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Combustível

Icone estuda etanol

Estudo do Instituto, que envolve a emissão da CO2 na atmosfera, capacita etanol brasileiro nos Estados Unidos.

O Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) acaba de colher os frutos de dois anos de pesquisa focada na análise das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) associadas à mudança no uso da terra em decorrência da expansão da produção agropecuária no Brasil. Os resultados apresentados pela Environmental Protection Agency – EUA (US EPA) das emissões de GEE do etanol de cana-de-açúcar, no âmbito da legislação referente ao Renewable Fuel Standard (RFS 2), corroboram os resultados obtidos pelo ICONE e submetidos ao EPA no ano passado. 

O RFS2 cria mecanismos para que o consumo de biocombustíveis atinja 36 bilhões de galões (136 bilhões de litros) até 2022 nos EUA. Para ter acesso a tal mercado, porém, os biocombustíveis deverão comprovar critérios e exigências, dentre eles, reduções mínimas de redução de emissão de Gases de Efeito Estufa em relação ao consumo de gasolina. Para ser considerado um biocombustível avançado, é preciso reduzir a emissão de CO2 em pelo menos 40% em relação à gasolina.

Ontem, a EPA divulgou comunicado reconhecendo que combustível originado da cana reduz a emissão de dióxido de carbono em 61% em relação à gasolina, o que significa um novo mercado para o biocombustível brasileiro nos EUA – algo entre 15 a 40 bilhões de litros nos próximos anos. A contribuição do ICONE, que trabalhou em parceria o Food and Agricultural Policy Research Institute (CARD/FAPRI, Universidade de Iowa), foi fundamental para este resultado, que será revertida em conquistas ao setor sucroalcooleiro nacional. 

Os dados preliminares da EPA mostravam que o etanol de cana reduzia em apenas 26% as emissões de CO2. Segundo a EPA, o calculo de emissões de GEE deveria se basear em todo ciclo de vida dos biocombustíveis. Mais especificamente, deveria ser contabilizado no cálculo de emissões de GEE, além daquelas decorrentes do processo de produção agrícola e industrial, as emissões associadas à mudança direta (LUC) e indireta (ILUC) do uso do solo. No entanto, dinâmica de uso do solo é tema de amplo debate internacional, ainda longe de alcançar um consenso sobre a metodologia adequada para calcular tal fenômeno. 

O ICONE vem trabalhando no assunto desde o início de 2008, desenvolvendo uma ferramenta que permite avaliar, quantitativamente, a mudança no uso da terra e as emissões de GEE a partir do crescimento da demanda por alimentos, biocombustíveis e fibras. De acordo com o cenário de simulação realizado com o BLUM (Brazilian Land Use Model), que leva em conta a realidade agrícola nacional,a expansão da cana, decorrente de maior demanda por etanol, acarreta um efeito indireto no uso da terra, porém esse é marginal. 

“Quando o assunto foi exposto à consulta pública, no segundo semestre de 2009, o ICONE apresentou importantes inputs regionais quemostravam que a análise sugerida pela EPA não era adequada para captar a dinâmica da agricultura brasileira”, informa André Nassar, Diretor Geral do ICONE. Não somente a EPA levou em consideração a análise do ICONE, como também fez uso, através do FAPRI, de uma versão do BLUM para apresentar os cálculos divulgados ontem.

Segundo os dados submetidos pelo ICONE à EPA, apenas com os melhoramentos na metodologia de cálculo de uso da terra, a efetiva mitigação de GEE do etanol em relação ao uso de gasolina é de -52% ao invés de -26%. A correção do valor de estoque de carbono acima do solo para a cana melhora as reduções de GEE, chegando a 60%, resultado muito semelhante ao defendido pela EPA.