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Condições bioclimáticas durante o transporte de pintos de um dia

A avicultura brasileira tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos para manter-se na liderança mundial. Um estudo avaliou os efeitos das condições de transporte dos animais nas respostas produtivas e fisiológicas.

A avicultura brasileira tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos para manter-se na liderança mundial. Em fevereiro de 2010 foi observado um déficit de 11 mil toneladas, comparado com o mesmo mês em 2009. Com isto, aumentaram as preocupações com a lucratividade, aliado com a baixa quantidade de pesquisas no setor. 

“Há escassez de informações relacionadas à logística pré-porteira da avicultura de corte, principalmente quanto ao conforto térmico de pintos de um dia em trânsito”, afirma Frederico Márcio Corrêa Vieira, pesquisador da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq) e do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (Nupea). “A área de logística de transporte de carga viva é carente de informações no Brasil, aumentando os prejuízos da avicultura brasileira”, explica.

Baseado nesta demanda, o zootecnista desenvolveu sua tese de doutorado “Transporte animal: influência das condições bioclimáticas no desempenho produtivo e fisiológico de pintos de um dia”. Orientada pelo professor Iran José Oliveira da Silva, do Departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB), a pesquisa avaliou os efeitos das condições simuladas de transporte dos animais, submetidos aos diferentes níveis de estresse térmico e posição das caixas de transporte, nas respostas produtivas e fisiológicas. 

Segundo o estudo, durante o transporte de pintos de um dia, foi observada pouca padronização, principalmente no que se refere ao conforto térmico dos animais. “Sabe-se que os caminhões climatizados possuem grande heterogeneidade térmica ao longo do perfil da carroceria. A densidade de animais por caminhão também é variável, podendo chegar à 60.000 pintos transportados nas laterais e no corredor da carroceria, aumentando os núcleos térmicos em diversos pontos da carga”, afirma o autor. 

O fator tempo de exposição também é levantado pelo autor. “Ele determina a intensidade dos efeitos negativos nos animais em jejum, sendo que a duração da viagem pode ultrapassar 36 horas”. Outros fatores importantes também podem contribuir para a desuniformidade do lote e perdas antes do alojamento. De acordo com Vieira, a distância, vibração da carga, qualidade das estradas, tempo de viagem, tipos de caixas e de carrocerias climatizadas também interferem no processo. 

A pesquisa concluiu que, mesmo em situação de conforto, recomenda-se que o transporte de pintos de um dia não ultrapasse 3 horas, visando o elevado bem estar, conforto térmico e sobrevivência destes animais até a chegada à granja. “É muito importante a escolha de granjas que sejam relativamente próximas ao incubatório, obedecendo obviamente uma distância mínima relacionada a aspectos de biosseguridade”, explica. 

Além disso, a condição térmica deve ser observada rigorosamente nos baús climatizados utilizados no transporte de pintos, para evitar o estresse, tanto por frio quanto por calor excessivo, durante o transporte e alojamento nas granjas. “A faixa ideal de temperatura no interior do caminhão entre 29 e 34,6°C e umidade relativa em torno de 60%, considerando que existe um gradiente de temperatura entre o ambiente interno das caixas e o ambiente do baú climatizado entre 0,7 e 1,6°C para esta faixa térmica”, explica o pesquisador. Apesar do frio ser a maior preocupação nesta fase,  o estresse por calor de pintos de um dia também merece atenção no setor, para evitar perdas.

Termotolerância

A necessidade de se padronizar a temperatura durante o transporte dos animais advém da baixa termotolerância dos pintos, termo que denomina a resistência do indivíduo às condições hipertérmicas. Segundo Frederico Márcio Corrêa Vieira, sabe-se que as aves jovens possuem maior tolerância às altas temperaturas do que às baixas. “esse fato está relacionado com a imaturidade da termorregulação corporal. A ave possui maior necessidade de manter sua temperatura corporal elevada”. O pesquisador afirma que o aumento da temperatura ambiente corresponde ao aumento da temperatura superficial das aves. “Este fato é consequência de que a capacidade de perda de calor sensível pelas aves jovens ser reduzida com o aumento da temperatura, resultando em aumento da temperatura cloacal e utilização de mecanismos de perda de calor latente”, conclui.