principalmente no Mercosul, mas também no Peru, na Bolívia e na Venezuela. Os primeiros projetos devem começar com o Uruguai, diz Sinval Zaidan Gama, vice-presidente da seção brasileira da Comissão de Integração Elétrica Regional (BraCier) e superintendente de operações no exterior da Eletrobrás. Com a Argentina o grande projeto é a usina binacional de Garabi, que deve ter seu terceiro inventário concluído em dezembro.
Uma reunião este mês entre a Eletrobrás e a uruguaia UTE deve definir os modelos de negócios para as obras de infraestrutura da integração energética entre os dois países. O projeto prevê a ampliação da interconexão que permite o envio de eletricidade ao vizinho, dos atuais 70 megawatts (MW) para 300 MW. “Já há decisão governamental dos dois países e este deve ser um dos primeiros a se concretizar”, disse Gama ao Valor. Há possibilidade de que, após a reunião, já sejam abertas as licitações para as obras.
Embora proporcionalmente menores (comparados aos dos outros países), os projetos com o Uruguai vão além das fontes tradicionais e preveem o estímulo ao investimento privado em alternativas como a eólica. “Os empreendedores de energia eólica estão estudando muito atentamente o Uruguai”, afirma. “Neste caso, o Uruguai poderia até mandar energia para o Brasil, só depende do preço”.
Concebido há 37 anos, o projeto de construção da usina hidrelétrica binacional de Garabi, com a Argentina, pode finalmente começar a sair do papel a partir do ano que vem. O inventário da estrutura técnica e impactos ambientais, a ser concluído em dezembro, prevê um redimensionamento da usina em duas represas menores para diminuir ao máximo a necessidade de inundação. No primeiro inventário, feito nos anos 70, previa-se a inundação de mais de 80 mil hectares. No segundo, realizado em 2003, já havia baixado para 32 mil hectares.
Projetada para duplicar a oferta de energia entre Brasil e Argentina, Garabi será construída no rio Uruguai, na divisa entre o Rio Grande do Sul e as províncias argentinas de Corrientes e Misiones, e terá capacidade de geração de 2 mil MW. O obstáculo para a ampliação da integração elétrica com a Argentina, alerta Gama, é a “falta de sinal de mercado”. Pelas políticas vigentes hoje no país, as empresas privadas não têm estímulo para investir nos projetos junto com os governos, que é o modelo defendido pelo Brasil. “Ninguém vai fazer investimento sem ter certeza de rentabilidade”, diz Gama.
O Brasil tem enviado cerca de 1.500 MW em eletricidade para suprir deficiências na oferta doméstica ao vizinho. A energia chega durante o inverno e é devolvida na primavera. A capacidade total é até 2.200 MW e a interconexão é através de duas estações de transmissão: Garabi-Rincón Santa Maria e Uruguaiana-Paso de Los Libres.
Gama diz que o potencial de geração hidrelétrica entre os dez países que compõem o Cier (os quatro do Mercosul mais Peru, Bolívia, Chile, Equador, Colômbia e Venezuela) é de 356 MW. “Nossas contas mostram que se estivéssemos conectados, estaríamos economizando US$ 1 bilhão em despesas com a infraestrutura, economia que poderia ser repassada diretamente para a conta do consumidor”, afirma o executivo.