De olho nas consequências das mudanças climáticas na agricultura, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas irão desenvolver pesquisas para criar variedades de plantas adaptadas a situações extremas. Um prédio, avaliado no valor de R$ 50 milhões, será levantando no Parque Científico da Unicamp para abrigar os laboratórios da Unidade Mista de Pesquisa em Genômica Aplicada a Mudanças Climáticas (Umip GenClima).
Enquanto os recursos para as obras de construção dos laboratórios estão sendo levantados, as pesquisas já começaram. Doze pesquisadores trabalham para encontrar genes que possam ser transferidos para plantas e, com isso, ter variedades resistentes à seca, a variações de temperatura, a altas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, entre outras situações adversas.
A diretoria da Embrapa deslocou pesquisadores com know-how em pesquisas genômicas de outras unidades para auxiliar a escrever os projetos que serão desenvolvidos na Umip GenClima. De acordo com o coordenador da unidade mista de pesquisa e professor da Unicamp, Paulo Arruda, as mudanças do clima impactam principalmente na quantidade e qualidade da produção agrícola.
Nesse ano, por exemplo, os Estados Unidos enfrentaram uma estiagem severa que provocou queda significativa na produção de milho e soja. “Essa unidade foi constituída para investigar, descobrir e colocar as informações para serem utilizadas pela Embrapa no desenvolvimento de novas variedades que se adaptem a regiões afetadas pelas mudanças climáticas”, detalha Paulo Arruda.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Michel Eduardo Yamagishi, as pesquisas serão importantes para o momento em que os problemas das alterações climáticas estiverem na ordem do dia.
“Estamos vendo um horizonte onde as realidades são muitos prováveis. A união entre a Embrapa e a Unicamp é uma preparação para termos condições de enfrentar esse desafio usando as ferramentas mais modernas como biotecnologia, genômica e outras”, explica Yamagishi, que participa do projeto.
Embora as pesquisas na área de biotecnologia e genômica rendam resultados em médio prazo, Paulo Arruda traça metas audaciosas. Em três anos, ele espera ter tecnologias com prova de conceitos e patentes depositadas. Prova de conceito é o termo usado para denominar um modelo prático que possa provar o conceito criado em uma pesquisa.
“Teremos um profissional de propriedade intelectual trabalhando conosco diariamente. Quando tivermos as patentes depositadas e as provas de conceito vamos transferir esse conhecimento para as unidades da Embrapa que trabalharão no desenvolvimento das plantas”, explica o coordenador da Umip GenClima.
Aproximação academia x EPDI
A parceria entre a Embrapa e a Unicamp é inédita no Brasil. Pela primeira vez, uma universidade e uma entidade de pesquisa, desenvolvimento e inovação (EPDI) terão uma unidade mista de pesquisa. “Essa é uma iniciativa pioneira e necessária. Algumas competências estão fora da Embrapa e as encontramos na academia”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Michel Eduardo Yamigishi.
Além de profissionais da Embrapa, alunos e pesquisadores da Unicamp também se envolverão nos estudos. “A Unicamp vai expor seus estudantes a problemas reais que afetam uma das áreas mais importantes do país. Juntando essas duas forças acreditamos que podemos trazer tecnologias realmente competitivas para a Embrapa e para a agricultura brasileira”, avalia o coordenador da Unidade Mista de Pesquisa em Genômica Aplicada a Mudanças Climáticas (Umip GenClima), Paulo Arruda.
Outra novidade do projeto é o baixo custo. Em cinco anos, o coordenador da unidade mista de pesquisa acredita que o prédio com os todos os laboratórios equipados terão custado apenas R$ 50 milhões. De acordo com Paulo Arruda, o valor baixo só é possível graças ao parque de equipamentos e instrumentação disponíveis na Unicamp.