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H5N1: a ciência no olho do furação - por Gilberto Schmidt, coordenador do Labex-Coreia, na Coreia do Sul

A polêmica sobre os estudos da Influenza aviária (H5N1) levantou uma discussão antiga. Leia o artigo.

Chefe-Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Suínos e Aves
Chefe-Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Suínos e Aves

A polêmica sobre os estudos da Influenza aviária (H5N1) levantou uma discussão  antiga. A ciência é Deus ou o diabo, culpada ou inocente? Os cientistas estão dentro do olho do furacão. A discussão começou dentro da Comunidade Científica. Dois laboratórios rivais estavam fazendo abordagens diferentes para a discussão pública em relação a publicação sobre a criação de cepas altamente patogênicas da gripe aviária, que poderia ser transmitida entre os mamíferos. Numa decisão sem precedentes o U.S. National Science Advisory Board for Biosecurity (NSABB) fez um apelo para uma moratória voluntária sobre a publicação dos estudos, enquanto um debate internacional não fosse realizado para discutir o fururo da área.

Em um comunicado publicado nos sites da Science and Nature, um grupo de 39 pesquisadores que atua na área anunciou uma moratória de dois meses nos estudos que fazem a cepa H5N1 da gripe aviária ser transmitidas entre mamíferos. Um grupo de pesquisadores proeminentes está pedindo para o NSABB reconsiderar a sua recomendação controversa para que duas equipes de investigação omitir detalhes importantes dos papéis na imprensa em Ciência e Natureza.

O debate estabelecido sobre o assunto em questão leva a uma reflexão sobre o papel do desenvolvimento Científico e Tecnológico, voltado para o bem-estar da humanidade, mais complexo do que simplesmente os riscos que esta pesquisa pode gerar principalmente no que concerne ao bioterrorismo. A discussão coloca em pauta o papel dos governos e da iniciativa privada que definem suas estratégias de aplicação dos recursos em P&D, da Sociedade Científica que tem a plena capacidade de avaliar os riscos inseridos nos temas pesquisados, da mídia que tem a responsabilidade de informar a sociedade sobre os caminhos da inovação tecnológica e assim por diante.

A mídia tem papel fundamental neste processo, uma vez que pode ser a grande responsável por nortear tanto as discussões sobre as vantagens e desvantagens de qualquer inovação tecnológica, como pode, através de movimentos populares, mudar o rumo dos investimentos em P&D. Portanto, a ética no jornalismo deve estar em primeiro plano, deixando de lado o sensacionalismo, apenas com vista a ampliar as vendas e (ou) os acessos, hoje on-line. A era da informação, curiosamente desenvolvida pelas ações de P&D pode hoje se tornar o inimigo número 1 da comunidade científica.

A revista Science and Nature acompanhou todos os eventos relacionados com a polêmica da publicação ou não do artigo relacionado ao H5N1. No artigo “Flu Research Ron Fouchier: ‘It’s a Pity That It Has to Come to This”, (20 de janeiro, 2012), o Dr. Fouchier foi muito proativo em discutir os benefícios da pesquisa e, sobretudo, sobre o que está por trás de toda esta controvérsia.

Para finalizar a polêmica que foi lançada, nos resta agora avaliar não só as implicações relativas a este trabalho, mas também sobre a ética no desenvolvimento científico e tecnológico. As inovações tecnológicas podem na maioria das vezes serem analisadas sobre dois primas. No caso do avião, por exemplo, facilitou o dia a dia, reduzindo as distâncias e ampliando os relacionamentos, mas também pode, em frações de segundo, ser usado para aniquilar uma população toda. A descoberta da energia nuclear possibilitou gerar energia limpa, mas produzimos a bomba atômica e os desastres nucleares. Na mais simples das tecnologias a história tem mostrado sempre o “Efeito Colateral”, que é inevitável. A responsabilidade da relação riscos x benefícios esta nas mãos de quem financia e de quem desenvolve a pesquisa. Frear o desenvolvimento científico e tecnológico não vai impedir que àqueles que o desejarem, construam armas das mais variadas fontes e formas. O que precisamos, e o que a ciência ainda não encontrou o caminho, é transformar o ser humano. 

O Labex Corea reuniou uma série de publicações que descreve todo o andamento das discussões relativas ao H5N1. Para saber mais sobre este artigo e os links acesse clique aqui.

Por Gilberto Schmidt, coordenador do Labex-Coreia, na Coreia do Sul.
Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, empresa de pesquisa agropecuária vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Gilberto Schmidt atua agora como coordenador do Labex-Coreia, na Coreia do Sul. Graduado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Schmidt tem mestrado em Genética e Melhoramento pela Universidade de São Paulo, doutorado em Melhoramento Genético Animal pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pelo Center For Food And Animal Research de Ottawa, Canadá. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em genética e produção de aves.