O perfil da matriz energética brasileira não será alterado nos próximos anos com a exploração progressiva de petróleo do pré-sal, afirmou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, em palestra durante o 13º Encontro Internacional de Energia promovido pela Fiesp. “Estamos caminhando para ser o primeiro país exportador de petróleo com uma matriz limpa, porque temos espaço para crescer em todos os segmentos de produção de energia”, afirmou. De acordo com a EPE, que é ligada ao Ministério das Minas e Energia, as fontes renováveis respondem por 44% da oferta interna e devem aumentar para 46% em 2020.
O estudo da EPE prevê uma expansão na produção de petróleo dos atuais 2,2 milhões de barris/dia para 5,3 milhões em 2020, dos quais 2,8 milhões seriam suficientes para abastecer o mercado interno. “Esse excedente de 2,5 milhões de barris/dia dará ao país oportunidades que vão muito além da mera obtenção de divisas. O petróleo reforçará a posição do Brasil no cenário mundial, favorecendo a negociação de contrapartidas comerciais com outros países. Teremos mais facilidade para incluir cláusulas de transferência de tecnologia na importação de bens de alto valor agregado”, avaliou Tolmasquim.
Ele ressalvou que não há motivo para que essa abundância de petróleo e gás interfira nos planos de expansão das fontes de energia renovável, que dão ao país um diferencial reconhecido no mundo todo. O índice brasileiro de 44% de energia limpa é mais de três vezes maior do que os 13,3% da média mundial e supera em quase seis vezes os 7,6% da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – dados de 2009).
A EPE estima uma evolução da capacidade instalada do Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN) dos atuais 117 GW para 173 GW em 2020, um salto de 41,8%. Na geração dessa eletricidade, as fontes renováveis manteriam a mesma proporção de hoje, de 84%. As grandes hidrelétricas, que respondem por 72% do SIN, teriam sua participação reduzida para 65% dentro de nove anos, diferença que seria compensada pelo aumento no desempenho das usinas eólicas, que passariam do suprimento atual de 1% do sistema elétrico para 8% em 2020. As demais fontes de energia elétrica permaneceriam com os mesmos índices de fornecimento de hoje: 7% para os biocombustíveis e 4% para as pequenas centrais elétricas, no caso das fontes renováveis, e 14% para as termoelétricas e 2% para as usinas nucleares, entre as não renováveis.
O estudo mostra que as hidrelétricas respondem sozinhas por 14,7% da matriz energética brasileira, bem acima da média mundial de 2,3%, mas aquém do potencial hidrelétrico do país, que aproveita um terço dos rios. A maior parte desse potencial não aproveitado fica na Amazônia.
“Acho que a construção de usinas na Amazônia são importantes para o país e devemos lutar por elas. Mas não podemos ignorar que as resistências por parte dos ambientalistas serão cada vez maiores”, afirmou Tolmasquim. Já o presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiesp, Rodolpho Tourinho, mediador do encontro, observou que as classes produtoras precisam ser mais firmes e unidas no apoio às usinas na Amazônia, para neutralizar as críticas.
“Estive recentemente em Belo Monte e não vi nenhuma restrição à usina por parte das comunidades locais. Ao contrário, todos lá estão muito satisfeitos com a obra, com o que ela já representa em empregos e em desenvolvimento para a região. Acho que devemos deixar claro o nosso apoio a esse e outros projetos”, declarou.
Se a construção de novas hidrelétricas exigem compensações cada vez mais custosas, a exploração da energia eólica vive um momento diferente. Desde que passou a ser disponibilizada em leilões, poucos anos atrás, a eletricidade gerada pela força dos ventos vem crescendo exponencialmente no país, tornando-se mais competitiva. A produção anual passou de 237 MW em 2006 para 414 MW em 2008, 1.040 MW em 2010, 1.471 MW em 2011 e deve mais que dobrar este ano, segundo a EPE, alcançando 3.135 MW. Com isso, o preço do MW/hora despencou de R$ 306 em 2005 para R$ 169 em 2009, R$ 135 em 2010 e R$ 103 em 2011.
Além de limpa, a energia eólica é complementar à hídrica, pois os ventos aumentam nos meses em que chove menos, de maio a novembro. “A Dinamarca vende energia eólica para a Noruega à noite e compra dela energia hídrica de dia. E o Brasil produz as duas coisas”, disse Tolmasquim.
Outra que faz dobradinha com a hidroeletricidade é a biomassa, produzida de maio a novembro, quando acontece o corte e a moagem da cana. O documento da EPE prevê um salto na produção de etanol, passando dos atuais 27,6 bilhões de litros para 63,1 bilhões de litros em 2020. Com isso, a queima de bagaço, que hoje produz 8,5 GW, passaria a gerar 16,4 GW, com crescimento proporcional do excedente energético exportado para o SIN dos atuais 5 GW para 9,6 GW.
A EPE faz um ensaio também com a energia solar. Como o preço de geração dessa energia ainda é alto no país – embora tenha caído pela metade nos últimos dez anos -, o estudo faz simulações de como ela pode se tornar competitiva. Com um custo médio de R$ 602 o MW/h, a energia solar só é competitiva na área de atuação de dez concessionárias brasileiras, que abastecem 15% do consumo residencial. Com uma redução nos juros do financiamento, o custo cairia para R$ 585 e seria viável para 17 concessionárias, que abastecem 21% das residências. Com isenção fiscal, o preço iria para R$ 549, viável para 28 concessionárias, que fornecem 29% do consumo residencial. Com incentivo de Imposto de Renda, o custo seria de R$ 465, viável para 52 concessionárias, que respondem por 69% do mercado residencial. Com todos esses incentivos, o custo desabaria para R$ 409, viável para 60 concessionárias, que abrangem 98% do consumo residencial nacional.