Um novo tipo de sorveteiro deve circular pelas praias brasileiras no próximo verão. Conduzindo um triciclo acoplado ao freezer, ele vai chamar a atenção pela placa preta sobre o “veículo”, sustentada por duas hastes laterais que se ligam ao equipamento. Nele, o resfriamento do sorvete será acionado por energia solar. A novidade da multinacional brasileira Metalfrio, líder nacional em freezers comerciais, com mais da metade do mercado, já tem a Nestlé como interessada.
A nova tecnologia, que promove economia de 50% a 75% em relação ao freezer convencional, ilustra a mais recente tentativa da Metalfrio de aumentar suas vendas com produtos de maior valor agregado, no momento em que suas clientes – as multinacionais de alimentos e bebidas – cortam custos para enfrentar a crise. “Estamos trabalhando para reduzir em pelo menos 25% o preço do freezer que funciona por energia solar”, diz Luiz Eduardo Moreira Caio, presidente da Metalfrio. Hoje, o equipamento custaria mais de R$ 2 mil, o dobro do convencional, usado por ambulantes. Ainda este ano, o novo freezer será ajustado para o patamar de R$ 1,5 mil, diz ele.
A investida da Metalfrio está em mostrar aos clientes que vale a pena investir em um produto mais avançado (e caro), que promova economia de energia no ponto de venda, para garantir diferencial competitivo na hora de o estabelecimento escolher que freezer usar. São as fabricantes de bebidas e sorvetes que compram o freezer e o instalam na loja, em comodato, além de fornecer a manutenção do equipamento. “Há uma luta entre as indústrias para garantir um lugar nos pontos de venda de maior fluxo de consumidores”, diz Caio.
Na estimativa do executivo, existem cerca de 2 milhões de pontos de venda no Brasil. Destes, só 35% têm freezers “proprietários”, que pertencem às fabricantes de alimentos e bebidas. “Isso só mostra o quanto temos de espaço para crescer por aqui”, afirma Caio. Segundo pesquisa feita pela consultoria GfK no ano passado, com 200 consumidores em bares da capital paulista, as propagandas inscritas nas geladeiras de estabelecimentos comerciais influenciam mais na escolha do produto do que faixas, cartazes ou mesas.
Mais da metade do lucro dos seus clientes vem do consumo imediato no ponto de venda, não do produto que o consumidor leva para casa, diz Caio. “Daí a importância de um freezer que gere economia no longo prazo e seja interessante para o varejista, além de ter um design diferente, capaz de chamar a atenção do público”, afirma o executivo, filho do fundador, que entrou na empresa quando tinha 17 anos. Ele não saiu mais da Metalfrio, mesmo com as diversas mudanças de comando da companhia, hoje nas mãos do fundo Artesia, que a levou à bolsa de valores em 2007. Os números de 2011 só serão conhecidos em março, mas o faturamento da Metalfrio está perto de R$ 1 bilhão.
Pelas contas da fabricante, a cada dez pontos de venda, em nove deles há pelo menos um freezer Metalfrio. Na concorrência, estão empresas regionais, como a pernambucana Frican ou a paranaense Gelopar. Os principais clientes da Metalfrio são as multinacionais Unilever, Nestlé, Ambev e Coca-Cola, que são atendidas também no exterior. Cerca de 20% das vendas vêm dos supermercados, que instalam ilhas de refrigeração, como a rede Dia%.
A preocupação ambiental das multinacionais pode ajudar a Metalfrio a conquistar suas metas de aumento do tíquete-médio, não revelado. “Partiu da Nestlé a ideia de acoplar em um triciclo o freezer acionado a energia solar”, diz Rogério Lopes, diretor da unidade de sorvetes da Nestlé no Brasil. “É um carrinho de sorvetes inédito no mundo”, afirma o executivo, ressaltando que a tecnologia não foi desenvolvida com exclusividade para a empresa. “Mas a Nestlé tem interesse em apoiar iniciativas que utilizem fontes renováveis de energia”. O novo freezer está desenhado para trabalhar por nove horas a partir da captação da luz solar e outras 15 a bateria, acionada quando não houver sol.
Outra inovação apresentada pela Metalfrio para a sua linha regular de freezers é o sistema de refrigeração Cassette Next System. Nele, a unidade de refrigeração está concentrada na base do equipamento, que é removível (“cassette”). No caso de reparos, o técnico substitui a peça em menos de 10 minutos, sem a necessidade de levar a máquina ou fazer o conserto no meio da loja.
Este ano, a Metalfrio pretende aumentar a fatia destinada à pesquisa e desenvolvimento, diz Caio, para 3,5% da receita líquida. No geral, esse investimento fica entre 2,5% e 3% das vendas líquidas. Desde o ano passado, 100% dos freezers que saem das suas quatro fábricas mundiais – em Três Lagoas (MS), Turquia, Rússia e México – são equipados com lâmpadas LED, que duram cinco vezes mais e consomem 13% menos energia que as convencionais. Em agosto, começa a operação da nova fábrica, em Vitória de Santo Antão (PE), com investimentos de R$ 30 milhões.