O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa de pesquisa em cana-de-açúcar e que tem entre seus sócios as gigantes Cosan e Copersucar, deu uma guinada estratégica na corrida pela produção de um etanol de segunda geração. A companhia, que se tornou uma Sociedade Anônima em 2011 e, até então, dispunha de um orçamento anual próximo de R$ 50 milhões, deve fazer este ano uma captação de mais de R$ 500 milhões, a maior de sua história.
Para ficar ao seu lado, o centro chamou a Embrapa, com quem firmou uma parceria estratégica para pesquisas em três linhas de atuação. Além de melhoramento genético e biotecnologia agrícola, as duas empresas abraçarão estudos para desenvolver uma enzima nacional (biotecnologia industrial). As enzimas são a peça-chave da fabricação de um etanol celulósico economicamente viável. Elas respondem por cerca de metade do custo de produção desse biocombustível e são responsáveis por “quebrar” a celulose contida no bagaço da cana, revelando os açúcares contidos dentro dele.
Durante três anos, o CTC teve como parceira nessa área a multinacional Novozymes, que tem quase metade de todo o mercado global de enzimas, que movimentou no ano passado cerca de US$ 3,9 bilhões. “Decidimos ampliar nossas alternativas e estamos conversando também com outras parceiras nessa área, inclusive com a própria Novozymes”, afirma Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar, principal acionista do centro de pesquisa, com participação de 25%.
A enzima brasileira terá o desafio, explica o CEO do CTC, Gustavo Leite, de “quebrar” o chamado C5 – molécula de cinco carbonos contida na celulose do bagaço. Se essa etapa for bem sucedida, a disponibilidade de açúcares vindos do bagaço vão aumentar de forma significativa, ampliando as chances de tornar o processo viável do ponto de vista econômico. As enzimas até agora desenvolvidas conseguiram desmembrar apenas as moléculas de seis carbonos.
Na área de melhoramento genético da cana, a parceria terá à disposição um mapeamento feito pela Embrapa de 7 milhões de hectares de novas áreas para cultivo de cana no país. A Embrapa tem ainda 50 polos de desenvolvimento para realizar cruzamento de espécies. “O CTC vai colocar à disposição da parceria seu banco de germoplasma de cana, que é o maior do mundo”, acrescenta Leite.
O projeto conjunto de biotecnologia agrícola buscará um salto nos marcadores moleculares da cana. Com isso, espera-se acelerar a seleção de características desejáveis e indesejáveis na planta. “A Embrapa tem um time de experts nessa área e um laboratório com tecnologia de ponta. Esse suporte será fundamental para o avanço que buscamos”, diz o CEO do CTC.
Os R$ 500 milhões de captação prevista do CTC conta com US$ 100 milhões dos sócios, já aportados. Outros R$ 207 milhões devem ser liberados pelo PAISS (Plano Conjunto BNDES-Finep de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico) e outros R$ 150 milhões devem vir da Finep. “Ambos estão em fase de reestruturação de garantias”, esclarece Leite.