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P&D

Desenvolvimento de gordura suína de laboratório segue mesmo método da carne

TECPAR – Laboratório de Agroquímica – N/F: Cromatógrafo à gás acoplado à espectômetro de massas. (analisa presença de agrotóxicos em alimentos e água) Curitiba, 02-09-19. Foto: Arnaldo Alves / ANPr.
TECPAR – Laboratório de Agroquímica – N/F: Cromatógrafo à gás acoplado à espectômetro de massas. (analisa presença de agrotóxicos em alimentos e água) Curitiba, 02-09-19. Foto: Arnaldo Alves / ANPr.

A antiquíssima banha de porco, ingrediente que já foi elementar na culinária brasileira, está de cara nova. Uma empresa brasileira está cultivando gordura suína em laboratório sem precisar abater o animal.

Inovação e Tecnologia

A startup de biotecnologia Cellva está prestes a concluir uma rodada de investimentos, fechou seu primeiro contrato comercial e almeja mudar a imagem da gordura, o “patinho feio” dos macronutrientes. Sérgio Pinto, CEO e cofundador da empresa, destaca: “Quando a gente fala de consumo de carboidratos, açúcares, vitaminas e proteínas, a gordura sempre fica escanteada, é vista como inimiga. Mas, se você for pensar, a gordura por si só é uma fonte de ácidos graxos essenciais como ômega 9, ômega 3. É energia.”

Criada há apenas dois anos, a startup desenvolveu um método para multiplicar em apenas 21 dias células de gordura retiradas do animal vivo. Tudo acontece em equipamentos chamados biorreatores.

Produção e Ambições

A produção da Cellva hoje é pequena, de apenas 15 quilos por mês, mas a ambição é grande: até 2030, a startup espera que a comercialização de seus produtos salte para 100 mil toneladas. Em tese, toda essa produção pode se originar de um único porco.

A Cellva testa a utilização da gordura em bolos, brownies e salsichas e pretende atender à demanda pelo ingrediente vinda da indústria alimentícia. Bibiana Matte, cofundadora e diretora científica da startup, afirma: “Muitas vezes há falta de gordura no mercado. Há muitos animais, mas com alto índice de proteína, e um índice menor de gordura.”

Desafios e Expansão

O desafio começa na comunicação – explicar a tecnologia e os benefícios por trás da produção – e continua pelo aspecto financeiro, para dar escala à tecnologia. Com um laboratório em Porto Alegre, a Cellva tem se sustentado até aqui com recursos próprios – cerca de R$ 1 milhão – que saíram do bolso dos fundadores.

Para expandir o negócio, desde o começo do ano a Cellva foi procurar investidores no mercado de venture capital. A startup está prestes a fechar uma rodada semente de R$ 9 milhões, que deve se encerrar em agosto. Até agora, já foram captados R$ 6,5 milhões. O investidor-âncora é o fundo Seed4Science, ligado à gestora Fundepar, braço da Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Outros aportes vêm da EA Angels, rede de investidores-anjo do Rio Grande do Sul, e de investidores internacionais, como a ONG ProVeg International e as gestoras Rumbo Ventures, da Espanha, e AIR Capital, da Argentina.

Produtos e Potencial

A startup já está apta a vender microcarreadores e microesferas, sistemas de encapsulamento de alimentos que podem conservar a presença de ingredientes durante o processo de fabricação. Para comercializar a gordura e os ácidos graxos, a Cellva aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Processo de Produção

O modelo de fabricação adotado pela Cellva é similar ao de carne cultivada em laboratório. A produção começa a partir da extração de um pedaço do porco do tamanho de um grão de arroz. Essas células são congeladas em um biobanco, e, a partir daí, todo o processo se desenvolve sem a necessidade de voltar ao animal.

Diversificação de Produtos

A Cellva descobriu que a gordura não seria seu único produto e principal negócio. Outros produtos do processo produtivo, como os ácidos graxos, microcarreadores e microesferas, também têm potencial de comercialização. Os microcarreadores, por exemplo, são muito valorizados na indústria farmacêutica e de biotecnologia.

Parcerias e Desenvolvimento

A startup aproveita o know-how tecnológico de Bibiana Matte e o conhecimento de Sérgio Pinto da indústria alimentícia. Pinto, que teve passagens por grandes empresas como BRF e Pepsico, identificou um potencial inexplorado na gordura. A parceria entre os dois foi fundamental para o desenvolvimento da Cellva, que agora busca expandir seu mercado e oferecer novas soluções tecnológicas para a indústria alimentícia e além.